Título: Lula e Sarkozy alinham discurso para reunião
Autor: Americano,Ana Cecília
Fonte: Gazeta Mercantil, 23/12/2008, Brasil, p. A6
Rio de Janeiro, 23 de Dezembro de 2008 - O presidente da França e atual presidente do Conselho, Nicolas Sarkozy, e o presidente Luiz Inácio Lula da Silva declararam ontem, durante o 2º Encontro Empresarial Brasil-União Européia, no Rio de Janeiro, que deverão ir ao próximo encontro do G-20, a ser realizado em Londres, em abril, com posições afinadas.
Ambos defendem uma ampla reforma do sistema financeiro internacional, a revisão do papel do Fundo Monetário Internacional (FMI), a necessidade de se tomar medidas econômicas e financeiras para atuar sobre a economia real, a rejeição ao protecionismo nos momentos de incerteza financeira e a necessidade da conclusão da Rodada de Doha. São favoráveis, ainda, ao fortalecimento da cooperação internacional na área de mudança do clima e da defesa das energias renováveis e sustentáveis, entre as quais os biocombustíveis. Na ocasião, Sarkosy declarou seu apoio a Lula para que o Brasil ganhe espaço na governança mundial como membro permanente do Conselho de Segurança da ONU.
"Este deve ser o momento da política", afirmou Lula sobre o próximo encontro do G-20, em Londres. "Precisamos reformar o sistema financeiro internacional. Muitos não podem continuar pagando pela responsabilidade de poucos", acrescentou. Para ele, a parceria Brasil União Européia no curto prazo seria um excelente sinal para a economia mundial. Já um acordo entre Mercosul e União Européia foi considerado por Lula um "desafio à criatividade". "Os avanços nas questões de vigilância sanitária e no setor têxtil são prova do que podemos alcançar", acrescentou em relação às negociações entre os dois blocos.
Em seu discurso inicial, Lula lembrou que a crise mundial chama a atenção para a discussão do papel do estado nacional nas economias. Cunhou de "especulação vergonhosa" a variação do preço do petróleo, que oscilou de US$ 28 a US$ 148 nos últimos meses. Também criticou a possibilidade de instituições financeiras internacionais serem capazes de alavancar o seu patrimônio líquido várias vezes sem qualquer fiscalização. "O presidente Obama tem uma responsabilidade nas costas ao tomar posse", disse. Para o presidente brasileiro, "60% da responsabilidade da crise é dos EUA".
Lula lembrou que a parceria Brasil-União Européia, criada em 2007, tem dado frutos, como o intercâmbio comercial entre as partes, de US$ 77 bilhões anuais, o que representa 22% do comércio internacional do Brasil. "Há um amplo espaço para crescimento e a iniciativa privada tem um papel importante nessa questão", afirmou. "Temos que manter um diálogo condizente com uma parceria que já nasceu madura", falou.
Lula mencionou o Plano Nacional de Mudanças Climáticas, que compromete o País com metas de redução de desmatamento de 71% até 2017 , em relação ao intervalo entre 1996 e 2005, e de 80% até 2020. "Essa contribuição representa o equivalente a menos 4,8 bilhões de toneladas de CO2 emitidos, mais do que todos os países ricos juntos se comprometeram a reduzir em Kyoto", exemplificou.
Da parte do presidente da França, o discurso também foi enfático. Para Sarkosy, a Europa atuar em conjunto com o Brasil não é mais uma questão de opção. "O conservadorismo no mundo é muito forte e a Europa sozinha não poderá levar adiante as mudanças globais necessárias", complementou. "O Brasil é a potência de hoje", argumentou.
Citando as mudanças necessárias à ordem mundial, Sarkosy reclamou da falta de governança do sistema financeiro internacional. "Não queremos mais que os especuladores que nos puseram na posição (de crise) de hoje nos digam o que fazer", reclamou.
Para o presidente francês, a recém-adotada resolução européia de diminuição das emissões de carbono foi um passo importante para a transformação da ordem mundial. "Se nós não fôssemos capazes disso, não poderíamos falar ao Brasil ou à China que precisamos da colaboração desses países", comentou. Ele defendeu a preservação da Amazônia e ofereceu o apoio francês para a questão.
Sarkosy enfatizou, ainda, a necessidade de conclusão da Rodada Doha como uma forma de se evitar a adoção do protecionismo entre as nações. "Não há nada pior do que isso", concluiu.
(Gazeta Mercantil/Caderno A - Pág. 6)(Ana Cecília Americano)
-------------------------------------------------------------------------------- adicionada no sistema em: 23