Título: Indústria brasileira manifesta expectativas positivas
Autor: Salgueiro,Sônia
Fonte: Gazeta Mercantil, 19/01/2009, Internacional, p. A19

São Paulo, 19 de Janeiro de 2009 - A expectativa da indústria brasileira em relação à administração Barack Obama é bastante positiva. "O novo presidente sabe escutar, montou rapidamente uma equipe com grandes nomes e é uma pessoa que tem uma visão multilateralista de mundo. Na área econômica, seu partido (o democrata) defende que o governo tem que ter mais responsabilidade na economia. Isso tudo é positivo, inclusive para o Brasil", afirma Mário Marconini, diretor de Negociações Internacionais da Federação das Indústrias do Estado de São Paulo (Fiesp).

Na prática, diz o diretor, há indícios de que o novo presidente reconhecerá o Brasil como um dos grandes protagonistas da atualidade. "É um momento bom para consolidarmos uma relação adulta com os Estados Unidos, em que o País não assuma uma postura ofensiva ou defensiva demais", diz ele, prevendo que o relacionamento será mais equilibrado do que durante o governo Bush.

Na área econômica, analisa Marconini, algo extremamente importante é que Obama é favorável a uma grande reformulação da matriz energética mundial, tanto por razões energéticas como ambientais. "Ele defende que se tenha mais combustíveis renováveis, o que tende a nos beneficiar", diz o diretor da Fiesp, afastando, entretanto, qualquer possibilidade de que as barreiras norte-americanas ao etanol caiam por terra imediatamente. "Os dois países querem transformar o etanol em commodity e isso poderá suscitar uma aliança", explica

José Augusto de Castro, vice-presidente da Associação de Comércio Exterior do Brasil (AEB), acha difícil saber que postura Barack Obama adotará em relação à América Latina. "Não lembro de nenhuma palavra dele sobre a região." Mas isso não surpreende, segundo o dirigente da AEB, afinal o novo presidente tem problemas de sobra para resolver em seu país: crise de demanda, caos do setor imobiliário, escassez de crédito e desemprego. "Como são eles que têm um grande problema - o mundo convive com os efeitos do problema gerado por eles -, penso que Obama olhará primeiro para o próprio umbigo e só depois pensará no resto do mundo."

Castro lembra que o novo comandante dos Estados Unidos não deu muitas pistas sobre como será sua administração. "De concreto mesmo, ele só deixou claro que quer gerar 3 milhões de novos empregos em dois anos, mas não se sabe como fará isso. Ele pode recorrer a medidas que sejam uma solução para os Estados Unidos e um problema para o resto do mundo ou por decisões que representem uma solução para todos."

Entre as medidas que Obama pode recorrer para gerar empregos estão a imposição de barreiras discretas às importações, a adoção de uma política de estímulo às exportações e a atração de investimento para o setor produtivo norte-americano, analisa o vice-presidente da AEB. Neste último caso, diz ele, o Brasil e outros países emergentes teriam um concorrente adicional na disputa por capital estrangeiro.

Sobre eventuais barreiras às importações norte-americanas, Castro diz que os Estados Unidos têm um déficit comercial da ordem de US$ 700 bilhões e que é natural que o novo presidente tente reduzi-lo. "Qualquer americano sabe que isso significa importar desemprego, um problema que afeta justamente o eleitorado de Obama: latinos, negros e os menos favorecidos."

O representante da AEB não espera medidas protecionistas extremas porque na última reunião do G20, em 15 de dezembro, os norte-americanos garantiram que não criariam barreiras protecionistas. "Se houver alguma medida, ela será discreta, como a redução de cotas de importação ou o estabelecimento de cotas para setores hoje a salvo da restrição." Como lembra Castro, a Organização Mundial de Comércio (OMC) permite esse tipo de restrição quando o país tem algum desequilíbrio em sua balança comercial. "E eles têm um déficit comercial crônico."

Quanto às medidas de estímulo às exportações, elas tornariam os Estados Unidos um concorrente de peso de todos os países exportadores, inclusive do Brasil, visto que a entrada mais forte dos norte-americanos no comércio internacional elevaria o nível de concorrência. Com isso, a China, por exemplo, perderia alguns mercados. "O Brasil seria atingido imediatamente, porque somos grandes fornecedores de insumos para os chineses", completa Castro.

(Gazeta Mercantil/Caderno A - Pág. 19)(Sônia Salgueiro)