Título: Acordos renderão ¿ 1,89 bilhão para estados de Minas e do Rio
Autor:
Fonte: Gazeta Mercantil, 26/12/2008, Brasil, p. A4

Rio de Janeiro, 26 de Dezembro de 2008 - A vinda da delegação do presidente francês Nicolas Sarkozy ao Brasil e seus entendimentos com o governo brasileiro deixaram pelo menos dois governadores de estado particularmente satisfeitos: Aécio Neves, de Minas Gerais, e Sérgio Cabral, do Rio de Janeiro. Para ambos, os acordos firmados entre empresas francesas e o governo brasileiro resultarão em investimentos de ¿ 1,89 bilhão em um pólo de indústria aeronáutica, no caso mineiro, e - segundo informou Cabral - em um estaleiro especializado em submarinos, orçado em mais de US$ 3 bilhões, no caso fluminense.

"Estamos falando da construção de um segundo pólo aeronáutico no Brasil", comemorou o governador mineiro, presente no segundo dia de trabalho entre os presidentes Nicolas Sarkozy e Luiz Inácio Lula da Silva, realizado no Rio de Janeiro. "Esse acordo, do ponto de vista de fronteira tecnológica, talvez seja o mais importante que o Brasil assinou nas últimas décadas, depois da criação da Embraer", acrescentou ele. O governador se refere à encomenda das Forças Armadas brasileiras de 50 helicópteros EC 725, de grande porte, à Eurocopter, controladora da Helibras. A empresa, no Brasil, tem 25% do seu capital nas mãos do governo mineiro. Globalmente, faz parte do grupo francês EADS, que detém, ainda, a Airbus, a ATR e a Aviões de Transporte Militar. O acordo está sendo visto como o primeiro de uma série com o governo brasileiro na área de equipamentos espaciais, de defesa e de transporte militar.

Segundo a Helibras, o acordo assinado na última terça feira é o maior contrato de encomendas de helicópteros já realizado na América do Sul. As primeiras entregas de unidades estão previstas para 2010 e elas serão construídas a partir de Itajubá (MG), onde está a fábrica da Helibras.

Aécio Neves classificou o contrato como "crucial ao País" devido à transferência de tecnologia envolvida. "Será o primeiro pólo de fabricação de helicópteros de grande porte da América Latina", enfatizou. Segundo o governador mineiro, o acordo abre a perspectiva de um novo mercado para um produto franco-brasileiro. "Certamente a Eurocopter está olhando para as demais demandas da região, como as da Petrobras, com o pré-sal, e para outros mercados emergentes, a exemplo do Chile, que já demonstrou o seu interesse", afirmou.

O ministro da Defesa, Nelson Jobim, também presente ao encontro dos presidentes francês e brasileiro, fez coro ao governador sobre a importância do acordo. "Ele será a base de um grande mercado nacional para helicópteros. Nós estamos criando uma fábrica de helicópteros de grande porte no Brasil. E Itajubá é só uma parte dele", disse.

De acordo com o ministro, a fábrica exigirá a contratação de mais 500 funcionários pela Helibras, além de outros 5 mil trabalhadores indiretos, por meio de seus fornecedores. O projeto prevê um alto índice de nacionalização dos helicópteros. Segundo Jobim, as turbinas serão feitas pela carioca Turbomeca, uma empresa pertencente ao Grupo Safran especializada no desenvolvimento e produção de turbinas de pequena e média potências para helicópteros. Sem mencionar nome, Jobim adiantou, ainda, que a aviônica, isto é, a parte dos instrumentos do painel de controle dos helicópteros, vai ser feita por uma empresa do Rio Grande do Sul com experiência na área.

A encomenda das Forças Armadas será financiada por um pool de bancos, já equacionado. De acordo com o ministro da Defesa, o empréstimo deverá ser quitado até 2026. Aécio Neves adiantou à imprensa que um sinal de R$ 200 milhões, para dar início aos investimentos, será dado pelo tesouro nacional. "Com isso, esperamos já estar no primeiro trimestre do ano que vem com as fundações da fábrica", revelou o governador.

Aécio Neves considera tão estratégica a criação do pólo aeronáutico do estado que anunciou estar discutindo um conjunto de medidas de estímulo fiscal para levar alguns fornecedores a se instalarem próximos à fábrica de Itajubá. "É uma medida que já foi feita com a Fiat, em Minas Gerais", ressaltou.

Também Sérgio Cabral comemorava, ontem, os entendimentos do governo brasileiro com os franceses. Segundo ele, o estaleiro que está sendo discutido para a construção dos quatro submarinos convencionais e a parte não-nuclear de um submarino nuclear no Rio de Janeiro, em Itaguaí, será estratégico para o futuro do estado fluminense. "Só no estaleiro, durante a sua construção, deverão ser investidos mais de US$ 3 bilhões", estimou.

No caso fluminense, o projeto prevê uma parceria da Marinha com a Odebrecht e empresas francesas no setor nuclear. "Cria-se um parque industrial extremamente importante para o nosso estado. É, portanto, um investimento estruturante", qualificou o governador do Rio de Janeiro. O projeto prevê que o estaleiro retorne ao patrimônio do Estado brasileiro após 20 anos, quando o último submarino tiver sido concluído.

(Gazeta Mercantil/Caderno A - Pág. 5)(Ana Cecília Americano)