Título: Chávez defende novo sistema financeiro
Autor: Filho,José Pacheco Maia
Fonte: Gazeta Mercantil, 18/12/2008, Internacional, p. A14

Costa do Sauípe (BA), 18 de Dezembro de 2008 - O presidente venezuelano Hugo Chávez defendeu que a Cúpula da América Latina e Caribe sobre Integração e Desenvolvimento (CALC) seja anual, podendo até substituir algumas outras, que, segundo ele, não tem mais sentido. O chefe de estado venezuelano evitou polemizar sobre a disputa entre ele e Lula pela liderança regional. "Perde tempo quem se preocupa com isso", afirmou. Para ele, a liderança da América Latina e Caribe deve ser exercida pelo povo.

Chávez propôs que, no âmbito político, a CALC se reúna todos os anos, integrando todas as comunidades do Rio Bravo à Patagônia. "Vamos dar forma a esse mundo no âmbito político".

Para Chávez, é preciso discutir um sistema monetário, comercial e financeiro regional e não esperar que os Estados Unidos alterem o modelo de Bretton Woods. Citou o Sistema Único de Compensação Regional (Sucre), que vem sendo discutido na Alba, como exemplo. Propôs a criação de uma conta comum com câmara de compensação de pagamento com fundo financeiro. Disse que bastaria 1% das reservas internacionais de todos os países latinos americanos e caribenhos, que somam atualmente US$ 500 bilhões, para a criação de fundo financeiro próprio, controlado por acordo de comércio.

Propostas

O presidente da Bolívia, Evo Morales, destacou nas cúpulas realizadas em Costa do Sauípe o ingresso de Cuba no Grupo do Rio. "Desde o momento em que falta um país, não é democracia". Lembrou a exclusão de Cuba da Organização dos Estados Americanos (OEA), no início dos anos 1960. "Por vontade norte-americana, Cuba foi expulsa por ter uma linha marxista-leninista e integrar o bloco comunista".

Morales defendeu a volta de Cuba à OEA, sugerindo ainda a exclusão dos Estados Unidos. Conclamou solidariedade ao país cubano e propôs o fim do bloqueio econômico e financeiro dos Estados Unidos ao país caribenho.

O presidente boliviano chegou a sugerir um prazo para que os norte-americanos suspendessem o embargo. "Se não suspenderem, devemos suspender em nossos países seus embaixadores ou não comprar nem vender aos EUA até a suspensão do bloqueio", afirmou. Para Morales, as crises financeira, ambiental, alimentar e energética são culpa do capitalismo.

"O capitalismo está destruindo o mundo e temos dois caminhos: mudar o capitalismo ou impulsionar novos movimentos revolucionários em nossos países. As imposições de fora e de cima não têm sido soluções", afirmou Morales, fazendo referência às orientações do Fundo Monetário Internacional (FMI) e Banco Mundial, que, para conceder empréstimos à Bolívia, exigiu a privatização das refinarias.

Morales propôs a reestruturação do sistema financeiro internacional. Para viabilizar a proposta, ele disse ser preciso acelerar a implantação do Banco do Sul, proposta do venezuelano Hugo Chávez de dispor parte das reservas internacionais num fundo que financiasse o desenvolvimento da região.

A presidente argentina Cristina Kirchner propôs a construção de um sistema de decisão para a região que permita resultados concretos. Para ela, a crise econômica e financeira que assola o mundo é de ordem política, resultado de um sistema de decisão restrito a poucos países. "Mais grave do que regras ruins é viver em mundo em que as regras sejam cumpridas apenas pelos países mais fracos. Curioso é que essas mesmas regras nunca são aplicados aos EUA, que são os causadores da crise", avaliou a presidente argentina. Segundo ela, a recessão americana começou em 2007, mas fóruns internacionais e empresas de avaliação de riscos sempre procuraram crucificar os países da América Latina.

(Gazeta Mercantil/Caderno A - Pág. 14)(José Pacheco Maia Filho)