Título: ONU aprova uso da força
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Fonte: Correio Braziliense, 18/03/2011, Mundo, p. 15

Conselho de Segurança autoriza abate de aviões militares líbios que decolarem para atacar as forças contrárias ao ditador Muamar Kadafi. Brasil, China e Rússia se abstêm na votação

Enquanto as tropas leais a Muamar Kadafi tentavam retomar a cidade de Benghazi, principal reduto do comando rebelde ao regime do ditador, ontem à noite, o Conselho de Segurança da Organização das Nações Unidas (ONU) aprovava a criação de uma zona de exclusão aérea sobre a Líbia, justamente com o objetivo de proteger os insurgentes. Com a decisão do conselho, fica autorizado o abate de aviões líbios que decolarem para atacar as tropas opositoras. A resolução foi apresentada por França, Reino Unido e Líbano e aprovada por 10 votos a favor, nenhum contra e cinco abstenções, incluindo as de Brasil, China e Rússia.

O texto permite ¿todas as medidas necessárias¿ para proteger áreas civis e impor militarmente um cessar-fogo a Kadafi. Pouco depois do anúncio da ONU, o ditador reagiu ao que chamou de ¿um ato flagrante de colonização¿. ¿Isso é loucura, insanidade, arrogância. Se o mundo enlouquecer, enlouqueceremos juntos. Vamos responder. Faremos de suas vidas um inferno, porque estão fazendo isso da nossa. Eles nunca terão paz¿, disse o ditador à emissora de tevê portuguesa RTP.

A decisão do Conselho de Segurança foi tomada depois que as forças de Kadafi retomaram o controle de várias cidades, com ataques aéreos e terrestres nos últimos dias. Para o ditador, a retomada de Benghazi é encarada como uma ¿batalha derradeira¿ contra os rebeldes. Segundo a agência France Press, três fortes explosões sacudiram a cidade ontem à noite. Antes do bombardeio, o comando rebelde havia convocado os insurgentes a guarnecer as baterias de artilharia e mísseis e defender o principal feudo da oposição. Em pronunciamento transmitido pela tevê estatal líbia, Kadafi afirmou que perdoaria os opositores que entregassem as armas.

Posição brasileira No Brasil, o ministro das Relações Exteriores, Antonio Patriota, disse que o país acredita que a solução para a Líbia não deve descartar um ¿esforço de diálogo¿ com Kadafi. Segundo o chanceler, o isolamento adotado por consenso pela comunidade internacional em tão pouco tempo já mostra que a permanência do Kadafi na Líbia será ¿muito difícil¿ nessas condições.

Patriota contou ainda que tem conversado com colegas, como o novo chanceler egípcio, Nabil Elaraby, e Hillary Clinton, que telefonou para o brasileiro na quarta-feira para dar ¿a sua percepção da situação¿. ¿Fiquei muito satisfeito de ouvir da secretária Clinton que os EUA não contemplariam nem favoreceriam ações unilaterais, e tampouco favoreceriam ações de grupos de países externos à região¿, disse. Segundo ele, há um temor na região de que uma intervenção militar, ¿mesmo que motivada pelos mais nobres sentimentos, venha a desencadear ainda mais violência¿.

No início da noite, o Itamaraty emitiu um comunicado para explicar a abstenção na votação. ¿Nosso voto de hoje não deve de maneira alguma ser interpretado como endosso do comportamento das autoridades líbias ou como negligência para com a necessidade de proteger a população civil¿, afirmava o texto. O ministério brasileiro alega que a resolução ¿contempla medidas que vão muito além¿ do chamado da Liga Árabe por uma zona de exclusão aérea.