Título: Banco Central não faz parte do governo, diz Miguel Jorge
Autor: Vizia,Bruno De
Fonte: Gazeta Mercantil, 16/12/2008, Brasil, p. A4

São Paulo, 16 de Dezembro de 2008 - A autonomia do Banco Central (BC), que na semana passada contrariou pedidos de diversos setores da sociedade e manteve a taxa básica de juros (Selic) em 13,75% ao ano, levou o ministro do Desenvolvimento, Indústria e Comércio, Miguel Jorge, a afirmar que não considera o banco parte do governo. "Se o BC fosse governo, o presidente Lula daria uma ordem e ela seria cumprida", afirmou o ministro, evidenciando a discrepância entre o discurso do presidente e a decisão do órgão.

Miguel Jorge ressaltou, entretanto, a "independência de fato" do Banco Central, e argumentou que questionar essa independência seria um retroceder a uma discussão "de sete ou oito anos atrás". O ministro falou após evento organizado pelo Grupo de Líderes Empresariais (Lide), em que destacou a " atenção do governo" para com a crise internacional e suas conseqüências no Brasil.

Ele afirmou não ter condições éticas de comentar a política monetária do governo, mas criticou veladamente a decisão do BC de não baixar os juros, ao se dizer contrário a medidas que prejudiquem o comércio, a indústria e as exportações. Nesse campo, o ministro frisou que não será possível atingir os R$ 202 bilhões em exportações previstos anteriormente para este ano, mas que o País deverá alcançar algo próximo ao valor estimado, "muito perto dos R$ 200 bilhões".

O ministro salientou alguns dos bons números alcançados no País em 2008, e citou a compra da divisão de caminhões e ônibus da Volkswagen pelo grupo alemão MAN Aktiengesellschaft como claro movimento de confiança na economia brasileira. Miguel Jorge acrescentou que muitos empresários que se reuniram com o presidente Lula na semana passada também demonstraram otimismo com a economia brasileira em 2009. Ele destacou o aumento da formação bruta de capital fixo ( investimentos) que alcançou 20,4% do PIB no terceiro trimestre deste ano, e avaliou que em 2009, após um período de turbulência, o investimento deverá ser mantido nos mesmos patamares verificados este ano.

Mercado automotivo

O aumento médio de 30% nas vendas de automóveis neste final de semana, por conta da redução do Imposto sobre Produtos Industrializados (IPI) para veículos também foi destacado pelo ministro como um sinal de que o governo está agindo para retomar o crescimento do País. "Situações de crise exigem medidas de crise", frisou, acrescentando que houve um acordo verbal, "de cavalheiros" entre montadoras e governo para que a redução no IPI se traduzisse em manutenção de empregos. "As montadoras entenderam, e acredito que elas vão ajudar", disse.

O ministro considerou que a venda de carros novos auxilia o comércio de veículos usados, "pois as pessoas vendem seus carros antigos para comprar novos com bons preços", mas acrescentou que o governo está capitalizando os pequenos e médios bancos, "que são os principais financiadores da compra de carros usados".

(Gazeta Mercantil/Caderno A - Pág. 4)(Bruno De Vizia)