Título: Um negro na presidência dos Estados Unidos aconteceu afinal
Autor: Batista,Fabiana
Fonte: Gazeta Mercantil, 19/01/2009, internacional, p. A20

Rio de Janeiro, 19 de Janeiro de 2009 - Em 1965 (há, portanto, 44 anos e quando Obama tinha 4 anos), participei em Nova York de um seminário promovido pela National Educational Television que durou 90 minutos, com um público presente de duzentas pessoas.

Éramos seis debatedores: o jornalista Ossie Davis, escritor inglês; Basil Davidson, escritor inglês; John Hope Franklin, historiador americano; S. O Adebo, embaixador da Nigéria nos Estados Unidos; John A Davis, Presidente da Sociedade Americana de Estudos Africanos; e o autor destas linhas na qualidade de escritor brasileiro que residira na África e sobre ela escrevera. O que dissemos no debate foi posteriormente publicado num volume chamado "History of the Negro People", de que recebi um exemplar que me levou agora de volta ao entusiasmo que todos os participantes tivemos na época.

O debate, minucioso, foi seguido de uma conversa, já fora do programa de televisão. Assunto: quando seria possível a ascensão de um presidente negro nos Estados Unidos? Chegamos a duas conclusões: no século XX não parecia certo que tal acontecesse e, quando a ocasião fosse propicia, o candidato seria Democrata, não Republicano.

Novo presidente

Hoje estamos assistindo Barack Hussein Obama II tomar posse como presidente do país, sendo o primeiro afro-americano eleito para o cargo. A mãe de Obama era branca, seu pai, Barack Obama Senior, negro, nascera no Quênia. Estudava ele quando o filho nasceu, na Universidade do Havaí. Antes dos 34 anos Obama filho perdeu pai e mãe, enquanto frequentava a Universidade de Columbia em Nova York, onde se formou em Ciências Políticas.

Mas é natural que, estejamos todos esperando que problemas raciais que ocorrem nos Estados Unidos deixem completamente de existir, o que pode não acontecer. O presidente Obama assume o poder numa hora de crise econômica.

Presença de Obama

Todos os que se lembram de 1929 sabem que, no Brasil, a crise atingiu toda a estrutura do país e pode-se até dizer que Getúlio Vargas só chegou ao poder por causa dela.

Embora a crise de hoje pareça não ter a dimensão da antiga, não deixa o momento de assustar principalmente a classe média de muitos países.

A presença de Obama poderá, logo no começo, mostrar se ele está à altura dos problemas de agora. Que fará ele na direção de um país poderoso como os Estados Unidos? A notícia de que pretende fechar a prisão de Guantâmano em Cuba no primeiro dia de seu governo agradou aos liberais dos Estados Unidos, embora o que há de burocracia num ato desses possa levar tempo. O anúncio de tal decisão, porém, é um bom augúrio.

O problema econômico poderá exigir outro tipo de atitude e isto se verá logo no começo de seu governo. Disse William Faulkner certa vez: "O passado nunca está morto". Acrescenta que o passado nunca é passado. Está sempre aí.

Até onde o passado que jogou muita gente na miséria nos anos 20 pode estar voltando agora e terá a enfrentá-lo um presidente negro que se preparou para a liderança que hoje ostenta depois de uma vitória política, sob muitos aspectos, inesperada.

Afinal, surgiu, dirigindo o país mais rico do planeta, um negro que parece ter a coragem de tomar decisões difíceis.

(Gazeta Mercantil/Caderno A - Pág. 20)(Antonio Olinto - Membro da Academia Brasileira de Letras (ABL), vice-presidente do Pen Club Internacional, doutor Honoris Causa da Faculdade Governador Ozanam Coelho (Ubá-MG) e da Universidade Vasile Goldis, de Arad (Romênia))