Título: Chávez diz que não desvalorizará moeda
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Fonte: Gazeta Mercantil, 13/01/2009, Direito Corporativo, p. A10

Caracas, 13 de Janeiro de 2009 - O presidente da Venezuela, Hugo Chávez, diz que não vai corrigir a taxa cambial fixa em relação ao dólar adotada pelo país, devido ao colapso nos preços do petróleo. Ao invés disso, para não correr o risco de perder a sua popularidade, ele pode desvalorizar o bolívar venezuelano usando de prestidigitação.

O governo da Venezuela já está cortando as suas vendas de dólares à taxa estabelecida por ele mesmo em 2005, o que força as pessoas que vão viajar para o exterior a recorrerem ao mercado paralelo, onde a moeda dos EUA é vendida com um ágio de 61%. Os venezuelanos precisam obter uma autorização do governo para comprar dólares à taxa oficial.

"O que, na essência, está acontecendo é uma desvalorização disfarçada", disse Russell Dallen, principal operador da Caracas Capital Markets, uma unidade da BBO Financial Services, corretora e gestora de ativos com sede em Caracas. O governo "está fazendo com que mais pessoas recorram ao mercado não-oficial, o que força a desvalorização para um número maior de pessoas".

A insistência de Chávez em um câmbio fixo e atrelado, que funcionou bem enquanto a Venezuela foi inundada por petrodólares, passou a ser um perigo desde o colapso dos preços do petróleo. O governo já não pode se dar ao luxo de subsidiar dólares baratos para as importações de artigos de consumo a que os venezuelanos se acostumaram. Por outro lado, abandonar este vínculo daria início a uma disparada da inflação, em uma ocasião em que Chávez está fazendo campanha pela possibilidade de se candidatar mais uma vez à Presidência.

A inflação da Venezuela, a maior de todas as 82 economias monitoradas pela Bloomberg, pode crescer este ano, porque a oferta de dólares ao câmbio oficial vai diminuir, forçando os importadores a gastar mais na compra de bens estrangeiros. Os preços ao consumidor tiveram alta de 31,9% em 2008.

Sem Ajuste

Uma desvalorização "não está nos planos" deste ano, disse o ministro da Fazenda, Alí Rodríguez, na semana passada. Posteriormente, ele acrescentou, ao falar à televisão estatal, que uma correção cambial "não é necessária". Perguntado sobre se as vendas de dólar ao câmbio vinculado serão reduzidas este ano, Rodríguez respondeu: "É provável que elas caiam um pouco."

Se confirmada, seria a primeira queda desde 2003, quando foi criada a Comissão de Administração de Câmbio, que aprova as operações com moeda. No ano passado, a comissão autorizou US$ 48 bilhões de vendas de dólares, uma alta de 11% em relação a 2007.

Em 31 de dezembro, o governo de Caracas reduziu à metade o valor máximo em dólares que os venezuelanos podem comprar ao viajar para o exterior, e Rodríguez disse que as importações de produtos de luxos provavelmente também serão reduzidas. Manter o câmbio fixo do dólar a 2,15 bolívares alimentou um florescente comércio de carros, produtos eletrônicos e bens de consumo importados. As importações dispararam 98% entre 2005 e 2008, para US$ 47,6 bilhões, segundo o banco central.

(Gazeta Mercantil/Caderno A - Pág. 11)(Matthew Walter/Bloomberg News)