Título: Agronegócio na bolsa manterá lucro em 2009
Autor: Batista,Fabiana
Fonte: Gazeta Mercantil, 02/01/2009, Agronegócio, p. B9

São Paulo, 2 de Janeiro de 2009 - O furacão que atingiu o mercado financeiro em 2008 não deixou imune nenhuma empresa do agronegócio listada na BM&F Bovespa. As ações de todas perderam valor ao longo de 2008, umas mais outras menos do que o Ibovespa, mas todas desvalorizaram-se. A diferença entre cada caso está, principalmente, na condição de liquidez e no nível de endividamento. Estes indicadores de algumas companhias, outrora considerados razoáveis, tornaram-se preocupantes após o enxugamento do crédito mundial. A boa notícia é que, apesar das desvalorizações, do ponto de vista operacional, essas empresas continuarão obtendo lucro. "Essas companhias produzem itens alimentícios, de primeira necessidade, e vão continuar lucrando operacionalmente", avalia Peter Ping Ho, analista da Planner Corretora.

Entre 28 de dezembro de 2007 e 30 de dezembro de 2008, as ações do agronegócio que tiveram menor perda foram as da SLC Agrícola (-14,91) e as do JBS Friboi (-17,72%). Ping Ho explica que no caso do JBS Friboi a empresa conseguiu se capitalizar antes da crise - com uma segunda emissão de ações - para fazer frente ao pagamento de suas aquisições. O mesmo ocorreu com o Grupo Marfrig que também conseguiu captar recursos com emissões antes do agravamento da crise. Ainda assim, os papéis dessa empresa em 2008 recuaram 50,82%, acima do Ibovespa no período (-41,22%). O frigorífico Minerva (-82,95%) teve a maior desvalorização entre as ações do seu segmento e de todo o agronegócio, perdendo apenas para a Laep Investiments (-94,51%), controladora da Parmalat e que está em recuperação judicial. "Temos que considerar que o Minerva foi um dos últimos entrantes na bolsa o que o torna mais suscetível à desvalorizações", explica o especialista.

Além da JBS Friboi e da SLC Agrícola, somente a Perdigão

(-31,71%) e a Brasil Agro (-30,96%) tiveram menor perda no valor de suas ações do que o Ibovespa.

Os papéis da Sadia, que chegaram a atingir no ano o auge R$ 14 em 28 de maio, tiveram forte perda depois do anúncio de prejuízos com derivativos cambiais e fecharam em ínfimos R$ 2,79 em 21 de novembro (queda de 80%). Desde então, foi avaliada como oportunidade pelo mercado e fechou o último pregão de 2008 em R$ 3,75, alta de 34% em relação a 21 de novembro, mas ainda em forte desvalorização no ano (-61,9%). "A tendência é que as empresas fortes em frango, como Sadia e Perdigão, sofram menos com queda consumo do que as que atuam mais fortemente em carne bovina", avalia Ping Ho.

Altos preços para açúcar?

No setor sucroalcooleiro, o pior desempenho de ações em 2008 foi da Açúcar Guarani. Nos últimos doze meses, os papéis da companhia recuaram 80,32%. Mas Cosan S.A também teve forte recuo (-44,76%), assim como a Cosan Limited (-61,63%) e o grupo São Martinho (-54,65%). O especialista da Planner explica que a desconfiança do investidor com as empresas deste setor está no fato de que não houve a recuperação de preços esperada em 2008 e também há dúvidas se isso vai acontecer em 2009.

Ele explica que as empresas estão entrando o ano com estoques altos de açúcar, contando com um pico no preço para cima por conta do déficit mundial previsto de 2 milhões de toneladas. "Essa recuperação dos preços não vai ocorrer. Temos uma desaceleração da economia na Europa e na China. Além disso, a capacidade de investimento deste setor está baixo, e as empresas terão que liquidar mais estoques do que imaginavam para fazer caixa, o que vai atrapalhar a estratégia de segurar estoque para sustentar os preços", afirma Ping Ho.

Ele acredita que uma recuperação dos preços da commodity vá ocorrer apenas em 2010. "Isso vai depender da retomada da economia mundial". A indicação da Planner para os papéis deste setor é de manutenção. "As ações já foram muito depreciadas neste ano. Em 2009 não devem sofrer grandes impactos".

(Gazeta Mercantil/Finanças & Mercados - Pág. 9)(Fabiana Batista)