Título: Operadoras fixas e móveis compartilham seus serviços
Autor: Thaís Costa
Fonte: Gazeta Mercantil, 21/09/2004, Telecomunicações & Informática, p. A-12

A mistura de voz e dados nos telefones fixos e celulares é irreversível. A convergência entre a telefonia fixa e móvel é vista como uma tendência irreversível no mercado de telecomunicações. Para melhor atender ao cliente corporativo, que é o mais rentável e por isso o principal objeto do desejo das operadoras, as teles têm de mostrar criatividade nos serviços e robustez na infra-estrutura física, seja móvel, fixa ou de dados.

Em outras palavras, quem souber criar pacotes inventivos dispondo da mobilidade do celular e propiciando acesso aos sistemas operacionais das empresas vai conquistar e manter o desejado cliente corporativo.

Reunidas em painel intitulado "Telecomunicações como Vantagem Competitiva", que encerrou sexta-feira última em Una (BA) o itMídia Telecom Forum, todas as operadoras presentes ¿ Telefônica, Vivo, Embratel, Claro, Brasil Telecom, Intelig e GVT ¿ foram unânimes em nomear a convergência como foco de seus planos. Porém, poucos exemplos concretos fizeram parte da discussão, deixando evidente que a sinergia entre operadoras do mesmo grupo ou entre parceiros apenas engatinha.

A Brasil Telecom e a Brasil Telecom GSM começarão a atuar em conjunto assim que a operadora celular estrear, o que está previsto para este mês. Valdir Morgado, vice-presidente de estratégia e negócios da BrT, afirmou que o conceito do grupo é de "super carrier", isto é, prover todos os serviços e assim garantir a liderança onde estiver presente. "Estamos nos posicionando nos segmentos de voz e dados nacional e internacional", afirmou Morgado, referindo-se à compra de ativos como a Metrorede e a Globenet, para agregar à sua infra-estrutura fixa novas redes de fibra óptica em áreas metropolitanas e conexão com o exterior.

Quando a BrT GSM estrear, os produtos serão formatados para facilitar ao cliente o uso de um só provedor. Por enquanto, o único produto convergente é um cartão pré-pago híbrido, cujos créditos podem ser queimados no celular, no fixo e no telefone público.

A Claro e a Embratel também têm planos de atuar em conjunto. No entanto, a sinergia aguarda o término da reestruturação da Embratel, negociada há pouco pela mexicana Telmex. Deve assentar também a relação entre as coligadas Claro, AT&T América Latina, Vésper e Star One. "Vamos prosseguir no formato do VipNet", afirmou Sergio Coutinho, diretor da Embratel. O VipNet conecta ramais de telefones fixos e móveis da mesma corporação mediante numeração abreviada e tarifas mais baratas.

"Uma locadora de imóveis para escritórios, por exemplo, promove a comunicação entre funcionários da matriz e filiais espalhadas pelo País com maior agilidade e preços mais baixos do que as tarifas de longa distância normais", exemplificou Guilherme Barreira, diretor de mercado corporativo da Claro, sem citar o nome do cliente.

Barreira esclareceu que as duas estruturas vão continuar isoladas, trabalhando em conjunto quando a situação exigir. "Vai ser como no México, onde a Telmex e a Telcel eventualmente se unem na hora da venda", comparou.

A Vivo tem duas parceiras potenciais, a Telefônica Empresas e a Primesys, afirmou Agostinho Balbino, diretor de clientes nacionais da Vivo. Um dos primeiros formatos de convergência foi a oferta de promoções do 15, o código de longa distância da Telefônica, para os clientes da Vivo.

A Telemar e a Oi, embora tenham estruturas separadas, são controladas pelo mesmo grupo e já começaram a oferecer serviços convergentes. A Norsa Refrigerantes Ltda., distribuidora da Coca-Cola no Nordeste, vem utilizando cinco mil linhas fixas e mil celulares, todos conectados ao PABX virtual provido pela Telemar. "Os funcionários se comunicam como se usassem ramais, e os preços são significativamente mais baixos e comportam tráfego acima da média mensal", afirmou Denise Meza, diretora de soluções para empresas da Telemar. O motorista do caminhão distribuidor avalia crédito e dá baixa no ponto de entrega, utilizando celular integrado ao sistema de dados da empresa. "Para o usuário, é rápido e barato", afirmou Denise. Por dentro da rede, entretanto, a solução é complexa e cara, acrescentou.

Até agora, a atuação convergente está restrita aos 16 estados que compõem a área de concessão da Telemar, mas em janeiro, segundo a executiva, São Paulo vai poder integrar a rede convergente fixa-móvel, pois haverá roaming nos celulares da Oi.

Dada como líquida e certa, a convergência entre tecnologias, serviços e aplicações tem muitas barreiras a transpor antes de ser considerada um sucesso. Na opinião de Luis Minoru, diretor para o Brasil do Yankee Group, algumas definições são complexas mas inevitáveis. "Qual das empresas-parceiras vai abordar o cliente? Qual delas vai bilhetar o serviço? Como será efetuado o reembolso ?"