Título: Petrobras adota nova tecnologia em poços da BA
Autor: Filho,José Pacheco Maia
Fonte: Gazeta Mercantil, 28/01/2009, Infra-Estrutura, p. C3

Salvador, 28 de Janeiro de 2009 - A Petrobras está utilizando a sonda cross rig river, usada pela engenharia civil na construção de pontes, para a exploração de petróleo no campo de Dom João, no município de São Francisco do Conde, a 70 quilômetros de Salvador, no Recôncavo Baiano. A inovação tecnológica surgiu da necessidade de retomar a extração do óleo na parte do campo que se estende ao mar da Baía de Todos os Santos. A área onde há uma reserva de 20 milhões de barris foi explorada por quatro décadas, de 1951 até os anos 1990, quando a produção em mar foi suspensa por questões de ordem ambiental e pela queda do preço de petróleo, sendo mantida apenas a extração de gás natural.

"Dos 634 poços existentes no mar, só restaram oito que produzem apenas gás", diz o gerente geral da Unidade de Exploração e Produção da Petrobras na Bahia, Antonio Rivas. Com a decisão de retomar a produção petrolífera do Recôncavo Baiano a partir de 2003, a parte marítima do campo de Dom João, que já chegou ao pico de produzir 14.026 barris/dia em 1967, foi lembrada. O problema era a impossibilidade da perfuração com sondas convencionais em mar por questões de preservação ambiental.

A alternativa que começou a ser pensada em 2006 foi a perfuração dos poços da terra para o mar. Por causa do reservatório raso, com 280 metros de profundidade, a exploração em Dom João por meio de sondas convencionais ficava limitada, sem condições de maior afastamento da costa. "Só conseguiríamos nos afastar até 900 metros", diz Rivas. A forma encontrada para contornar o problema foi realizar a perfuração de forma horizontal a partir da terra com a utilização da sonda cross rig river. Com a adaptação do equipamento foi possível perfurar poços de petróleo a partir da terra, com mais de três quilômetros de distância em direção ao mar.

Segundo Rivas, a inovação foi desenvolvida pelos engenheiros da Petrobras e está em processo de registro de patente. "Já foram perfurados quatro poços no campo de Dom João por meio da nova tecnologia, com produção de 200 barris por dia, mas a expectativa é que dezenas sejam instalados de agora em diante", afirma. O investimento em cada poço é da ordem de US$ 4 milhões, mas com o desenvolvimento da tecnologia, Rivas diz que o custo vai cair.

Onde tudo começouHá 70 anos o petróleo jorrou pela primeira vez no Brasil. O primeiro poço no qual foi encontrado o chamado ouro negro foi perfurado em Lobato, na periferia de Salvador, pelos engenheiros Oscar Cordeiro e Manoel Inácio Bastos, em 21 de janeiro de 1939. A produção petrolífera baiana que já teve uma média de 150 mil barris/dia na região do Recôncavo, hoje está em 48 mil barris diários, mas a tendência atual é de ampliação.

Até 2012, segundo prevê Rivas, a produção terá um incremento, só em terra, de 15%, superando 50 mil barris/dia, com investimentos da ordem de R$ 1 bilhão para perfuração de novos poços e recuperação e manutenção de campos maduros do Recôncavo Baiano, onde atualmente existem 1,6 mil poços em atividade, produzindo cerca de 40 mil barris/dia.

No fundo do mar

A grande expectativa produtiva, no entanto, é com a exploração marítima. Nos mil quilômetros de extensão da costa baiana, há 21 blocos exploratórios com contratos de concessão assinados, dos quais 17 contam com a participação da Petrobras. Para Rivas, são desses campos marítimos que emergirá o grande incremento da produção petrolífera baiana. As explorações estão sendo feitas nas bacias de Camamu - onde está localizado o campo de Manati -, Almada e Jequitinhonha.

"Estamos fazendo atualmente em Manati a perfuração de poço exploratório de petróleo e gás com profundidade de 1,8 mil metros, que poderá ser um novo campo", informa Rivas. Segundo ele, o investimento é de US$ 40 milhões na operação que envolve um consórcio entre Petrobras, Queiroz Galvão, Norsi e Brasoil.

Na bacia de Almada, no litoral de Ilhéus e Itacaré, foram perfurados dois poços exploratórios que ainda não apresentaram resultados comerciais. Mas, de acordo com o executivo da Petrobras, ainda neste ano novas explorações serão realizadas na região, que é bastante promissora.

A primeira tentativa de exploração do pré-sal na bacia do Jequitinhonha não pôde ser concluída por causa de problemas mecânicos que só permitiram a perfuração até 4,3 mil metros de profundidade. De acordo com Rivas, a operação realizada pela Petrobras em conjunto com a estatal norueguesa Statoil constatou a presença de petróleo mas sem a dimensão para afirmar se há potencial comercial.

O executivo da Petrobras, no entanto, afirma que nova tentativa será feita ainda no primeiro semestre deste ano no bloco BMJ3, na bacia do Jequitinhonha. "Na primeira sondagem faltaram 1,2 mil metros, mas vamos testar a existência de petróleo na camada de pré-sal em outro poço na bacia do Jequitinhonha", informa Rivas.

(Gazeta Mercantil/Caderno C - Pág. 3)(José Pacheco Maia Filho)