Título: Câmbio põe fim ao ciclo de baixa da exportação do setor pesqueiro
Autor: Botelho,Gilmara
Fonte: Gazeta Mercantil, 15/01/2009, Agronegócio, p. B9

Paulo, 15 de Janeiro de 2009 - As vendas externas brasileiras de pescados podem voltar a ter mais peso na balança do agronegócio. "A grande mola das exportações era a taxa cambial e elas voltaram a ficar atraentes", afirma Geraldo Cosentino, diretor de perecíveis do Carrefour na região Nordeste. O executivo admite a existência de um "viés de recuperação, mas para chegar aos índices de 2003 vai levar bastante tempo, não vai ser este ano que vamos conseguir", avalia.

Após cinco anos de quedas consecutivas nas exportações, a demanda interna de camarão assumiu o posto antes ocupado pela externa. Em 2008, o setor negociou US$ 56,4 milhões com o mercado internacional, ante os US$ 74,7 milhões de 2007. Em 2003 a receita com as exportações de camarão chegaram a US$ 244,5 milhões, a queda acumulada de lá para cá é de 77%. "Nós exportamos apenas 20% da produção, os outros 80% ficam aqui. Em cinco anos demos uma virada de ponta a cabeça", diz Itamar Rocha, presidente da Associação Brasileira dos Criadores de Camarão (ABCC).

Foi uma medida antidumping americana que determinou a configuração desse cenário na carnicicultura brasileira. Mesmo livre desse protecionismo alfandegário, o setor de pescado também registra sucessivas quedas nos embarques. Oito mil toneladas de peixes deixaram de ser vendidas lá fora em 2008 na comparação com o ano anterior e US$ 24 milhões deixaram de vir para cá no período, recuo de 21,3% em receita.

Mas essa condição coadjuvante no mercado internacional de pescados instalada desde 2003, pode começar a ser revertida a partir de março 2009, acreditam os representantes do setor. A nova taxa cambial vigente no mercado financeiro é um dos pilares que sustenta essa expectativa. "A recuperação do câmbio projeta uma oportunidade para voltarmos ao mercado internacional já a partir de março", planeja o presidente da ABCC. Itamar Rocha acredita que os exportadores de camarão devem conseguir vender ao mercado externo pelo menos 30% da produção nacional.Para melhorar, "existe ainda uma perspectiva de fortalecimento da demanda interna, já que a externa continua vulnerável em virtude da atual crise financeira" pontua Cosentino. "2008 foi um ano difícil em razão da enchente que afetou a produção na região Nordeste, mas o setor se recuperou de doenças e se firmou no mercado interno", pondera Itamar Rocha. O presidente da ABCC argumenta que existe um potencial de crescimento grande, uma vez que o consumo per capita no Brasil é de apenas 400 gramas. "Na China é de 2 quilos".

O diretor do Carrefour explica que o redirecionamento da produção abriu as portas do mercado interno. Ele acredita que mesmo que o mercado internacional não volte a absorver os antigos volumes, "é possível escoar aqui dentro a produção e eliminar a dependência do mercado externo", acredita. "Hoje o camarão e os peixes nobres não são privilégios da classe A".

No último trimestre, a Europa, nosso atual maior importador, freou o ritmo das compras para encurtar os estoques. A decisão teve impacto não só na balança comercial do setor, como também nas cotações internacionais que recuaram um pouco, mas continuam atraente para a indústria. "O preço está quente, a demanda é que está fria nesse período", avalia Cosentino.

As compras de Itália, França e Espanha devem ser retomadas já a partir de fevereiro, "no mais tardar com o fim do inverno europeu", diz Rocha. Os primeiros embarques de lagosta devem acontecer somente a partir de julho por causa da safra.

Incentivo oficial

No final de 2008 o governo federal lançou o plano "Mais Pesca e Aquicultura" para promover a produção de pescado. Foram estipuladas metas a serem cumpridas até 2011. Estão previstas medidas de incentivo à criação em cativeiro, à pesca oceânica, estímulo ao consumo e melhoria das condições de trabalho dos pescadores artesanais. A meta é elevar a produção em 40%, para 1,4 milhão de toneladas por ano. A rede brasileira deve ficar mais cheia com o incentivo à pesca oceânica de R$ 1,5 bilhão em linhas de crédito do Profrota Pesqueira, financiamentos destinados à construção e modernização da frota pesqueira com até 18 anos com juros de entre 7% e 12%.

(Gazeta Mercantil/Finanças & Mercados - Pág. 9)(Gilmara Botelho)