Título: Vários assuntos reclamam atenção simultânea de Obama
Autor: Freitas Jr, Osmar
Fonte: Gazeta Mercantil, 19/01/2009, Internacional, p. A14

Rio de Janeiro, 19 de Janeiro de 2009 - Escrevo sem pretender isenção ou objetividade. Sou torcedor (já que como brasileiro não pude ser eleitor) de Barack Obama. Nele investi um não pequeno capital de esperança e estou convencido de que se seu governo tiver sucesso poderemos voltar aos trilhos de que nos afastamos nos últimos oito anos.

Não sei o que vai pesar mais sobre Obama. Se os imensos desafios que têm a enfrentar ou se as não menores esperanças que seus compatriotas e o resto do mundo depositaram nele.

Um dos problemas do excesso de esperanças é que cobrança de sua realização é sempre impaciente e que elas se transformam, rapidamente, em frustrações quando não atendidas.

Se as esperanças têm pressa, os grandes problemas do momento reclamam igualmente ação rápida e eficaz para seu encaminhamento e solução.

Obama não contará com os habituais cem dias de trégua que são oferecidos aos novos governantes em Washington

Terá de começar a atuar desde o dia da posse e de forma decisiva. Tem a seu favor estar bem preparado e ter reunido uma equipe de extraordinária qualidade, compensando assim sua principal vulnerabilidade que reside em sua inexperiência administrativa.

Prioridades

Por onde deverá começar? Vários assuntos reclamam atenção simultânea e respostas imediatas.

A crise financeira internacional; o conflito em Gaza, a deterioração política e militar no Afeganistão, o cronograma da retirada do Iraque; episódios de terrorismo internacional; a salvação ou não da industria automobilística americana deverão estar na "short list" daquilo que não pode esperar.

Obama tem sido de exemplar prudência desde sua eleição. Valendo-se do escudo de que os Estados Unidos só podem ter um Presidente de cada vez tem evitado se pronunciar sobre coisas complicadas. No dia 20 de janeiro termina o tempo para esse tipo de tática. Obama, terá que começar a fazer escolhas que inevitavelmente desagradarão alguns segmentos que até agora o apóiam. Ele que tem sido o grande articulador de alianças e o arquiteto de convergências começará a ter o desafio de fazer difíceis e, quase sempre, imperfeitas opções.

Some-se a isso o ressentimento das forças conservadoras e o rancor residual dos grupos movidos por preconceitos raciais ambos pelo momento derrotados mas não eliminados e temos um conjunto poderoso de forças de oposição.

Se é facil imaginar qual será o menu inicial da nova administração não é difícil prever alguns dos temas que não deverão estar na pauta inicial. Entre eles estará a América Latina, em seu conjunto, com a possível exceção de algumas questões migratórias e de tráfico de drogas dentro, sobretudo, do relacionamento com o México e com o Caribe

O Brasil não deverá ver nisso sinal de sua relativa falta de importância para os Estados Unidos. É uma indicação, apenas, de que nossa agenda bilateral - certamente importante para ambos. - não reclama tratamento imediato

É desejável que Obama tenha com o Presidente (ou Presidentes) do Brasil que coincidam com seu mandato a mesma relação fluida e fácil que tiveram Clinton e FHC e Lula e Bush. É importante para nós ( e para eles) conservar a qualidade desse relacionamento pessoal. Também no nível de Ministros de Relações Exteriores Hillary Clinton deverá continuar a manter o bom entendimento que tiveram Lampreia e Lafer com Madeleine Albright e Colin Powell e Celso Amorim com Condolezza Rice.

Onde imagino que Obama e o Brasil encontrem o principal terreno de ação imediata é dentro do G20, colegiado que procurará tirar o mundo da profunda crise econômica em que se encontra. Será, imagino, dentro dele, que Washington e Brasília irão buscar, no primeiro momento, identidades em seus planos de ação e criar afinidades de estilo.

Obama não conhece pessoalmente o Brasil. Não tenho memória de alguma visita sua ao nosso País. Não temos, com ele, um passado de contatos. É assim, uma relação a ser inteiramente construída.

Hillary Clinton está familiarizada com nossos desafios e oportunidades. Para nós seu papel será importante.

Como somos as duas maiores democracias presidencialistas do mun-do a qualidade da relação pessoal entre os primeiros mandatários importa sempre. Desta vez o presidente dos Estados Unidos moço, mestiço, vigoroso e otimista tem muito que ver conosco e não será dificil estabelecermos com ele um relacionamento próximo e denso. O que será bom para os dois países.

Renovo minha torcida. Se Obama fracassar vai levar muito tempo para por a casa em ordem. O que não será bom nem para os Estados Unidos nem para nós. No mundo globalizado o Brasil pesa cada vez mais e está cada vez entrelaçado com os temas de alcance mundial. Manter a qualidade da relação bilateral com Washington é o que há de mais importante a fazer no curtíssimo prazo.

(Gazeta Mercantil/Caderno A - Pág. 14)(Marcos Castrioto de Azambuja - Vice-presidente Centro Brasileiro de Relações Internacionais (CEBRI))