Título: Uma Hillary conciliadora no novo governo
Autor: Hessel,Rosana
Fonte: Gazeta Mercantil, 19/01/2009, Internacional, p. A16
Washington, 19 de Janeiro de 2009 - Fiel à reputação de lutadora, Hillary Clinton, foi escolhida para chefiar a diplomacia americana pelo antigo adversário na disputa pela indicação democrata, Barack Obama.
A senadora por Nova York, considerada durante muito tempo a favorita na corrida para a Casa Branca, é conhecida por ter uma força de caráter considerada fora do comum. Durante a campanha, transformou a experiência em política externa num dos principais argumentos, sem hesitar em criticar o que chamou, um dia, de "ingenuidade" de Barak Obama.
Mas, a partir da derrota, Hillary fez campanha a favor de seu antigo adversário, conclamando seus milhões de seguidores a elegerem o primeiro presidente negro dos Estados Unidos.
Para seus partidários, seu nome está associado aos anos de prosperidade da presidência Bill Clinton (1993-2000). Os simpatizantes de Hillary elogiam sua competência e sua experiência. Nos debates na televisão, sempre se mostrou precisa.
Seus detratores, inúmeros, têm outra opinião. Para uma parte dos americanos, o sobrenome de Hillary é sinônimo de dureza e cinismo.
Apesar de já ter sido dada por vencida incansáveis vezes, sempre manteve a cabeça erguida, mostrando-se dona de uma energia renovada.
Nascida em 26 de outubro de 1947, em Chicago (Illinois), Hillary Clinton chegou à política com as propostas contra a guerra do Vietnã e, depois de se tornar uma das primeiras-damas mais influentes da história dos Estados Unidos, conseguiu se eleger senadora pelo estado de Nova York em 2000 e 2006.
Mas a chegada de Obama deteve a máquina e, apesar de importantes sucessos nas primárias, como em Nova York, Califórnia, Flórida, Ohio e Pensilvânia, conquistando mais de 17 milhões de eleitores, da sedução que exerce entre as mulheres, operários, velhos e hispânicos, não pôde impedir a vitória do carismático senador por Illinois.
De cabelos loiros, olhos azuis e terninhos coloridos, esta brilhante advogada, mãe de uma empresária de 27 anos, Chelsea, trabalhou durante muito tempo à sombra do marido e teve de suportar a humilhação pública do escândalo Monica Lewinsky.
Hillary Clinton, no entanto, ainda tem grandes desafios a enfrentar como chefe da diplomacia americana. Ela mesma resumiu a situação durante a campanha: "O próximo presidente será o primeiro a herdar duas guerras, uma longa batalha contra o terrorismo mundial e uma tensão crescente com o Irã".
Terá, também, de se adaptar às propostas do presidente eleito que, ao contrário dela, foi contra a guerra do Iraque e defende uma política de aproximação com o Irã.
Na terça-feira passada, durante sabatina no Senado, Hillary Clinton defendeu uma diplomacia reconciliadora com o restante do mundo, após as tensões deixadas pelos oito anos da administração Bush.
Descartou "categoricamente", qualquer diálogo com o Hamas, enquanto o grupo radical palestino não tiver reconhecido Israel como Estado e desistido da violência.
"Os Estados Unidos não podem resolver somente os problemas mais urgentes do mundo e o mundo não pode resolvê-los sem os Estados Unidos", declarou Hillary à comissão das Relações Exteriores do Senado durante a audiência de confirmação no cargo para o qual foi nomeada, quase por unanimidade.
"A potência americana deixou a desejar, mas continua sendo desejada", disse a ex-primeira-dama. "A política externa deve se fundar na união de princípios e do pragmatismo, não sobre uma ideologia rígida", acrescentou.
A senadora defendeu também uma aproximação mais "vigorosa" com a América Latina.
(Gazeta Mercantil/Caderno A - Pág. 16)(AFP)