Título: Estiagem na Argentina muda dinâmica dos negócios com trigo
Autor: Tenório,Roberto
Fonte: Gazeta Mercantil, 28/01/2009, Agronegócio, p. B10

São Paulo, 28 de Janeiro de 2009 - As incertezas em torno da produção de trigo na Argentina mudaram a dinâmica dos negócios no mercado interno e provocaram retração na oferta e crescimento da demanda pelo grão. De olho no potencial de alta do mercado, os produtores reduziram o volume dos negócios na expectativa de preços mais remuneradores. Já os moinhos, preocupados com o rumo da agricultura no país vizinho, partiram para as compras com o objetivo de garantir matéria-prima. No entanto, analistas explicam que algumas indústrias têm tido dificuldades para encontrar o produto brasileiro. A situação foi potencializada pela suspensão nas licenças para exportação do cereal argentino desde a semana passada, direcionando a indústria moageira ao mercado interno.

O cenário é oposto ao do mês passado, quando os triticultores procuravam vender o produto para honrar as contas de fim de ano e não encontravam preços acima de R$ 460,00 a tonelada. Essa mudança resultou em uma alta de pouco mais de 19% na tonelada do trigo negociado no País no último mês, segundo dados da Safras & Mercado. Levantamento da consultoria aponta ofertas de até R$ 550 pela tonelada do trigo paranaense, porém sem obter sucesso. Élcio Bento, analista da consultoria, afirma que os moinhos terão que buscar mais de um milhão de toneladas do produto fora do Mercosul. "Mais uma vez as discussões sobre a isenção da tarifa de importação e do adicional sobre o frete deverão retornar à pauta entre governo e indústria".

Lawrence Pih, presidente do Grupo Moinho Pacífico, confirma que o país vizinho não está emitindo licença para exportações há mais de uma semana. Ele conta que a situação da Argentina já "acendeu o alerta" em alguns moinhos. Afirmou ainda que está trabalhando com uma situação menos pessimista, esperando uma safra argentina de 9 milhões de toneladas.

As últimas informações divulgadas apontavam uma produção de 8,3 milhões de toneladas no parceiro do Mercosul. A queda é de praticamente 50% em relação à safra anterior, quando foram colhidos 16 milhões de toneladas. Pih explica que vai continuar monitorando a situação para avaliar o melhor momento de compra. "Os estoques de passagem de lá ainda ão estão claros. Vamos continuar comprando no mercado interno e esperar a reabertura". Ele descarta a possibilidade de o governo liberar o ingresso de trigo fora do Mercosul com safra para comercializar no Brasil. "Essa valorização é boa para o produtor, que ainda tem trigo, e evita a utilização de ferramentas de comercialização", destacou.

Segundo a Organização das Cooperativas do Paraná (Ocepar), 45% da safra paranaense está nas mãos do produtor, enquanto a média nessa época é de 70%. Cassiano Bragagnolo, analista técnico da organização, afirma que os preços médios negociados ainda estão abaixo do mínimo, avaliado pelo governo em R$ 480 a tonelada . Segundo disse, a média atual é de R$ 460 a tonelada, ante os R$ 415 pagos pela tonelada do mês anterior. Mesmo assim, ele não acredita que a redução de área plantada do trigo seja relevante. "Os produtores tiveram muitas perdas com a estiagem no verão e vão tentar compensar isso com a safra de inverno", explica. Ele afirmou que o estoque de trigo no País está alto e não motivo de preocupação com a quebra na Argentina.

Bloqueio das Importações

O Ministério do Desenvolvimento, Indústria e Comércio Exterior (MDIC) confirmou ontem que o trigo em grão está entre os produtos que precisam de Licença para Importação (LI). Segundo informações da Reuters, foi divulgada uma nota no início do dia que incluía os cereais no pacote de produtos que precisarão de LI. Antes da confirmação, em entrevista à Gazeta Mercantil, Pih explicou que a LI era uma medida protecionista para restringir a entrada de farinha de trigo e estimular o emprego na indústria. "Não faz sentido o bloqueio para o trigo em grão porque o País sempre dependeu de importação".

No passado, o governo costumava exigir a LI. Segundo fontes do setor, isso atrapalhava os negócios, pois naquela época não havia certeza sobre quando o governo liberaria a LI. Agora o ministério promete dar a LI em até 10 dias após a operação ser registrada no Sistema Integrado de Comércio Exterior.

(Gazeta Mercantil/Finanças & Mercados - Pág. 10)(Roberto Tenório)