Título: Governo demora muito em engatar a terceira
Autor: Kleber, Klaus
Fonte: Gazeta Mercantil, 16/01/2009, Opinião, p. A3

16 de Janeiro de 2009 - Queimado de praia, o presidente Lula voltou e retomou seu retumbante discurso e as piadas de ocasião. Mas depois de o governo dar a partida com medidas preventivas logo no início da crise, sua ação passou a evoluir em marcha de desfile. E chegou a vez de o ministro da Fazenda, Guido Mantega, gozar de sua vilegiatura. O ano de 2009 pode começar, afinal, com a posse do presidente Barack Obama na próxima terça-feira, dia 20. Ou, mais terra a terra, depois do anúncio da decisão do Copom no dia seguinte. Pode ser então que alguma coisa comece a acontecer na economia. Por enquanto, o País fica esperando bestificado., ouvindo uma litania de dados negativos, como a onda de demissões no mercado interno e resultados decepcionantes na frente externa.

Vejam o comportamento da balança comercial nesse início quente e chuvoso de 2009. São como algumas folhinhas de chá no pires, que exigem adivinhos para interpretação. A mensagem que transmitem é francamente lúgubre. Nos primeiros seis dias úteis deste ano, a conta de comércio apresentou um déficit de US$ 2 milhões por dia. E os números sobre o movimento de câmbio são desanimadores. No mesmo período, o movimento comercial (fechamentos de câmbio para exportação e importação) deixou um saldo negativo de US$ 510 milhões.

Claro, os preços das commodities continuam despencando, a China já não é aquele mercado que puxava tudo para cima, não há sinais de que a recessão nos países desenvolvidos venha a se abater tão cedo e os novos mercados abertos pelo Brasil não respondem ainda como deveriam. Sim, mas cair no imobilismo neste momento é um erro crasso.

Justiça se faça: parece que só o Banco Central (BC) está trabalhando. Retomou a realização de leilões de dólares para financiamento às exportações, o que pode beneficiar 4 mil empresas. E o presidente do BC, Henrique Meirelles, promete regulamentar até o fim do mês o esquema de liquidação pelo governo de amortizações ou o principal de empréstimos tomados no exterior por empresas brasileiras. Para isso, preetende utilizar US$ 20 bilhões das reservas cambiais, agora em US$ 205,74 bilhões..

Primeiro, teremos a reunião do Copom, que, com grande atraso, pode dar um beliscão nos empresários ou, como não falta quem vaticine, pode ser, ao contrário, outro motivo para tudo permanecer na pasmaceira. Mas vale uma aposta no bem. O Brasil não pode ficar aguardando uma reação mais decidida das exportações até o Carnaval chegar, prevendo o calendário que a terça-feira gorda caia em 24 de fevereiro.

Sem pessimismo, pode-se prever que as importações caiam uns 12% ou até mais este ano, uma vez que o Brasil vai se beneficiar da queda dos preços do petróleo, do qual é importador em termos líquidos e em moeda sonante, como já demonstramos. Além disso, sem medidas protecionistas, pode haver uma substituição natural da importação de matérias-primas, partes e e até mesmo máquinas, se a nova política industrial - ou Política de Desenvolvimento Produtivo (PDP) - for para valer, o que ainda está para ser provado..

Se, de outro lado, os exportadores tiverem o crédito de que necessitam, o Brasil poderia ter um quadro muito mais favorável na balança comercial, o que é essencial para que a conta de transações correntes não vá para o vinagre.

Se, por hipótese, as importações totais neste ano retrocederem 12% com relação a 2008, ficariam em US$ 152,42 bilhões. Se também as exportações recuarem na mesma proporção, elas seriam, em dezembro, de US$ 174,19 bilhões. Neste cenário, a conta de comércio apresentaria um saldo positivo de US$ 21,77 bilhões.

Não é nenhum absurdo e há analistas que projetam um superávit comercial de US$ 20 bilhões neste ano O boletim de mercado Focus projeta bem menos: o superávit não passaria de US$ 14,5 bilhões. Mas, como 2008 comprovou, o forte dos especialistas ouvidos pelo BC para elaboração daquele boletim não são as contas externas. O que eles sempre acertam é a previsão sobre a taxa Selic, hoje em 13,75% e que cairia para 11,75% no fim de 2009. Só dois pontos percentuais em 12 meses. A torcida é que, pelo menos desta vez, os papas do mercado estejam errados. Que Deus nos ajude!

kicker: O Brasil não pode esperar o Carnaval chegar para impulsionar a exportação

(Gazeta Mercantil/Caderno A - Pág. 3) KLAUS KLEBER* - Coordenador de OpiniãoE-mail: kkleber@gazetamercantil.com.br )