Título: O carro popular perde a hegemonia
Autor: Sonia Moraes
Fonte: Gazeta Mercantil, 21/09/2004, Transportes & Logísticas, p. A-15

Veículos com motor 1.0 atingem 48,86%, nas vendas a menor participação nos últimos tempos. Os carros populares obtiveram na primeira quinzena de setembro 48,86% de participação nas vendas totais de automóveis. É o mais baixo índice dos últimos tempos. Segundo dados do Registro Nacional de Veículos Automotores (Renavam) divulgados ontem pela Federação Nacional da Distribuição de Veículos Automotores (Fenabrave), dos 55.411 automóveis emplacados nos primeiros 15 dias de setembro - que é 3,94% maior que a primeira quinzena de agosto - 27.073 unidades foram modelos com motor 1.0 e 28.338 unidades de carros não populares, o que representou 51,1% de participação.

Para Mauro Saddi, da Green Automóveis concessionária Volkswagen, a redução da participação dos carros populares nas vendas totais deve-se ao grande foco nas exportações. No entendimento de Saddi a grande escala obtida nas vendas externas teria dado às montadoras condições para reduzir custos de produção nos modelos com motor acima de 1.0.

"Outro fator que desestimula o carro 1.0 é o preço competitivo dos modelos 1.6, que na sua maioria está na lista das promoções das montadoras", acrescenta Saddi.

Com uma diferença de R$ 4.200 entre o VW Fox 1.0 (que custa R$ 25.500 a versão básica) e o VW Fox 1.6 (que sai por R$ 29.700 na versão 1.6) o consumidor prefere levar o modelo 1.6, quando adquire o automóvel por finaciamento. "É que quando se dilui a diferença em parcelas de 24 meses uma diferença, de R$ 200 nas prestações, não é muito grande e o consumidor acaba escolhendo o modelo 1.6, que vem mais equipado e tem maior valor de revenda", diz Saddi.

David Wong, da consultoria Booz, Allen & Hamilton do Brasil, credita o declínio da participação dos carros com motor 1.0 nas vendas totais das montadoras à diferença de preços entre os dois modelos e ao aumento da procura por financiamento que reduz a barreira para se adquirir um modelo com motorização acima de 1.0. "O financiamento - que sofreu baque de participação nas vendas em 2002 e 2003 em troca da compra à vista - voltou a ser procurado e hoje já representa 72% das vendas totais de automóveis", disse Wong.

Esse estímulo ao crédito, segundo o revendedor multimarcas Mauri Missaglia, deve-se à melhora nas condições de financiamentos oferecidas pelos bancos das montadoras. "Nas taxas de juros subsidiadas a diferença das prestações do carro 1.0 para o modelo 1.6 é pequena", diz.

Para Missaglia, a previsão da indústria é ter uma participação menor do carro 1.0 nas vendas, principalmente com o impulso dos modelos bicombustíveis no mercado. Os carros com motor acima de 1.0 - e que podem utilizar dois combustíveis (álcool e gasolina) - têm menor alíquota de IPI em relação ao modelo monocombustível. Já o carro com motor 1.0 não tem alíquota diferenciada. Isso, segundo Missaglia, é mais um fator para a perda de hegemonia do carro chamado de popular, criado na primeira metade da década de 90 pelo então presidente da República Itamar Franco. Apesar de tudo, o carro popular não vai deixar de ser interessante, segundo Wong. "É bom não esquecer que o Brasil é um País de baixa renda".