Título: Infância simples antes de ser primeira-dama
Autor: Salgueiro,Sônia
Fonte: Gazeta Mercantil, 19/01/2009, Internacional, p. A19

Washington, 19 de Janeiro de 2009 - "Sou uma anomalia estatística. Uma garota negra, criada no sul de Chicago. Jamais imaginei que chegaria até aqui", afirmou Michelle Obama, que, a partir de amanhã, entrará na Casa Branca como a primeira-dama dos Estados Unidos. Seus simpatizantes se referem a ela como uma nova Jackie Kennedy, considerada pelos americanos uma das primeiras-damas mais refinadas e elegantes da história do país. Michelle Obama tem um falar franco e seu cáustico senso de humor levou-a a ser acusada por seus adversários de antipatriota, arrogante e até racista, após um comício no qual afirmou: "Pela primeira vez em minha vida adulta estou verdadeiramente orgulhosa de meu país". "Evidentemente amo meu país. Em nenhum outro lugar, a não ser nos Estados Unidos, minha história teria sido possível", defendeu-se, posteriormente.

Com 44 anos, Michelle admite ter visto com desconfiança a decisão de seu marido de se lançar à corrida pela Casa Branca: queria preservar a vida familiar. Mas aceitou sob duas condições: que Malia, de 10 anos, e Sasha, de 7 anos, vissem o pai pelo menos uma vez por semana. E que ele deixasse de fumar. Obama cumpriu as promessas... mais ou menos, já que confessa que, de vez em quando se rende ao vício e fuma um cigarro.

Nascida em uma modesta família do sul de Chicago, Michelle cresceu no South Side, o bairro mais pobre da cidade. Seu pai, Frazer Robinson, funcionário da prefeitura, trabalhou toda a vida, apesar de uma esclerose múltipla. Marina, sua mãe, era dona-de-casa. Nesse contexto, Michelle conseguiu entrar na prestigiada Universidade de Princeton em 1981. Sua tese de Sociologia se foca na separação e como os estudantes negros adotam uma "estrutura social e cultural (da raça) branca" e se identificam cada vez menos com sua comunidade étnica.

Depois de Princeton, estudou direito na Universidade de Harvard antes de virar advogada de uma administradora de Chicago. Ali conheceu Barack. Fez jogo duro às investidas do rapaz, mas acabou cedendo quando convidada para ver um filme de Spike Lee, controverso cineasta negro conhecido pela crítica social de seus filmes.

Depois do casamento, em 1992, Michelle Obama deixou o setor privado para trabalhar na prefeitura de Chicago, depois no hospital universitário, do qual foi, até recentemente, vice-presidente encarregada de assuntos externos. Ela foi um verdadeiro pilar na campanha do marido. Deu centenas de entrevistas e não hesitou em se dirigir às multidões com sua voz um tanto rouca. "Meu marido será um presidente extraordinário", assegurou.

Mas Michelle Obama diz que não se vê ocupando um lugar proeminente na Casa Branca. E enfatiza: "Com Barack falamos de tudo, mas não sou assessora política dele. Sou esposa dele."

Filhas do presidente

"Uma das piores coisas do mundo é ser filho de um presidente. Leva-se uma vida horrível", comentou certa vez Franklin D. Roosevelt, que teve cinco filhos criados na Casa Branca. Malia e Sasha, que ganharam o coração do grande público ao acompanhar o pai durante sua campanha eleitoral, serão as crianças mais novas a ocupar a residência presidencial desde os filhos dos Kennedy, no início de 1960.

Poucas crianças têm a oportunidade de convidar seus amiguinhos para uma festa de aniversário em que tem seu próprio cinema e sala de boliche, e onde se pode organizar um ótimo joguinho de esconde-esconde usando os mais de 130 cômodos da residência. Mas, apesar dos privilégios, para as meninas será difícil escapar do olho do público e desfrutar a liberdade de crescer neste mundo que está 24 horas do dia conectado.