Título: Uma relação delicada
Autor: Azedo, Luiz Carlos
Fonte: Correio Braziliense, 19/03/2011, Política, p. 14

A Visita de obama Passagem do líder norte-americano é oportunidade para que Brasil e EUA superem problemas enfrentados em outras administrações

Assim que o presidente Barack Obama desembarcar hoje no Brasil será iniciado um novo ciclo de relações entre nações e líderes. Os elos entre Brasil e Estados Unidos ¿ ora harmoniosos, ora conflitantes ¿ sempre tiveram destaque do ponto de vista político, econômico, social e cultural. Entre Dilma Rousseff e Obama há muito mais afinidades do que discordâncias. A política de direitos humanos, a relação com o Irã e a abstenção do Brasil na votação contra a Líbia no Conselho de Segurança da ONU são alguns exemplos. A presidente pode então se transformar na nova ¿cara¿ de Obama? ¿Ainda é cedo. A chance de se conhecerem pessoalmente facilita conversas futuras¿, destaca o cientista político David Fleischer, em referência à frase ¿That¿s my man¿, dita por Obama ao presidente Lula durante encontro de líderes do G20 em 2009.

¿A relação pessoal entre dois presidentes, muitas vezes, não se traduz em boas relações diplomáticas. Você pode ter muitos beijos e abraços, mas nada de concreto¿, explica Fleischer.

Apesar das trajetórias distintas Lula e Bush ¿ um ex-metalúrgico sindicalista e um político da direita oligárquica americana ¿, estabeleceram um bom relacionamento.¿Quando eu acordo invocado, pego o telefone e ligo para o meu amigo Bush¿, chegou a declarar o ex-presidente brasileiro durante entrevista. Os encontros entre os dois sempre duravam mais do que determinava o protocolo e Lula chegou a visitá-lo em Camp David, a casa de campo do ex-presidente americano. No entanto, não conseguiram avançar na retomada da discussão sobre a Área de Livre Comércio das Américas.

A primeira viagem de Bush ao Brasil foi em março de 2002, quando Fernando Henrique Cardoso ainda comandava o país. O Brasil se destacava na luta pelo fim de políticas protecionistas norte-americanas que prejudicavam a venda de produtos brasileiros nos EUA.O narcotráfico também entrou na pauta. Bush apoiava o Plano Colômbia, enquanto o Brasil queria evitar a ingerência dos americanos no combate ao tráfico de drogas naquele país. A partir de 11 de setembro de 2001, as relações ficaram ainda mais delicadas. Desde os atentados, Bush limitou-se a cobrar apoio em ações ligadas aos direitos humanos.

Já com Bill Clinton, FHC assumiu postura diferente. Em 1997, o presidente norte-americano visitou pela primeira vez o Brasil. Algumas manifestações contrárias à visita foram devidamente minimizadas e ele conseguiu passar a imagem de uma pessoa simpática. O período foi marcado pela cordialidade e empatia pessoal entre os dois líderes, que se tornaram amigos. O americano empenhou-se em resolver as pendências financeiras do Brasil, em um período em que o país brigava pela estabilidade econômica alcançada com o Plano Real. Os EUA pressionavam para que fosse assinado o Tratado de Não Proliferação de Armas Nucleares, que acabou ratificado apenas em 1998.

No entanto, de acordo com Fleischer, os resultados mais expressivos da relação entre as duas nações ocorreram durante a Segunda Guerra Mundial. ¿O Brasil entrou no conflito, permitiu que os americanos construíssem uma base aérea em Natal e eles financiaram a construção da Companhia Siderúrgica Nacional, em Volta Redonda. Todos ganharam.¿