Título: A grande tarefa à espera do novo presidente americano no Oriente Médio
Autor: Freitas Jr,Osmar
Fonte: Gazeta Mercantil, 19/01/2009, Internacional, p. A15

São Paulo, 19 de Janeiro de 2009 - Temos, nesse início de ano, um novo presidente americano, uma nova realidade econômica, um novo governo israelense e uma nova guerra no oriente médio.

Teremos uma nova estratégia na política exterior americana, e em específico no que refere ao Oriente Médio? É possível que logo após a posse, Obama surpreenda o mundo promovendo uma série de transformações históricas?

Se levarmos em consideração o perfil dos assessores e secretários escolhidos, chegaremos à conclusão que haverá mudanças no rumo da política externa em relação ao governo anterior, mas não se espera nenhuma ruptura significativa na doutrina estratégica dos EUA. Afinal de contas, trata-se de uma equipe composta, em sua grande maioria, por veteranos do governo Clinton reforçada pela presença da senadora Hillary Clinton. Além do anunciado fechamento da prisão de Gantánamo e do plano de retirada progressiva das tropas do Iraque, a nova equipe tem manifestado a determinação de dialogar com os inimigos, notadamente o Irã, e já provocou críticas dentro do próprio partido democrata pela autorizada voz do ex-secretário da Defesa do governo Clinton William Perry.

Desafios

O fato mais desafiador para o novo governo é que o velho paradigma da política externa liberal que adota o modelo de mudança de regime e de democratização, aliados às ações de dissuasão militar, como fator principal para proporcionar avanços no processo de paz e de contenção dos regimes hostis aos EUA está desacreditado.

No início de 2005 uma conjunção de fatores no Oriente Médio ocasionou uma onda de otimismo nos EUA fazendo com que muitos vissem aquele momento como a "primavera árabe". A eleição de Mahmoud Abbas à presidência da Autoridade Palestina; a participação do eleitorado iraquiano nas eleições após a queda de Sadam Hussein e os protestos de rua no Líbano exigindo a retirada das tropas sírias provocaram impacto até mesmo em vários críticos do governo Bush que passaram a reconhecer que a estratégia americana começava a produzir bons resultados. No entanto, podendo competir livremente nas eleições, organizações extremistas islâmicas como Hezbollah e Hamas emergiram triunfantes nas eleições no Líbano e Gaza respectivamente, concorrendo contra a corrupção dos velhos partidos, mas se recusaram a assumir todas as responsabilidades de um governo soberano mantendo suas próprias milícias particulares e sua negação do Estado de Israel.

Independentemente do desfecho da operação militar em Gaza, a questão palestina continuará chamando a atenção do mundo e poderá se tornar um complicador na resolução dos demais problemas na região, pois essa pequena faixa de terra tem o potencial de ampliar todas estas questões e representar um problema imenso para Barack Obama desde o primeiro dia de seu governo.

Diferentemente das guerras estatais entre árabes e israelenses, o atual conflito pode ter o mesmo significado que as duas intifadas, se inserindo num complexo cenário geopolítico envolvendo múltiplos centros de poder e articulando as conexões ao nível das relações interestatais (Israel, Irã, Egito e Síria) e de outros movimentos políticos e sociais no " Grande Oriente Médio"(Hezbollah, Irmandade Mulçumana, Muqtada Al Sadr). A existência crescente dos grupos não estatais que usam cada vez mais a força em suas relações com os Estados desafia uma das características mais básicas do sistema internacional, principalmente porque essa reivindicação ao direito do uso da força passa a ser aceita como legítima por uma parte substancial da sociedade internacional.

Conflitos

A grande tarefa do novo governo americano é o de encontrar o justo equilíbrio em seu papel de mediador nos conflitos entre israelenses e palestinos.

Desde a Guerra dos Seis dias (1967), o componente mais importante da política dos Estados Unidos para o Oriente Médio tem sido sua relação especial com Israel.

A combinação de apoio incondicional a Israel, com o objetivo de disseminar a "democracia" por toda a região, e proteger os interesses dos EUA foi intensificada após o final da guerra fria pela percepção de que os dois Estados são ameaçados por grupos terroristas islâmicos, e por Estados que apóiam direta ou indiretamente o terrorismo além de promoverem a proliferação de armas de destruição em massa.

Israel tem todos os motivos para se defender contra o Hamas, e os EUA devem garantir a segurança e o bem-estar dos israelenses, mas se Obama quiser exercer, efetivamente, o seu papel de líder não pode endossar toda e qualquer ação bélica contra os palestinos bem como fechar os olhos para expansão dos assentamentos na Cisjordânia.

A eleição de Obama foi um grande triunfo para a diplomacia pública dos EUA no mundo árabe, desde 1956, quando o Presidente Eisenhower apoiou o Egito, contra a Inglaterra, França e Israel para recuperar o controle do Canal de Suez. No entanto, o sucesso será de curta duração se não houver uma mudança concreta em sua conduta internacional.

(Gazeta Mercantil/Caderno A - Pág. 15)(Reginaldo Mattar Nasser - Professor e Coordenador do Curso de Relações Internacionais da PUC de São Paulo)