Título: Banco Central projeta desaceleração do crédito
Autor: Oliveira,Ana Carolina
Fonte: Gazeta Mercantil, 26/12/2008, Finanças, p. B1

Brasília, 26 de Dezembro de 2008 - As novas concessões de crédito caíram 9,4% em novembro na comparação com o mês anterior, passando de R$ 157 bilhões para R$ 142 bilhões. O estoque de crédito, porém, registrou crescimento 2% no período, para R$ 1,2 trilhão, o equivalente a 40,3% do Produto Interno Bruto (PIB), segundo números do Banco Central. A autoridade monetária prevê que o crédito sofrerá uma forte desaceleração em 2009 quando deve crescer 16%, frente aos 31% alcançados neste ano.

O chefe do Departamento Econômico do BC, Altamir Lopes, disse que crescer 16% em 2009 e alcançar 43% do PIB em um ano de retração mundial da economia é um bom resultado. "Crescer 16% não é trivial, é um crescimento forte, principalmente em um ano em de recuperação", afirmou.

No acumulado do ano, o estoque de crédito registra expansão de 29,2% e nos 12 meses encerrados em novembro, alta de 32,8%. Na comparação de outubro com setembro, o estoque total de crédito havia crescido 2,9% e acumulava em 12 meses até outubro, expansão de 34,6%. Já as novas concessões acumulam queda de 1,6% em 12 meses, por conta do recuo de 7,6% no segmento pessoa física, enquanto as concessões a empresas subiram 1,6%.

O volume de crédito para as pessoas físicas ficou estacionado em novembro (0,1%) principalmente por causa do segmento de veículos. No ano, o crescimento nesse segmento chegou a 25%. Segundo Lopes, isso ocorreu porque houve uma desaceleração nas operações de leasing concedido a pessoas físicas.

"Há algum tempo, o leasing (para compra de veículos) crescia muitíssimo. Agora, não cresce, refletindo a queda nas vendas de veículos. Na comparação de novembro deste ano contra novembro de 2007, as vendas (de veículos) recuaram 25%. Não podia se esperar nada diferente na concessão de crédito", afirmou o chefe do Departamento Econômico do BC. O crédito consignado, que acumula alta de 22% nos últimos 12 meses, cresceu apenas 0,1% no mês passado. "O crédito para a pessoa física não reage tão prontamente quanto o crédito à pessoa jurídica." Outro fator que ajudou na redução da concessão de empréstimos foi o aumento do spread bancário para pessoa física, que atingiu 43,6% ao ano em novembro, o maior desde março de 2006.

Em dezembro, a situação não deve melhorar. Números preliminares do BC para o crédito mostram que até o dia 11 o crescimento do estoque foi de apenas 0,7%, com retração de 1,1% no financiamento para pessoas físicas e elevação de 2,1% para as empresas. Na avaliação de Lopes, apesar dos números desfavoráveis em novembro, as instituições financeiras estão voltando a conceder crédito para as empresas. "Se observa uma continuidade de crescimento no crédito, principalmente no crédito voltado para a pessoa jurídica", afirmou.

Inadimplência

Outro fator preocupante na concessão de crédito é a taxa de inadimplência das pessoas físicas e jurídicas, que ficou em 4,2%. Enquanto a inadimplência das empresas se manteve estável em 2,7% em novembro deste ano, houve um aumento dos pagamentos em atraso para as pessoas físicas. As operações com atrasos superiores a três meses subiram de 7,6% em outubro para 7,8% em novembro, acima dos 7% do final de 2007. "Houve uma certa elevação da inadimplência, no que diz respeito à aquisição de veículos. Como os bancos reduziram a concessão de créditos novos, os que permanecem ficam com pior qualidade. O que se espera é que essa inadimplência se estabilize e tudo volte à normalidade", disse ele.

Os juros do cheque especial também subiram no mês passado, passaram de 170,8% ao ano em outubro para 174,8% em novembro. Assim como a taxa de crédito pessoal que estava em 57,5% em outubro e passou para 60,6% em novembro. No geral, os juros para pessoa física subiram 3,8 pontos percentuais em novembro, alcançando 58,7% ao ano, o maior nível desde março de 2006. A taxa para pessoa jurídica caiu 0,4 ponto percentual, passando de 31,6% ao ano em outubro para 31,2% em novembro.

Com Reuters(Gazeta Mercantil/Finanças & Mercados - Pág. 1)(Ana Carolina Oliveira)