Título: Máscaras e faixas
Autor: Abreu, Diego ; Iunes, Ivan
Fonte: Correio Braziliense, 19/03/2011, Política, p. 12

Ele dança, ele canta, é solto, articulado e sem o terno e a faixa presidencial não passaria por turista em terras tupiniquins. ¿Se eu fosse ao Brasil, todos pensariam que sou brasileiro, até que começasse a tentar falar português¿, afirmou o presidente dos Estados Unidos, Barack Obama, durante a primeira conversa com o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva, em 2008, após vencer as eleições. Apesar da falta de afinidade ideológica, Lula e Obama despertam nas classes populares fenômeno semelhante de identificação. O histórico de ascensão social e o jeito descontraído do presidente americano faz sucesso até entre brasileiros alheios ao noticiário.

Os cariocas ficaram tristes com o cancelamento do discurso na Cinelândia, no Centro do Rio de Janeiro, mas, mesmo assim, o morro promete descer de máscara e faixa para homenagear Obama. Ontem, o Saara, região de comércio popular do Centro do Rio, foi tomado por vendedores de máscaras do presidente americano. Alguns procuravam também máscaras da primeira-dama, Michelle Obama. De acordo com o presidente da Federação de Favelas do Rio de Janeiro, Rossino de Castro Diniz, moradores do Complexo do Alemão, do Complexo da Penha, na Zona Norte e outros marcarão presença nas ruas para prestigiar a visita. ¿Vai ter muita gente de máscara do Obama e homenagens de várias comunidades. Ele é um homem que veio do nada, um negro que se tornou líder da maior potência do mundo¿, afirmou Diniz.

Para as comunidades do Rio de Janeiro, Obama é tão popular que é personagem de carnaval. E o motorista Rinaldo Gaudêncio fez fama na capital fluminense e no país após se tornar o ¿sósia oficial¿ do presidente americano. Rinaldo sonha com a oportunidade de apertar a mão de Obama e já ensaia um ¿Yes, we can¿ para recepcionar o americano, lembrando o lema da campanha presidencial nos EUA. ¿O Obama é brasileiro, não tem jeito. Pelo carisma, o povo sente que ele tem a raiz brasileira, na cor, no olhar, na expressão.¿ Em ¿respeito¿ à formalidade da ocasião, o sósia de Obama deixará a ¿Michelle de papelão¿ que carregou no carnaval ¿em casa descansando.¿

Ansiedade Na Cidade de Deus, favela que ganhou o mundo após ser escolhida o cenário para o filme batizado com seu nome, moradores dividem sentimentos de ansiedade e apreensão com a possibilidade da visita de Obama à comunidade. De acordo com Celso Athayde, um dos fundadores da Central Única das Favelas (Cufa), jovens preparam painéis de grafite para homenagear o presidente americano, mas as exigências da equipe de segurança são consideradas inaceitáveis. A Casa Branca teria pedido para retirar de casa todos os moradores de residências que ficam a três metros de onde o presidente vai passar.

Enquanto os líderes comunitários discutem a submissão do país ao esquema de segurança americano e a ultraesquerda ensaia protestos, o movimento negro comemora a passagem de Obama pelo país e torce para que o chefe de Estado inclua no discurso a defesa das ações afirmativas para a criação de uma classe média negra no Brasil.