Título: Crédito se recupera e cresce 31% no ano
Autor: Aliski,Ayr
Fonte: Gazeta Mercantil, 28/01/2009, Finanças, p. B1

Brasília, 28 de Janeiro de 2009 - Depois da brusca queda registrada em outubro e novembro por conta do agravamento da crise financeira internacional, o estoque total de operações de crédito do sistema financeiro cresceu 1,6% em dezembro na comparação com o mês anterior, atingindo R$ 1,227 trilhão ao final de 2008. Isso significa que o saldo total representou o percentual recorde de 41,3% do Produto Interno Bruto (PIB) no final do ano, alta de 7,1 pontos percentuais na comparação com os 34,2% do PIB registrados quando 2007 terminou. Os números foram divulgados ontem pelo chefe do Departamento Econômico (Depec) do Banco Central, Altamir Lopes.

E essa relação positiva entre total de crédito e PIB não deverá cair, a despeito da desaceleração da economia, dos juros altos e dos spreads elevados, indicam especialistas de mercado e o próprio Banco Central. A estimativa mais modesta aponta para aumento do saldo de operações de crédito em pelo menos 15% o final de 2009. Em valores, o saldo de operações de crédito aumentou 31,1% no ano passado.

Lopes disse que, apesar do "constrangimento de crédito", há clara expansão do estoque de empréstimos e de novas liberações. Segundo o especialista do BC, trata-se de efeitos das medidas já adotadas pelo governo, como a redução de depósitos compulsórios. Lopes destacou que a expansão de 2008 foi impulsionada principalmente pelo crédito demandado por empresas. O saldo de operações de crédito com recursos livres para pessoas jurídicas aumentou 39,1% em 2008, atingindo R$ 477 bilhões ao final do ano. Já no segmento de pessoas físicas, o crescimento foi de 24,3%, encerrando 2008 com saldo de R$ 394 bilhões. "Observamos atualmente estabilidade no crédito livre e aumento do crédito direcionado", afirmou Lopes.

Quanto aos resultados de dezembro, o BC admite que o empréstimo de R$ 2 bilhões feito à Petrobras pela Caixa Econômica Federal impulsionou o resultado positivo de concessões, tanto no estoque mensal como nas médias diárias. Mas o resultado do mês não deve ser creditado apenas a essa operação, alerta, ao defender que há uma maior fluidez do crédito, depois do enxugamento após o impacto inicial da crise mundial.

No novo momento econômico criado depois da explosão da crise financeira, os bancos públicos ganharam espaço, mostram os dados do BC. Em dezembro de 2007, as instituições estatais respondiam por 34% do estoque de crédito, fatia que chegou a 36% no final do ano passado. Em dezembro, os bancos públicos aumentaram o saldo de operações de crédito em 3,6%, atingindo R$ 445 bilhões. No mesmo período, os bancos privados nacionais elevaram a carteira em 0,6% e os bancos estrangeiros em 0,3%.

Na análise do economista-chefe da consultoria LCA, Bráulio Borges, a manutenção das médias diárias de concessões no último trimestre é um indicador de que o crédito segue em expansão. Ele projeta aumento entre 15% e 20% do saldo de operações de crédito até o final do ano. O economista-chefe da Federação Brasileira dos Bancos (Febraban), Rubens Sardemberg, estima aumento do saldo de operações entre 15% e 20%, com maior ênfase no segmento de pessoas jurídicas. Apesar da expansão deste ano, o diretor-executivo da Associação Nacional de Executivos de Finanças, Roberto Vertamatti, destaca que o crédito ainda tem muito a crescer, lembrando que no Chile o crédito representa 80% do PIB.

O economista Bruno Rocha, da Tendências Consultoria, explica que 2008 foi dividido em dois períodos distintos: o primeiro com fortes expansões do crédito, que durou até setembro, e um segundo momento no último trimestre, marcado pelo arrefecimento, mas ainda assim com manutenção da expansão. Rocha considerou dados sobre as médias diárias de concessões para pessoas jurídicas dos meses entre janeiro e setembro e comparou os resultados desses mesmos meses em 2007. Nessa comparação, registrou-se uma expansão de 15,7% no volume de liberações de crédito. Já no período pós-crise, entre outubro e dezembro, o aumento foi de apenas 3,2%.

Segundo Rocha, o último trimestre pode ter sido mais fraco, mas ainda assim apresentou crescimento no fluxo de liberação de novos empréstimos. A expansão do crédito não terá um salto como o de 2008, mas há crescimento assegurado, diz o economista da Tendências. Ele projeta uma expansão de aproximadamente quatro pontos percentuais na relação entre estoque de crédito e PIB, para pelo menos 45%.

Ver também página B2(Gazeta Mercantil/Finanças & Mercados - Pág. 1)(Ayr Aliski)