Título: Leilão da ANP vende 54 dos 130 blocos terrestres ofertados
Autor: Lorenzi,Sabrina
Fonte: Gazeta Mercantil, 19/12/2008, Infra-Estrutura, p. C3

Rio de Janeiro, 19 de Dezembro de 2008 - Apesar da crise internacional e da queda livre da cotação do petróleo, o governo conseguiu leiloar 41,5% das áreas exploratórias oferecidas na 10ª Rodada de Licitações ontem - a melhor taxa dos últimos cinco leilões. Levantamento feito a partir de dados da Agência Nacional do Petróleo ( ANP) mostra que 21% dos todos os blocos licitados até hoje ao mercado foram concedidos às empresas. Em dez rodadas anuais, 3.513 blocos foram licitados e 745 concedidos.

Petrobras, Shell, Galp, Partex e mais 13 companhias de médio e pequeno porte levaram 54 dos 130 oferecidos ontem. As empresas esperam que o preço do petróleo se recupere em patamares entre US$ 70 e US$ 80 no próximo ano. Para o presidente da petroleira independente Comp, Celso Carvalho Magalhães, o negócio de petróleo continua rentável. "A queda no preço do petróleo é sazonal. Provavelmente vai voltar para pelo menos US$ 70 no próximo ano".

E, mesmo que o preço não suba neste patamar esperado, a empresa trabalha com preço de US$ 35 para iniciar projetos, sendo que os custos por barril em algumas bacias é bem menor. Na bacia do Recôncavo Baiano, por exemplo, o custo de produção varia de US$ 3 a US$ 15 de acordo com os empresários.

Dos 21 blocos oferecidos na bacia do Recôncavo Baiano, 11 foram arrematados. Além da Petrobras, Synergy, Severo, Alvorada, Silver Marlim e Comp vão explorar novas áreas na região ofertadas ontem. Em parceria com Cemig, Cotemig e Delta, a Comp entrou forte na 10ª Rodada. A empresa levou seis áreas ontem e já possui 11 de rodadas anteriores. As bacias de Potiguar e Sergipe-Alagoas também atraíram as chamadas independentes.

Representante da Nord Oil, o executivo Flávio Barreto também manifestou uma visão positiva do leilão. A empresa encontrou petróleo em dois blocos já sob concessão na bacia de Sergipe-Alagoas e decidiu se expandir na região, arrematando um bloco próximo. A empresa também possui áreas na bacia do São Francisco.

O consultor John Forman, ex-diretor da ANP, avalia que o leilão cumpriu o papel a que se dispunha: "oferecer oportunidades às empresas médias e pequenas também". Outro objetivo alcançado e comemorado pela agência foi o apetite das companhias também por áreas de novas fronteiras, pouco conhecidas pelas empresas. Mesmo sem grandes estudos, os seis blocos oferecidos na bacia de Parecis, no Mato Grosso, foram todos arrematados. A Petrobras vai realizar estudos de sísmicas em cerca de dois mil quilômetros na região, de acordo com Francisco Nepomuceno, gerente de exploração e produção da empresa. O diretor-geral da ANP, Haroldo Lima, comemorou a retomada das atividades exploratórias no estado do Mato Grosso e fez um balanço positivo da 10ª Rodada."Se a dificuldade fosse tão grande como dizem alguns, não haveria essa participação tão forte de empresas", afirmou. Lima frisou que a rodada levantará investimentos totais de R$ 700 milhões em atividades de exploração. O ministro interino de Minas e Energia, Márcio Zimmerman, avaliou o resultado como "muito bom". Entre a rodada de ontem, segundo dados da ANP, e a terceira rodada, em 2002, foi o último leilão com maior apetite das empresas em relação ao número de áreas ofertadas. Cerca de 64% das áreas oferecidas foram concedidas. Desde então, a quarta rodada, com 38,9%; a quinta, com 11,1%; a sexta, com 16,9%, a sétima, com 21,2%, oitava (21,2% e Nona (39,9%), ficaram atrás da décima rodada.

Na bacia do Amazonas, quatro das sete áreas foram leiloadas, pela Petrobras e a empresa STR. A bacia do Paraná, com poucos dados geológicos, foi pouco procurada. Apenas uma empresa se interessou (a STR também). Outra bacia procurada, São Francisco atraiu a Shell, surpreendendo aos presentes.

Pela primeira vez, a Shell vai explorar áreas terrestres. A gigante anglo-holandesa, que possui blocos no pré-sal de Santos, arrematou seis áreas na bacia do São Francisco, onde aposta no potencial de gás natural na região com base em estudos geológicos preliminares. O gerente da empresa Flávio Rodrigues confirmou que a empresa está tentando encontrar reservatórios do pré-sal em outras bacias além de Santos, mas ponderou que ainda é cedo para falar em indícios. "Estamos felizes por termos conseguido arrematar seis blocos em São Francisco, os primeiros da Shell em terra", afirmou o executivo.

A Petrobras arrematou metade das áreas concedidas no leilão de ontem. Foram 27 áreas, com investimentos previstos da ordem de R$ 200 milhões para explorar e desenvolver os blocos, de acordo com o gerente-executivo de exploração e produção, Francisco Nepomuceno. Para levar as áreas, a companhia brasileira desembolsou R$ 39 milhões, dos R$ 89 milhões que a União arrecadou ontem com a oferta de 48 mil áreas para exploração petrolífera.

(Gazeta Mercantil/Caderno C - Pág. 3)(Sabrina Lorenzi)