Título: Propostas contra demissões dividem entidades sindicais
Autor: de Vizia,Bruno
Fonte: Gazeta Mercantil, 12/01/2009, Brasil, p. A6

São Paulo, 12 de Janeiro de 2009 - Com a maior parte dos empregados das fábricas ligadas ao setor automotivo voltando ao trabalho hoje, após o fim das férias coletivas concedidas no final do ano passado, os sindicatos começam a discutir alternativas que evitem um grande número de demissões. Entretanto, as medidas a serem adotadas dividem as duas maiores centrais sindicais do país, a Força Sindical e a Central Única dos Traba-lhadores (CUT).

As entidades, que ensaiaram uma aproximação em 2008 após anos de divergências políticas, voltaram a campos opostos na proposição de alternativas aos cortes de vagas. O presidente da Força Sindical, Paulo Pereira, admitiu até, em último caso, a redução da jornada com diminuição de salários, "dependendo da situação da empresa, e desde que haja uma negociação prévia entre a empresa e os trabalhadores, e com o sindicato".

Outros recursos propostos por Pereira são as licenças remuneradas, férias coletivas, e redução das horas trabalhadas, destacou o sindicalista em reunião com o presidente da Federação das Indústrias do Estado de São Paulo (Fiesp), Paulo Skaf, realizada na última sexta-feira. A Força Sindical estima que, caso não sejam tomadas medidas de contenção, poderá haver uma "enxurrada de demissões" com potencial de atingir até 3 milhões de empregos no primeiro trimestre, o que equivaleria a 10% do total de empregos com carteira assinada no País.

Já Artur Silva, presidente da CUT, considerou este número "alarmista e catastrófico", e refutou a redução de jornada com corte de salários como alternativa à demissões. "Nossa avaliação é que a cada 1% de redução do PIB (Produto Interno Bruto) equivale a 400 mil empregos perdidos ou não-gerados", afirmou, acrescentado que "mesmo que haja uma redução de 2% no PIB de 2009, por exemplo, estaríamos falando em 800 mil empregos perdidos, não em 3 milhões". Ele avalia que as principais alternativas que os empresários dispõem antes de demitir são a utilização de bancos de horas, férias coletivas por períodos maiores durante a crise, diminuição de horas extras e redução de custos dos contratos de terceirização.

Silva considera que é necessário avaliar qual a real situação financeira das empresas antes de discutir medidas, pois "várias destas empresas obtiveram redução de impostos e tributos por parte dos governos estaduais e federal, e tem acesso a financiamentos em bancos públicos, e agora elas têm que dar contrapartida de garantia de emprego, se realmente utilizaram desses benefícios". Ele criticou a proposta de acordo feita na reunião entre Fiesp e Força Sindical, afirmando que "o problema dos acordos ""guarda-chuva"" é que eles trazem para uma mesma negociação empresas diferentes, que foram impactadas de maneira diferente pela crise".

Paulo Pereira destacou que será realizada uma nova reunião amanhã, na Fiesp, que deverá contar com outros sindicatos e com mais empresários, para avaliar "todas as medidas possíveis, dentro da lei, para evitar demissões". A diretoria da CUT se reúne hoje, e na pauta de discussões deve avaliar se participará ou não da reunião de amanhã. Mas Silva já adiantou que não comparecerá "se não houver fato novo, pois para discutir o que já está previsto em lei não precisamos estar lá e participar".

(Gazeta Mercantil/Caderno A - Pág. 6)(Bruno de Vizia)