Título: Recorde de aprovações consolida nova fase
Autor: Tenório,Roberto
Fonte: Gazeta Mercantil, 02/01/2009, Agronegócio, p. B10

São Paulo, 2 de Janeiro de 2009 - O volume recorde de aprovações de Organismos Geneticamente Modificados (OGMs) em 2008 indica a entrada da agricultura nacional em uma nova fase. No total, foram cinco variedades de sementes e três vacinas aprovadas comercialmente pela Comissão Técnica Nacional de Biossegurança (CTNBio). Na gaveta para análise em 2009 estão outras sete variedades. O próximo dessa lista provavelmente será o inédito arroz tolerante a herbicida, que passará por avaliação no início do ano. Além das novas tecnologias, especialistas afirmam que os investimentos em infra-estrutura tiveram atenção especial, sendo considerados, em alguns casos, os maiores em mais de 10 anos. A contratação e formação de novos profissionais também deverá ganhar espaço.

A vocação agrícola do País e a busca por maior produtividade com menores custos atraíram grandes multinacionais, resultando em fusões e aquisições para utilizar a plataforma já construída em setores como o sucroalcooleiro, um dos mais promissores no melhoramento genético.

"O governo federal já possui planejamento estratégico para tecnologias na área industrial, de saúde animal e agrícola até 2025. Sem contar os programas de formação e colocação profissional de jovens cientistas, capacitando-os como homens de negócios preparados para negociar novas descobertas", destaca Alda Lerayer, diretora-executiva do Conselho de Informações sobre Biotecnologia (CIB). Ela afirma ainda que não há dúvidas sobre o volume de investimentos em 2008. "Com certeza foram os maiores dos últimos anos", completa. Alda acredita que além de indicar as novas fronteiras da ciência, esses investimentos ajudam na transferência de conhecimento. "Os cientistas que se aposentam podem repassar os estudos sem maiores problemas".

O diretor-geral do Instituto Agronômico de Campinas (IAC), Marco Antônio Teixeira Zullo, também reitera que um dos maiores desafios na área de pesquisa é a reposição no quadro de pessoal. "Mesmo com o acréscimo crescente em investimentos, esse é um dos maiores desafios a superar". Ele acrescenta que existe boa vontade por parte da Secretaria de Agricultura e do Governo do Estado de São Paulo para resolver a questão, mas ainda é grande a dificuldade para repor profissionais aposentados, exonerados ou que acabam falecendo.

A Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuária (Embrapa) contou com R$ 1,3 bilhão para custeio e pesquisa em 2008. O Programa de Crescimento e Fortalecimento da estatal deverá ampliar em 11,5% os recursos para 2009 e atingir R$ 1,45 bilhão. Para o próximo ano, a expectativa é que sejam contratados 1,2 mil pesquisadores, além dos investimentos na modernização de laboratórios e compra de máquinas. Geraldo Eugênio de França, diretor-executivo da Embrapa, diz que há uma parceria com uma empresa pública japonesa para o desenvolvimento de variedades resistentes à seca. "A partir de 2015, teremos testes com cana-de-açúcar, milho, algodão e feijão. O desenvolvimento da biotecnologia é fundamental para o agronegócio nacional". A estatal ainda possui parceria com a alemã Basf e a americana Monsanto no desenvolvimento de variedades de soja OGM com tecnologia 100% nacional. A previsão é que a tecnologia chegue apenas em 2011.

A busca por maior rentabilidade abre espaço para o crescimento dos transgênicos no mundo. Na União Européia, a área plantada do milho resistente a insetos cresceu 21% neste ano e atingiu 107,7 mil hectares em sete países: Espanha (com mais de 70% dessa área), Romênia, Alemanha, República Checa, Polônia, Eslováquia e Portugal, segundo a Associação Européia das Indústrias de Biotecnologia (EuropaBio).

Além dos recursos do Governo, o IAC recebeu investimentos externos - de parcerias com a iniciativa privada e das agências de fomento - no total de R$ 20 milhões, até outubro de 2008.Na comparação com o mesmo período do ano passado, o crescimento desses recursos foi de 25%. "Para 2009, a expectativa é que cresça pelo menos 12%", afirma Zullo. No entanto, ele lembra que a crise pode produzir alguns reflexos nesse montante. "A crise econômica poderá apresentar reflexos, por exemplo, no Programa Cana IAC, que é um dos maiores captadores de recursos externos. Mas, por outro lado, haverá acréscimo na área de citros, outra que se destaca na recepção de investimentos. O Centro de Citros do IAC receberá, em 2009 e 2010, cerca de R$ 7, 2 milhões", completa o diretor.

Em 2008, o instituto recebeu R$ 40 milhões em recursos orçamentários, um aumento de 30%, comparando com 2007. Segundo o diretor, esse acréscimo foi aplicado em recursos humanos, incluindo a contratação de pesquisadores e servidores de apoio. Em 2009, também do Governo do Estado, o IAC receberá um valor orçamentário para investimento, cerca de R$ 3 milhões para modernização e revitalização do Instituto.

Antônio Batista Filho, diretor do Instituto Biológico, afirma que o crescimento dos investimentos é impulsionado pela busca de produtos agrícolas rastreáveis e com sanidade garantida. "A exigência internacional faz com que o País aumente os investimentos para competir lá fora. Sem isso, podem surgir obstáculos que provoquem grandes prejuízos". Em 2008, foram investidos R$ 2 milhões além do orçamento entre adequação de laboratórios e outros itens. "Já fazia de 12 a 15 anos que não recebíamos um investimento desses", disse. Para 2009 a expectativa é que os investimentos atinjam R$ 3 milhões, crescimento de 50%. "Será utilizada a tecnologia de diagnóstico molecular, que permite identificar com mais rigor e rapidez algumas doenças em animais e vegetais".

(Gazeta Mercantil/Finanças & Mercados - Pág. 10)(Roberto Tenório)