Título: Bancos estimam Selic de 12% em 2009
Autor: Feltrin,Luciano
Fonte: Gazeta Mercantil, 26/12/2008, Finanças, p. B1

São Paulo, 26 de Dezembro de 2008 - Uma combinação entre aumento moderado de inadimplência, inflação domada, taxas de juros em queda e atividade econômica em recuperação já a partir do segundo semestre de 2009. Esse foi o quadro composto pela Federação Brasileira de Bancos (Febraban) em sua última pesquisa de projeções e expectativas do ano. "Acreditamos que os efeitos das medidas, principalmente as tomadas no exterior para reduzir os efeitos da crise, comecem a acontecer a partir do segundo semestre de 2009", afirma o economista-chefe da entidade, Rubens Sardenberg.

De acordo com a média apurada em pesquisa com 33 instituições financeiras entre 18 e 19 de dezembro, a taxa básica de juros deve cair dos atuais 13,75% para 12% até o final do próximo ano. A variável mais afetada em relação à pesquisa anterior, divulgada em novembro, foi o câmbio. Refletindo o agravamento da crise, a expectativa da maioria das instituições é de que a moeda norte-americana feche o ano cotada a R$ 2,25, valor bem acima dos R$ 2,07 projetados pelos bancos em novembro. "Em um outro cenário, a depreciação do real deveria alimentar em alguma medida a inflação", diz Sardenberg.

A explicação para isso, segundo o executivo, é simples. "Com o desaquecimento econômico, os valores das matérias-primas estão mais baixos, o que, mesmo com a valorização do dólar, tem fortes reflexos para as perspectivas do IGP-M", exemplifica.

A última pesquisa divulgada em 2008 pela Febraban projeta que o indicador encerrará o próximo ano em 10%. A estimativa dos bancos há um mês era que o IGP-M fechasse 2009 em 11%.

Se, por um lado, deve atuar como um freio às pressões inflacionárias, a crise e a redução do fluxo de capitais global deverão, por outro, representar um claro desestímulo ao comércio mundial.

Embora os bancos consultados pela Febraban estejam apostando na manutenção do saldo estimado para as transações comerciais no próximo ano - para cerca de US$ 14 bilhões - haverá uma forte redução no fluxo comercial. Ele deverá atingir as pontas de exportação e importação e espera-se que alcance US$ 178 bilhões.

Sob controle

O cenário para a concessão de crédito em 2009 continua a ser modificado pelos bancos. Quem mais deve sofrer é a pessoa física, que terá de lidar com a maior seletividade das instituições financeiras na concessão de empréstimos, cujos prazos médios também serão encurtados. "Esse movimento já pode ser percebido com a redução do ritmo de expansão das carteiras de veículos e consignado", lembra Sardenberg.

Dessa forma, a expansão de crédito deve ser bem mais tímida em 2009 do que neste ano, quando o mercado registrou alta de 30%. O saldo total das operações de crédito deve crescer 18%, com expansão de 17% para pessoas físicas e 20,5% para as empresas.

Mesmo com o agravamento da crise, as perspectivas da Febraban para a inadimplência são positivas para o próximo ano. "A retração na atividade econômica e o aumento no nível de desemprego no País ainda estão muito ligados a alguns setores, caso dos exportadores, que estão se ajustando à realidade econômica atual", diz. "Neste cenário, devemos ter um aumento apenas moderado dos níveis de inadimplência, que não compromete a saúde do sistema", projeta o economista.

A Febraban estima que o percentual de devedores deve elevar-se de 4,5% para 4,8% em 2009. Segundo a avaliação de Sardenberg, o que poderia agravar o quadro de inadimplência no Brasil seria a redução sistemática dos níveis de renda e emprego.

Monitorando Obama

A equipe econômica montada por Barack Obama para governar os Estados Unidos em meio à crise está à altura do desafio. Essa é a opinião das entidades consultadas pela Febraban. 70% dos entrevistados considera que o time montado está de acordo com o esperado. Outros 30% disseram que a equipe está além do esperado.(Gazeta Mercantil/Finanças & Mercados - Pág. 1)(Luciano Feltrin)