Título: Ousadia e coragem para superar os desafios
Autor: Salgueiro,Sônia
Fonte: Gazeta Mercantil, 19/01/2009, Internacional, p. A19

São Paulo, 19 de Janeiro de 2009 - O presidente-eleito dos Estados Unidos, Barack Obama, mesmo antes de assumir oficialmente a presidência, vem enfrentando diversos desafios que podem ditar o perfil de seu primeiro ano de governo. Dos conflitos na Faixa de Gaza ao pacote para retirar os Estados Unidos da crise, Obama já se vê diante da necessidade de tomar decisões que envolverão compromissos.

Na dimensão econômica, Obama defende a diminuição do déficit fiscal, tentando reequilibrar as contas do Estado, tornando-o mais forte e, ao mesmo tempo, menos pesado sobre as classes trabalhadoras. Mas, o desafio não é fácil já que o déficit foi projeto em 1,2 tilhão de dólares para o ano fiscal.

O corte de gastos públicos pode vir de diferentes fontes, mas se acredita que a seguridade social e saúde pública serão alvos complicados, ainda que ambas sejam grandes demandantes de recursos. O impacto político de qualquer corte nestas áreas é muito grande e poderá não encontrar apoio no Congresso norte-americano, o que seria um primeiro fracasso de Obama.

Ao mesmo tempo, não fazer cortes é deixar uma bomba-relógio fiscal armada para um futuro não muito distante, que poderá paralisar o governo Obama em poucos anos. O grande aumento populacional norte-americano do pós-II Guerra Mundial (conhecido por baby boomers), juntamente com o aumento dos custos de assistência médica, demandarão cada vez mais recursos públicos.

O cenário se complica diante de outra projeção: o desemprego tenderá a aumentar em 2009, colocando ainda mais pressão sobre o Estado para que mantenha a economia aquecida. Obama prometeu criar 3 milhões de empregos, porém as projeções vão no sentido oposto: enquanto em novembro o desemprego era de 6,7%, acredita-se que superará os 9% até o final de 2009.

O caminho apontado por Obama, por enquanto, está no corte de gastos "desnecessários". Para isso, criou um novo cargo, o de Chefe de Performance do Gabinete (CPO, na silga em inglês), nomeando Nancy Killefer ocupá-lo. Seu principal objetivo é manter estreita relação com as agências federais para conduzir cortes coordenados e que não afetem a estrutura do governo.

Killefer é tecnicamente muito capacitada para o cargo, porém competência não será suficiente para se fazer tudo o que é necessário, será preciso que ela tenha um pouco de controle fiscal e orçamentário sobre as agências federais, algo muito mais difícil de conseguir. Esse controle significa transferência de poder das agências para o poder Executivo, algo que não será fácil de conseguir. Ao mesmo tempo, todas as indicações de mudanças feitas pela CPO deverão ser aprovadas pelo Congresso, o que coloca ainda mais limitações na capacidade de mudanças efetivas.

Os Estados Unidos terão que mudar sua forma de governar a fim de evitar a falência do Estado, e o primeiro passo para isto foi dado com a eleição de Obama. No entanto, ainda há muito por se fazer e a parte mais difícil vem agora. Mais do que boa vontade e boas intensões, agora Obama terá que mostrar que também tem boa articulação política.

(Gazeta Mercantil/Caderno A - Pág