Título: MDIC prevê piora no cenário de exportações
Autor: Monteiro,Viviane
Fonte: Gazeta Mercantil, 16/01/2009, Brasil, p. A6

Brasília, 16 de Janeiro de 2009 - O Ministério do Desenvolvimento, Indústria e Comércio Exterior (MDIC) já prevê redução de 20,1% na receita das exportações este ano. É o que revelam as primeiras previsões do órgão anunciadas ontem. Tal cenário é até pior que o traçado por especialistas de mercado. O ministério traçou cinco cenários para as exportações este ano. O mais pessimista prevê queda de receita de 20,1% para US$ 158 bilhões, em relação aos US$ 197,9 bilhões obtidos no ano passado. Se for confirmada, esse seria o menor valor desde 2007, quando a receita atingiu US$ 160,6 bilhões. Enquanto isso, especialistas de mercado apostam em queda entre 10% e 17,6% na receita proveniente das vendas externas este ano - ainda acima de US$ 160 bilhões.

Nas projeções do MDIC foram levadas em conta quedas de 6% da quantidade exportada e de 15% nos preços médios dos produtos embarcados, em relação aos do ano passado, disse o secretário de Comércio Exterior, Welber Barral.

O cenário traçado reflete a depreciação do preço das commodities e a redução da demanda mundial, provocada pela recessão sobretudo de países desenvolvidos, além do arrefecimento da economia da China.

A previsão mais otimista do ministério é de alta de 2,07% para as exportações, para US$ 202 bilhões. Entretanto, esse número seria inviável, segundo avaliou a Associação de Comércio Exterior do Brasil (AEB), diante da atual conjuntura, de queda na demanda mundial e de redução dos preços das commodities.

De acordo com o material divulgado ontem pelo MDIC, houve uma ligeira piora nas estimativas para a quantidade exportada em relação às previsões feitas no dia 2 por Barral, que previa manutenção dos volumes. Segundo o ministério, o volume embarcado deve atingir 441 milhões de toneladas, uma queda de até 6% sobre as 469 milhões de toneladas de 2008, o que seria o pior cenário. O melhor cenário é de 478 milhões de toneladas, uma alta de 8,39%. Se a pior estimativa se confirmar, o volume embarcado atingirá a menor marca desde 2006.

No inicio deste mês Barral assegurou que a quantidade embarcada este ano não cairia e que ficaria nos mesmos patamares de 2008 - ou no máximo repetiria as 462 milhões de toneladas de 2007. Com isso, a queda seria de apenas 4,5%.

O vice-presidente da AEB, José Agusto de Castro, diz que o cenário de queda das exportações traçado pelo governo, de queda de 20%, mostra a realidade atual do comércio exterior mundial, que deve encolher em razão da redução mundial e queda de preços de commodities. A previsão oficial da associação é de exportações de US$ 163,1 bilhões, com baixa de 17,6% sobre o ano anterior. Mas, acrescenta Castro, não há ambiente, pelo menos no momento, de as exportações atingirem US$ 202 bilhões. Ao analisar os cenários traçados pelo ministério, ele disse que os US$ 158 bilhões é o número "mais factível" a ser alcançado na receita das exportações deste ano. E descarta, diante do cenário atual, a probabilidade das exportações chegarem a R$ 202 bilhões. "A não ser que haja uma mudança drástica (positiva) na economia mundial". A AEB prevê importação de US$ 146,03 bilhões este ano, uma queda de 15,7% sobre o ano anterior. Por sua vez, a entidade aposta que o saldo comercial pode cair 30,8%, para US$ 17,12 bilhões. O ex-diretor do Banco Central Carlos Eduardo de Freitas estima queda de até 10% nas exportações neste ano, para US$ 178 bilhões, com saldo de US$ 14 bilhões, em linha com as estimativas da Pesquisa Focus, na qual cerca de 80 economistas apostam em saldo de US$ 14,5 bilhões. Mesmo diante da disparada do dólar ante o real, Freitas, dirigente da consultoria Valora, acredita em alta de 2% nas importações este ano. "As exportações cairão porque o setor exportador foi pressionando pela falta de crédito do mercado, pela redução da demanda mundial e pela baixa do preço das commodities."

Segundo Barral, cada um dos cenários depende do comportamento mundial do comércio no ano. E é levada em consideração a estimativa de preço médio, quantidade e valor exportado pelo Brasil. Além disso, o governo considera em suas projeções a recessão nos países desenvolvidos e na China.

Depois de o preço médio dos produtos exportados ter atingido US$ 422 mil a tonelada no ano passado, o maior dos últimos cinco anos, o ministério aposta que este ano o valor médio deverá atingir US$ 359 mil, no mínimo, o que reflete a queda dos preços, sobretudo das commodities. O melhor cenário traçado pelo ministério mostra que os preços médios dos produtos neste ano ficarão estáveis em relação aos do ano passado.

Para Castro, a forte redução das previsões do ministério para a quantidade exportada deve ser motivada pela perspectiva de queda da atual safra de soja, um dos principais itens de exportação da balança comercial brasileira. A previsão atual é de colheita de 55 milhões de toneladas, sendo que inicialmente se estimava uma produção de 60 milhões de toneladas. A quebra de safra decorre das fortes chuvas no Sul do País.

(Gazeta Mercantil/Caderno A - Pág. 6)(Viviane Monteiro)