Título: Álcool fica 8,6% mais caro
Autor: Freitas, Jorge
Fonte: Correio Braziliense, 19/03/2011, Economia, p. 21

Apesar da pressão que o governo tem feito sobre os usineiros para conter o aumento de preços e garantir o abastecimento dos automóveis, os preços do etanol sobem sem parar há nove semanas consecutivas. Somente nos últimos sete dias, o álcool hidratado ficou 8,64% mais caro e o álcool anidro, 6,68%. O litro do primeiro passou de R$ 1,375 para R$ 1,494, enquanto o do segundo subiu de R$ 1,453 para R$ 1,551, segundo pesquisa do Centro de Estudos Avançados em Economia Aplicada (Cepea/Esalq) da Universidade de São Paulo.

Depois das várias reuniões com o governo nos últimos dias, as usinas começaram a montar a estratégia para antecipar a safra e a moagem da cana de açúcar, como o ministro da Fazenda, Guido Mantega, exigiu. Ele está temeroso de que a alta dos preços do álcool empurrem o valor da gasolina para além do desejável, pressionando ainda mais a inflação que o Banco Central vem tentando controlar por meio do aumento da taxa básica de juros (Selic).

Algumas empresas atenderam aos apelos do governo e começaram a contratar mão de obra e a preparar os equipamentos que serão usados para moer cana e produzir etanol, em lugar de açúcar. Mas o mercado de combustíveis contará com oferta de álcool somente na segunda quinzena de abril, quando as usinas prometem colocar à disposição dos consumidores um volume de 1,3 bilhão de litros do produto ao mês.

Com o álcool mais caro, os consumidores estão migrando para a gasolina. Em São Paulo, por exemplo, o litro do etanol ultrapassou a barreira de R$ 2, o equivalente a 78,1% do preço da gasolina. A crise de abastecimento é tão grave que comprar etanol só vale a pena, atualmente, em Mato Grosso, onde custa produto vale 69,13% da gasolina. Em Goiás, a relação é de 75,67%. A gasolina está mais vantajosa, principalmente, no Rio Grande do Sul, onde o etanol corresponde a 90,67% do valor do derivado do petróleo. Em Santa Catarina, atinge 85,29%.

¿Estamos motivando as usinas a anteciparem a produção. Do ponto de vista da gasolina e do álcool anidro, temos certo conforto, porque as empresas garantem a mistura de 25%¿, afirmou o diretor técnico da União da Indústria de Cana de Açúcar, Antônio de Pádua. Mas, para o presidente do Sindicato do Comércio Varejista de Combustíveis do Distrito Federal (Sindicombustíveis), José Carlos Fonseca, falta nacionalismo aos usineiros. ¿Eles receberam incentivos para produzir e garantir o abastecimento, mas sempre falta produto na entressafra. Cadê os estoques?¿, indagou.

O presidente do Sindicato Nacional das Distribuidoras de Combustíveis (Sindicom), Alísio Vaz, afirmou que, desde o início da alta dos preços, as vendas de etanol caíram 50%, comprovando a migração dos consumidores para a gasolina. ¿Com a importação de 100 milhões de litros de álcool anidro, o problema de abastecimento será resolvido¿, disse.

IGP-M desacelera » A inflação medida pelo Índice Geral de Preços do Mercado (IGP-M) desacelerou no início do mês. Segundo informou ontem a Fundação Getulio Vargas (FGV), o indicador subiu 0,59% na segunda prévia de março, ante alta de 0,88% em igual período de fevereiro. O Índice de Preços ao Consumidor (IPC) subiu 0,45% nesta leitura, ante variação positiva anterior de 0,54%. Os custos de educação, leitura e recreação diminuíram a alta para 0,05% contra 1,68%. A elevação de transportes foi para 0,96%, após 1,56% na segunda leitura de fevereiro, enquanto a de despesas diversas diminuiu de 1,49% para 0,42%. Os principais recuos de preços no varejo foram de alcatra, contrafilé, passagem aérea, açúcar refinado e alho. Já em sentido oposto, a FGV apurou avanços nas taxas de variação de vestuário (de -0,45% para 0,76%), alimentação (-0,07% para 0,19%), saúde e cuidados pessoais (de 0,31% para 0,56%) e habitação (de 0,48% para 0,53%).