Título: Siderúrgicas apresentam queda de até 49,7% no valor das ações
Autor: Collet ,Luciana
Fonte: Gazeta Mercantil, 02/01/2009, Indústria, p. C5

São Paulo, 2 de Janeiro de 2009 - As empresas siderúrgicas brasileiras - que começaram 2008 com crescimento na produção, nas vendas e no valor de suas ações - encerram o ano com redução de até 50% no valor da ações. Reflexo do momento adverso que têm vivido desde setembro, com tamanha queda na demanda que obrigou as empresas a cortarem produção . Essa reversão do cenário fez as corretoras revisarem para baixo a estimativa de preço para as ações das empresas, embora considerem que os valores atuais estão abaixo do potencial.

Para bancos e corretoras que acompanham o setor, as vendas de produtos siderúrgicos no País devem cair em 2009 devido ao cenário de retração na atividade industrial e da construção civil no Brasil e de um recuo nas exportações. De fato, em novembro, as vendas de aço ao mercado nacional caíram 24% em relação a igual período do ano passado, para 1,41 milhões de toneladas. No mesmo período, a produção caiu 19,3%, para 2,32 milhões de toneladas.

"O cenário para a demanda interna por aço ainda é sombria e não sugere qualquer recuperação significativa no curto prazo, enquanto aumenta a pressão para baixo nos preços", disseram em nota os analistas Felipe Reis, Alex Sciacio e Victoria Santaella.

A redução se deu acompanhando o movimento dos principais setores consumidores de aço. Com maior dificuldade de obtenção de crédito, os segmentos dependentes de financiamento para realizar vendas, como a indústria automobilística e a construção civil - responsáveis por cerca de 60% do consumo de aço no País - cortaram a demanda de curto prazo por produtos siderúrgicos a partir de setembro, acarretando acúmulo de estoques em toda cadeia do setor.

Na distribuição, para escoar os produtos no curto prazo, as empresas reduziram encomendas junto às usinas e iniciaram um movimento de redução de estoques e dos preços. "Ainda assim, cabe ressaltar que consultorias especializadas em informações do setor siderúrgico mundial têm destacado que mesmo em níveis de preços bastante baixos, os volumes negociados e a quantidade de negócios permanecem significativamente reduzidos", afirmou o Banco Geração Futuro Investimentos em relatório.

Para o Credit Suisse, a produção de veículos deve cair entre 20% e 30% neste ano, o que contribuirá para a redução da demanda por aço. Outros setores consumidores, como construção civil, bens de capital e eletroeletrônicos também devem reduzir a produção, avaliou o banco. "Depois de cinco anos nos quais o setor foi forçado a correr a toda velocidade para manter o ritmo da demanda, a corrida foi abruptamente interrompida", disse em relatório, ao descrever o cenário do setor.

O banco reduziu o preço alvo das ações da Companhia Siderúrgica Nacional (CSN) para US$ 20, ou R$ 44, por ação, ante os US$ 30/ação inicialmente estimados, diante do aumento dos custos de capital, da previsão de preços mais baixos e da redução de volumes tanto na área de siderurgia quanto na de mineração. Ainda assim, a estimativa representa um potencial de crescimento de 51%. Os papéis ON da empresa encerraram 2008 com queda de 43,23%, cotada à R$ 29, depois de ter atingido R$ 78,99 em maio.

Já no caso da Gerdau, o Credit Suisse reduziu o preço-alvo para US$8, ou R$ 18, por ação, ante a estimativa anterior de US$ 15/ação, devido à aumento no custo de financiamento e redução das previsões de volumes e preços de venda. O banco também citou a exposição das operações da companhia a mercados mais fracos, como o brasileiro e o norte-americano. "Há um excessivo otimismo em relação às operações brasileiras, o que nós acreditamos que pode desapontar". Para a Geração Futuro, o faturamento líquido da Gerdau deve ficar em R$ 32,2 bilhões em 2009, ante os R$ 41,3 bilhões estimados em 2008, refletindo o cenário projetado de queda nos preços e volumes. A geração operacional cairá de R$ 10 bilhões para R$ 5,8 bilhões, enquanto o lucro líquido passará de R$ 4,6 bilhões para R$ 2,9 bilhões, nas estimativas da instituição. As ações PN da Gerdau fecharam 2008 com queda de 39,97%, para R$ 15,06, abaixo dos R$ 16,32 da cotação de fechamento de 2006.

Para a Usiminas, a previsão da Geração Futuro é de estabilidade da receita da companhia e queda de 21% na geração de caixa. O lucro cairá para R$ 2,7 bilhões, ante os R$ 3 bilhões estimados no fechamento de 2008. A empresa apresentou no ano passado uma queda de 49,72% no valor das ações PNA, para R$ 26,52, valor abaixo dos R$ 32,61 de dezembro de 2006. No pico do ano passado, em maio, as ações da siderúrgica mineira chegaram a ser cotadas a R$ 85,75. O banco considera o preço justo de R$ 63,61.

(Gazeta Mercantil/Caderno C - Pág. 5)(Luciana Collet - com Bloomberg News)