Título: Apesar da crise, indústria do fumo deve manter mercado
Autor: Cigana,Caio
Fonte: Gazeta Mercantil, 28/01/2009, Agronegócio, p. B9

Porto Alegre, 28 de Janeiro de 2009 - Os estragos da crise econômica global não devem alcançar o setor fumageiro do Brasil em 2009. Conforme o Sindicato da Indústria do Fumo (SindiTabaco), a demanda mundial seguirá estável este ano e o volume de exportações tende a ter um desempenho semelhante ao de 2008, quando o País embarcou 686 mil toneladas e faturou US$ 2,71 bilhões, consolidando-se na liderança do comércio mundial de tabaco.

O total de fumo comercializado ao exterior apresentou uma pequena queda de 2% em comparação com 2007, mas a receita foi recorde e subiu 23% em função dos reajustes aceitos pelos importadores.

"O preço médio de venda de 2008 subiu 26% em relação a 2007 e alcançou US$ 3,98 o quilo. É o maior preço médio da história", diz o presidente do SindiTabaco, Iro Schünke, explicando que o aumento dos preços foi negociado com os importadores no momento de trajetória de queda do dólar ano passado, o que os levou a aceitar um reajuste em moeda norte-americana.

A União Européia foi o principal destino do fumo exportado pela industria fumageira do País. Em 2008 absorveu 40% das exportações, seguida pelo Extremo Oriente (21%).

Schünke diz que não é possível ainda fazer projeções para a receita cambial proporcionada pelas exportações neste ano. A impossibilidade de prever o resultado financeiro em virtude do comportamento incerto do câmbio e de uma possível queda dos preços em dólar.

"É bem possível que agora os clientes estrangeiros queiram regatear", admite Schünke. Já os volumes dependem mais do resultado da safra do que da demanda mundial.

"O consumo mundial de cigarro está estável apesar da crise. A previsão é de até um pequeno crescimento e os estoques mundiais também estão equilibrados", diz. Segundo ele, o último número disponível sobre o consumo de cigarros aponta para 5,5 trilhões de unidades em 2007.

A safra de fumo deste ano no Brasil, concentrada nos três estados do Sul, deve chegar a 715 mil toneladas. Considerando a média histórica de produtividade, o volume poderia chegar a 760 mil toneladas, mas problemas climáticos em regiões produtoras como o Vale do Rio Pardo, no Rio Grande do Sul, e o Vale do Itajaí, em Santa Catarina, devem levar o setor a colher uma safra menor.

Normalmente, 85% da produção brasileira são exportados. "Já a qualidade do tabaco da última safra deve ser de média a boa", avalia. A área plantada na atual safra subiu 6%, chegando a 376 mil hectares.

Com a demanda mundial firme, Schünke diz que os empregos na indústria fumageira também devem se manter em níveis semelhantes ao de 2007. No período de compra de safra e processamento do tabaco, que se estende até o início do segundo semestre, a indústria dos três estados do Sul devem empregar cerca de 30 mil pessoas, sendo 25 mil apenas no Rio Grande do Sul, maior produtor nacional. Destes, a grosso modo, dois terços são temporários.

Conforme Schünke, o único reflexo da crise financeira internacional no setor hoje é a dificuldade de acessar crédito para a compra da produção dos agricultores, além do custo mais caro para obter os recursos. As projeções da entidade indicam que as indústrias precisarão este ano de cerca de R$ 4 bilhões para adquirir o fumo das lavouras. A compra da safra de 186 mil famílias de pequenos agricultores ocorre de janeiro a julho.

(Gazeta Mercantil/Finanças & Mercados - Pág. 9)(Caio Cigana)