Título: Putin será um dos destaques em Davos
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Fonte: Gazeta Mercantil, 28/01/2009, Internacional, p. A10
Moscou e Genebra (Suíça), 28 de Janeiro de 2009 - O primeiro-ministro russo, Vladimir Putin, pronunciará hoje o discurso de abertura do encontro anual do World Economic Forum (WEF) em Davos, Suíça, no qual analisará as consequências da crise financeira mundial e poderá evocar a guerra do gás com a Ucrânia, anunciou ontem o conselheiro diplomático do premier.
"Vladimir Putin estará pela primeira vez em Davos como principal interventor sobre o tema do mundo pós-crise", indicou Iouri Ouchakov, número dois da administração de Putin, encarregado das relações internacionais, em entrevista á imprensa em Moscou.
Segundo o porta-voz de Putin, Dmitri Peskov, o discurso do primeiro-ministro, que deve começar às 15h30 (horário de Brasília) e durar 30 minutos, dará o tom das discussões em Davos. O WEF voltará a reunir, a partir de hoje a elite política e econômica do planeta para discutir soluções para uma crise que começa a questionar sua tradicional e inalterável fé no capitalismo e na globalização.
"É muito provável que o tema da segurança energética seja evocado no discurso", continuou Peskov, referindo-se à recente guerra do gás entre russos e ucranianos, que deixou a Europa sem gás durante duas semanas. "É um dos assuntos da atualidade que será ativamente discutido nos corredores", acrescentou Ouchakov.
Ponto de encontro privilegiado de cerca de 2,5 mil dirigentes políticos e empresariais, o 39 encontro anual do WEF se realizará sob uma atmosfera inusualmente sombria em razão da crise econômica e financeira mundial, somada às ameaças ao clima.
Nova arquitetura global
O presidente e fundador do WEF, Klaus Schwab, fixou como principal objetivo "ajudar os países pertencentes ao G20" e as modalidades de auxílio serão anunciadas antes da cúpula prevista para começo de abril próximo em Londres. Terá, portanto, que "reconstruir a arquitetura financeira mundial" e "reativar a economia do planeta", disse. "Ainda estamos no meio da crise", admitiu Schwab em Genebra, ao expressar esperança de que a cidade do Alpes suíços, conhecida no passado por seus sanatórios de tratamento da tuberculose, seja o lugar em que se desenhe a "convalescença" da economia mundial.
Para isso, o ex-professor de economia contará com um grupo de personalidades especialmente escolhidas este ano: 43 chefes de Estado e de governo, o dobro do habitual. Além de Putin, que fará o discurso inaugural do encontro, outro convidado excepcional será o premier chinês, Wen Jiabao, acompanhado por uma importante missão de empresários; segundo a tradição, também estarão a chanceler alemã, Angela Merkel, e o primeiro-ministro britânico, Gordon Brown.
O novo governo americano não contará com as presenças de Larry Summers, o novo diretor do Conselho Econômico Nacional da Casa Branca, e Timothy Geithner, o secretário do Tesouro designado. Serão substituídos por Valerie Jarret, conselheira do presidente Barack Obama.
O WEF terá a representação de ministros de Finanças e dirigentes de bancos centrais, que analisarão como criar um novo sistema financeiro mundial.
Mas não se deve esperar milagres, segundo especialistas. "Davos continua sendo um lugar de discussão sem grande impacto no mundo real", disse um economista familiarizado com o WEF. "É, sobretudo, uma grande oportunidade para os dirigentes (das grandes empresas) se reunirem em lugar neutro", acrescentou a fonte, ao avaliar que, no entanto, " um sinal de cooperação dos políticos" seria "muito bem-vinda", especialmente em relação às ameaças protecionistas.