Título: Sem corte de juro, País terá crescimento zero
Autor: Urbanin,Carina
Fonte: Gazeta Mercantil, 13/01/2009, Brasil, p. A5

São Paulo, 13 de Janeiro de 2009 - Para diminuir as pressões e o tempo de duração dos reflexos da crise econômica mundial no País, o Banco Central deveria baixar a taxa básica de juros, ainda em 2009, para algo em não mais que um dígito. A avaliação é do ex-ministro da Fazenda, Luiz Carlos Bresser-Pereira, que participou ontem da primeira edição do Latin America Advanced Programe on Rethinking Macro and Develement Economics (Laporde) no Brasil, organizado pela Escola de Economia e Política de São Paulo da Fundação Getulio Vargas (EESP/FGV), em parceria com a Ordem dos Economistas do Brasil (OEB) e a Universidade de Cambridge, na Inglaterra.

"A taxa básica de juros exercida no Brasil é uma violência contra o desenvolvimento econômico", afirmou Bresser, destacando que o BC não está fazendo o que lhe cabe para diminuir os efeitos da crise no Brasil. "O Banco Central, comprometido com políticas monetárias neoclássicas, não regula a Selic e nem o câmbio. É preciso fazer essa regulação, esta é uma boa hora para fugir da idéia de que o mercado determina suas próprias leis", disse.

Para Bresser, o ideal seria que o Comitê de Política Monetária baixasse a Selic em 1 ponto percentual a cada reunião. "Não há justificativa para uma taxa tão elevada. Dizer que a taxa é alta porque o País está em desenvolvimento não é um argumento válido. O Brasil só começou a adotar os juros elevados após 64 (1964), com a entrada dos militares no governo, e desde 94 (1994) que foi para esse absurdo", destacou. O ex-ministro disse ainda que, se a Selic não for severamente baixada, é bem provável que o País tenha um crescimento bem próximo de zero em 2009.

O professor da Fundação Getulio Vargas (FGV), Yoshiaki Nakano, defendeu o início do corte da Selic na próxima reunião do Copom, marcada para semana que vem . "É preciso acabar com anomalias da política econômica brasileira", disse, avaliando que o país já está em recessão. Ele destacou que o governo deve primeiro esgotar a utilização da política monetária para depois partir para a política fiscal. "E está acontecendo o inverso no Brasil", avalia.

Nakano disse acreditar em um crescimento do Produto Interno Bruto (PIB) próximo a zero neste ano. Ele ponderou, no entanto, que é impossível prever este crescimento, pois não há como adivinhar as respostas do mercado. "O que podemos afirmar é que a era da expansão do crédito e do crescimento global acabou. Esta crise significa uma ruptura do que vem acontecendo desde a década de 80. Estamos assistindo a um período de grande queda no fluxo de capitais, inclusive para países desenvolvidos."

O professor da FGV afirmou que as temidas demissões em massa devem começar a acontecer após o carnaval, quando a situação econômica estará mais visível.

Nakano ainda avaliou que "o que estamos vendo nos Estados Unidos não é mais uma recessão, mas sim uma depressão". "Toda lógica capitalista está desaparecendo, o balanço das empresas está negativo e as instituições apenas lutam para sobreviver administrando suas dívidas."

Na contramão, o economista da OEB, Francisco Coelho, considerou que as políticas monetárias adotadas pelo BC estão de acordo com a situação financeira do País. Ele defendeu que, apesar dos Estados Unidos ainda estarem ditando o que deve acontecer no mercado mundial, o Brasil deverá sofrer menos do que outras nações. Essa posição "de vantagem", segundo Coelho, é decorrência do Programa de Aceleração da Economia (PAC) que, para o economista, poderá barrar a queda da produção e do consumo no País.

Questionado sobre quais foram os resultados obtidos com o PAC, programa que fará dois anos na próxima semana, Coelho destacou que são "resultados visíveis apenas no longo prazo, mas que já oferecem uma estrutura mais sólida para a economia doméstica".

(Gazeta Mercantil/Caderno A - Pág. 5)(Carina Urbanin/InvestNews)