Título: Embrapa coopera em 53 acordos internacionais
Autor: Adriana Thomasi
Fonte: Gazeta Mercantil, 21/09/2004, Gazeta do Brasil, p. B-14

Maioria de países em desenvolvimento tem interesse na produção de mandioca, frutas tropicais e grãos. A Embrapa acertou 42 acordos internacionais nos últimos 18 meses, envolvendo transferência de tecnologia, consultoria e treinamento de pesquisadores de outros países na sede da empresa. O diretor-presidente, Clayton Campanhola, diz que nenhum envolve a alocação de recursos - ou o País interessado banca os custos ou busca recursos em instituições.

"Os acordos permitem viabilizar atividades que, sozinho, muitas vezes, o país não teria condições", observa ao assinalar que o foco de interação e integração fica com países da América do Sul, África e Ásia - nesse último caso, especialmente, Índia e China.

No momento, a empresa tem 53 contratos de cooperação externa em execução, no global. Os dois grandes pilares propostos pela Embrapa envolvem ações voltadas a países em desenvolvimento, em especial os africanos. A maioria tem interesse em sistemas de produção e processamento de mandioca, frutas tropicais e grãos, em geral.

A Embrapa Agroindústria Tropical, baseada em Fortaleza, prepara o embarque de uma minifábrica de beneficiamento de castanha de caju para o Haiti. A unidade terá capacidade de processar 200 toneladas de castanha por ano, com rendimento de 44 toneladas de amêndoas e vai gerar 32 postos de trabalho diretos na linha de produção, e perto de 100 no campo.

O acordo prevê ainda a capacitação técnica para procedimentos agrícolas e industriais, incluindo plantio, seleção de materiais genéticos superiores, propagação vegetativa, manejo da cultura e cuidados de colheita, pós-colheita e gestão de negócios. A unidade desenvolve também trabalhos de pós-colheita com a Costa Rica e México. A estratégia envolve o intercâmbio de equipes de pesquisadores dos países para treinamento na área de colheita e pós-colheita de frutas tropicais

Interesses

A troca de conhecimentos interessa ao Brasil, informa Campanhola. Com a China, o País começa a implementar o plano de trabalho de cooperação técnica e científica, assinado em maio, entre a Embrapa e a Academia Chinesa de Ciências Agrárias (Chinese Academy of Agricultural Sciences ¿ Caas), previsto para, até 2006. O acordo define cooperação nas áreas de recursos genéticos, biologia avançada e mecanização para pequenas propriedades. "A proposta envolve troca de material genérico de soja e trigo", diz.

Três pesquisadores da Caas, Mei Tao, Ruzhen Chang e Liqing Wei, já estão no Brasil, com agenda de visitas acertada para até dia 30, quando também acertam os detalhes do intercâmbio de materiais genéticos e as possibilidades de transferência de tecnologias, já desenvolvidas e patenteadas pelo Brasil e pela China.

O grupo vai conhecer unidades da Embrapa no País que trabalham com soja, mandioca e fruticultura tropical. A investida representa desdobramento da missão da empresa à China, em maio passado, quando foi debatido o programa bilateral de cooperação entre as duas instituições de pesquisa, assinado termo de cooperação técnica e científica e o plano para os próximos 3 anos. Os cientistas das instituições trabalham na coleta de materiais genéticos.

Recursos genéticos

De acordo com a Embrapa, a lista de materiais disponíveis para intercâmbio envolve 1.607 acessos de recursos genéticos, distribuídos por 12 diferentes espécies, incluindo abacaxi, amendoim, milho, arroz, trigo, melão, soja, feijão, pimenta e outros. No caso da China a pauta é mais ampla: 1.500 acessos, em 17 diferentes espécies, incluindo cevada, tomate, alface, repolho, caupi, pepino, repolho chinês, mostarda, sorgo e milheto.

O primeiro ano - 2005 - contempla recursos genéticos vegetais como soja, amendoim e arroz, de cada país. Depois, a troca evolui para 500 a mil itens testados nos dois países. A China possui a maior coleção mundial de germoplasma de soja - são cerca de 30 mil acessos - mas os cientistas chineses demonstram interesse nas variedades desenvolvidas pela Embrapa, que se adaptam ao plantio em baixas latitudes e nas variedades com resistência a doenças, a nematóides e destinadas ao consumo humano.

A proposta de intercâmbio possibilita aos especialistas chineses avaliar os bancos de dados da Embrapa, desenvolvidos no projeto Genoma Funcional de Raízes de Soja para identificação de genes de tolerância à seca e resistência a nematóides.

O acordo prevê o repasse de informações sobre a aplicação de biotecnologia nos programas de melhoramento da soja e do arroz chinês, especialmente o híbrido. "Certamente vamos melhorar ainda mais as nossas culturas", diz o presidente da Embrapa.

A investida contempla também o desenvolvimento e teste de máquinas e equipamentos utilizados nas pequenas e médias propriedades chinesas. Ainda este ano, pesquisadores chineses devem desenvolver estudos de prospecção na Embrapa por um mês, e o mesmo deve ocorrer com brasileiros que farão intercâmbio por período semelhante no Caas.

Os caminhos de intercâmbio conduzem também à Índia, que produz 200 milhões de toneladas de grãos/ano, o dobro do Brasil. Clayton Campanhola assinou Memorando de Entendimento com o diretor-geral do Conselho Indiano de Pesquisa Agrícola (Icar), Mangala, país, com limitações de solo e clima e especialistas no tema que interessa ao Brasil .

A Índia com população que ultrapassa 1 bilhão de habitantes, tem um Produto Interno Bruto (PIB) de cerca US$ 450 bilhões, 25% correspondente a agricultura. "Os números fazem da Índia um grande mercado comprador", diz Campanhola. A Embrapa também quer negociar com os indianos germoplasma de bubalinos, caprinos e ovinos, máquinas e equipamentos de pequena escala.

A estrutura de pesquisa sul-africana, correspondente à brasileira, conta com 13 centros de investigação por tema e produto e também faz parte da lista de acordos da Embrapa, de olho avanços na área da vitivinicultura - o vinho da cidade do Cabo alcança mercado internacional.

O memorando de entendimento e elaboração de projetos conjuntos em biotecnologia, hortaliças e fruticultura estão sendo definidos. A Embrapa e o Ministério da Agricultura e Desenvolvimento Rural de Moçambique, iniciaram ações para implementação do projeto de cooperação técnica.

A proposta de Apoio ao Desenvolvimento e Fortalecimento do Setor de Pesquisa Agropecuária da República de Moçambique inclui o novo Instituto de Investigação Agrária. Com a Namíbia, o convênio assinado por intermédio da Agência Brasileira de Cooperação (ABC) do Ministério das Relações Exteriores prevê treinamento nas áreas de frutas tropicais, manejo de solos e hortaliças. Os africanos esperam ajuda na transferência de conhecimento e tecnologia e na produção de alimentos suficiente para alimentar a população e gerar excedente para exportação.

Avanços na agricultura

Campanhola, que esteve em Fortaleza para a 11ª Semana Internacional da Fruticultura, Floricultura e Agroindústria (Frutal 2004), diz que o trabalho de melhoramento de culturas da Embrapa garantiu, por exemplo, a colheita de trigo e cevada no Cerrado.

"É uma conquista importante, porque são culturas de inverno que estão sendo tropicalizadas, adaptadas ao clima quente", observa, numa referência ao plantio no Centro-Oeste, que também produz uva. "O algodão colorido, da Paraíba, é outra possibilidade."

kicker: Parceria com a China envolve troca de material genético da soja e trigo

kicker2: Brasil quer da Índia técnica com bubalinos, caprinos e ovinos