Título: A grande promessa do turismo brasileiro
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Fonte: Gazeta Mercantil, 22/09/2004, Opinião, p. A-3

O potencial turístico do Brasil parece definitivamente descortinado pela indústria mundial do turismo. Não só o número de visitantes estrangeiros que aqui aportam vem crescendo continuamente, como, também, ampliam-se os investimentos externos em empreendimentos turísticos, principalmente no litoral nordestino.

Historicamente deficitária, a rubrica Viagens Internacionais da conta Serviços do Balanço de Pagamentos mostra comportamento diverso nos dois últimos anos, segundo o Banco Central (BC). De janeiro a julho ¿ últimos dados disponíveis ¿ as receitas somaram US$ 1,848 bilhão, cifra que representa crescimento de 40,6% em relação aos US$ 1,314 bilhão registrado em idêntico período do ano passado.

Por sua vez, as despesas totalizaram US$ 1,502 bilhão, em comparação com US$ 1,264 bilhão nos sete primeiros meses de 2003. Com esse resultado, o País contabilizou superávit de US$ 345 milhões no período, valor 58,2% maior do que os US$ 218 milhões registrados nos sete primeiros meses de 2003.

Esses dados mostram que o número de brasileiros que viajaram ao exterior foi menor do que o de estrangeiros que visitaram o País, e estes gastaram mais aqui do que os brasileiros no exterior. Ou seja, o fluxo de visitantes continua crescendo, em parte porque a desvalorização do real frente a moedas fortes, como o dólar e o euro, transforma o Brasil num destino turístico barato e atraente para os estrangeiros. No ano passado, 4,1 milhões de estrangeiros visitaram o Brasil ¿ número 8,12% maior do que o registrado em 2002 ¿ e aqui gastaram US$ 3,4 bilhões, de acordo com estatísticas levantadas pelo Instituto Brasileiro de Turismo (Embratur).

A meta estabelecida pelo Plano Nacional de Turismo, lançado pelo governo federal em 2003, é de crescimento de 15% ao ano. Até 2007, pretende-se atrair 9 milhões de estrangeiros por ano. Nos cálculos da Embratur, se essa meta for alcançada, os gastos desses turistas atingirão algo em torno de US$ 8 bilhões anuais, o que colocará a atividade turística entre as principais geradoras de divisas estrangeiras.

Contudo, não é só o câmbio favorável aos estrangeiros que explica o crescimento do fluxo externo de turistas para o Brasil. De fato, assim como em relação às exportações, governo e setor privado vêm direcionando recursos financeiros mais expressivos voltados para o desenvolvimento de campanhas mais intensas e dinâmicas e de estratégias de maior eficiência para promoção do destino Brasil.

As condições de infra-estrutura hoteleira melhoraram sensivelmente. Redes internacionais se instalaram ou ampliaram suas instalações em várias regiões do País. Além dos grupos dos grandes países desenvolvidos, tem sido considerável a participação de empresas espanholas, portuguesas e italianas. Têm sido também significativos os investimentos feitos por empresários nacionais, com ou sem apoio de instituições de fomento e fundos de pensão. E há muito a ser feito nessa área e será feito à medida que mais turistas afluam para o País. Espera-se que até 2007 grupos nacionais e estrangeiros apliquem US$ 12 bilhões em novos projetos turísticos.

Com os vôos charter, diretamente de grandes centros mundiais para pontos turísticos, principalmente à beira do mar, o Brasil deixou de ser um país "longe demais", especialmente para os turistas do sul da Europa. O turismo ecológico vem também sendo constantemente valorizado. É esse tipo de turista que tem trazido à Amazônia, ao Pantanal, à Chapada Diamantina, na Bahia, e a tantas outras regiões cidadãos de todas as partes do mundo.

Deve-se mencionar ainda que esse fluxo não seria possível se a Infraero não tivesse construído novas pistas próximas a locais mais procurados pelos turistas. A modernização dos aeroportos no Brasil já canalizou US$ 400 milhões provenientes de financiamento do Banco Interamericano de Desenvolvimento (BID). Deve-se destacar que o BID, por meio dos programas Prodetur I e II, também possibilitou investimentos em infra-estrutura de transporte viário, principalmente nos estados nordestinos.

Se isso não bastasse, segundo a Embratur nos últimos 12 meses encerrados em julho outros cinco bancos ¿ Banco do Brasil (BB), Banco do Nordeste (BNB), Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES), Caixa Econômica Federal (CEF) e Banco da Amazônia (Basa) aportaram mais de R$ 991 milhões em crédito a empresas de hotelaria e para obras de infra-estrutura.

O grande impacto do crescimento do turismo será, espera o governo, a geração de 1,2 milhão de empregos nos próximos anos.

kicker: Espera-se que os investimentos em curso e os novos projetos turísticos propiciem a geração de 1,2 milhão de empregos diretos