Título: BC garante liquidez às linhas de ACC
Autor: Rosa,Silvia ; Aliski,Ayr
Fonte: Gazeta Mercantil, 15/01/2009, Finanças, p. B1

São Paulo e Brasília, 15 de Janeiro de 2009 - Os leilões de empréstimo de dólares promovidos pelo Banco Central para financiar o comércio exterior tem garantido liquidez para as operações de Adiantamento sobre Contrato de Câmbio (ACC) e de Adiantamento sobre Cambiais Entregues (ACEs).

Desde o primeiro leilão realizado pelo BC nessa modalidade, em 5 de novembro de 2008, a autoridade monetária já colocou no mercado US$ 6,267 bilhões, o equivalente a 84,47% do total do volume emprestado pelos banco nas linhas de ACC, de US$ 7,419 bilhões de novembro até os seis primeiros dias úteis de janeiro. Somados ao total vendido pelo BC nos dois leilões realizados ontem, de US$ 1,276 bilhões, o total colocado pelo BC nos cinco leilões realizados nessa modalidade foi US$ 7,143 bilhões.

Nem todo recurso vendido pelo BC, no entanto, é repassado integralmente para o mercado. Segundo o operador de câmbio do Banco Modal, Olavo Pereira, os bancos têm até 30 dias para emprestar via ACC ou ACE os dólares adquiridos nos leilões do BC. Se ao final desse período eles não utilizarem todo o recurso tomado, podem devolver o dinheiro para o BC.

Nos cinco leilões realizados pela autoridade monetária, a venda de dólares tem ficado menor que a oferta. Ontem, no primeiro leilão, o BC havia ofertado US$ 1,5 bilhão, mas vendeu apenas US$ 276 milhões, aceitando nove proposta. No segundo leilão, foi vendido o US$ 1bilhão ofertado, aceitando oito propostas.

Segundo Pereira, a compra nos leilões tem se concentrado entre os grandes bancos, principalmente o Banco do Brasil, que detém uma das maiores carteiras de clientes dessa modalidade. "Esses leilões não têm atraído os bancos pequenos e médios, uma vez que não têm caixa suficiente para suportar uma restrição de recursos no curto prazo", afirma.

Isso porque ao tomar a linha, o banco entrega uma quantia equivalente em reais que só irá retomá-la após 30 dias, quando entregar os contratos de ACC como garantia. "Se o banco tiver que liberar os recursos antes desse período, terá que utilizar dinheiro do próprio caixa", diz Pereira. Além disso, dependendo do rating da empresa, o BC exige margem adicional como garantia.

No leilão realizado ontem pela manhã, a taxa de venda pelo BC, com liquidação estabelecida para a próxima sexta-feira, 16 de janeiro, é de R$ 2,313 por dólar. No leilão da tarde, a taxa de venda, na mesma data de liquidação, foi de 2,364 por dólar. Se os bancos não utilizarem os recursos, o dinheiro retorna às reservas internacionais em 17 de fevereiro. Nesse caso, a taxa de compra é de R$ 2,334406 (para o leilão da manhã) e de R$ 2,382706 (para o leilão da tarde), considerando DI de 13,111% ao ano. A taxa de corte foi de 1,5% sobre a Libor de ontem, com vencimento para 11 de dezembro de 2009.

O esforço do BC, entretanto, não está se refletindo em aumento do volume de operações via ACCs, as quais somaram apenas US$ 659 milhões até o dia nove de janeiro, contra US$ 854 milhões no mesmo período de 2008.

Segundo Pereira, a atuação do BC tem sido essencial para garantir liquidez para as linhas de financiamento à exportação. Com a contração da liquidez no mercado externo, as linhas de curto prazo para financiamento à exportação "secaram", impactando as operações principalmente dos bancos de pequeno e médio porte. O volume de recursos repassados via ACC apresentou forte queda durante a fase mais aguda da crise, caindo de US$ 5,254 bilhões em setembro para US$ 3,695, mantendo-se estável até o final de 2008.

O economista André Sacconato, da Tendências Consultoria, avalia que o volume baixo de negociações com ACCs pode estar demonstrando retração das exportações. Ele destacou o fato de que até 9 de janeiro o volume de exportações somava apenas US$ 2,1 bilhões, enquanto no mesmo período de 2008 esse total chegava a US$ 4,24 bilhões. Nesses primeiros nove dias, o déficit comercial apontado pelo BC chega a US$ 510 milhões. O economista não descarta a possibilidade de que as garantias exigidas pelo BC tenham afastado eventuais interessados no leilão da manhã, provocando o leilão da tarde.(Gazeta Mercantil/Finanças & Mercados - Pág. 1)(Silvia Rosa e Ayr Aliski)