Título: Órfãos de discurso
Autor: Silveira, Igor
Fonte: Correio Braziliense, 19/03/2011, Política, p. 5

A ausência de um discurso oficial para a população brasiliense e a distância mínima de 700m frustraram os que esperavam ouvir o primeiro presidente negro dos EUA. O enfermeiro Ivan Rodrigues Rocha, 35 anos, é um dos que aguardavam ansiosamente a chegada de Barack Obama ao Brasil. Ele e 25 amigos formam o grupo Obama Brasileiro e enviaram R$ 2.500 para a campanha do democrata em 2008. Em agradecimento, receberam uma carta do partido e caneca com a figura do presidente estampada. ¿Tenho certeza de que, se fosse por ele, não haveria essa barreira. Ele falaria com a população. Fez isso em vários países¿, afirma.

O professor e enfermeiro Júnior Cézar Camilo, 43 anos, passou ontem em frente aos ministérios da Saúde e das Comunicações ¿ limite de restrição ao público ¿ e ficou impressionado com a distância. ¿Daqui não dá para ver nada¿. Desde 11 de fevereiro, Júnior e Ivan pediram ao Itamaraty e à Embaixada dos Estados Unidos autorização para ficar mais próximos do líder americano. Só a embaixada sinalizou a possibilidade de dar duas credenciais ao grupo de 25.

Caso não saia a resposta oficial até amanhã, os enfermeiros arquitetam formas de chegar o mais perto possível. ¿Podemos nos esconder no banheiro do palácio um dia antes e dormir por lá ou arrumar uma farda militar e passar pela barreira. O que importa é ver o Obama¿, brinca Ivan. ¿Aqui não tem facções criminosas como no Rio de Janeiro. Seria bem menos arriscado¿, lamenta Camilo.

A frustração por não acompanhar a visita de Obama é uma reação distinta da registrada na vinda do presidente George W. Bush. Em 2007, manifestantes paulistas entraram em confronto com a PM. Em Goiânia, houve protestos em frente a lanchonetes e supermercados ¿ianques¿. Também houve marchas na Bahia, Pernambuco e Amazonas. Em Brasília, muros e viadutos foram pichados.