Título: Indústria tem o pior quarto trimestre dos últimos dez anos
Autor: Oliveira,Ana Carolina
Fonte: Gazeta Mercantil, 30/01/2009, Brasil, p. A6

Brasília, 30 de Janeiro de 2009 - As indústrias brasileiras já foram afetadas pela crise financeira internacional. O quarto trimestre de 2008 foi o pior dos últimos dez anos para o setor. A produção industrial teve uma queda de 17 pontos percentuais (p.p.), caindo de 57,8 pontos no terceiro trimestre do ano passado para 40,8 pontos. Em igual período de 2007, esse indicador registrou 59. A pontuação segue uma escala de zero a 100 e quando as notas são menores de 50 é um indicativo de retração de atividade. Os dados foram informados ontem pela Confederação Nacional da Indústria (CNI).

A queda na produção das grandes empresas foi mais acentuada que a das pequenas e médias, em que tradicionalmente o recuo é comum. No quarto trimestre de 2008, as empresas de grande porte tiveram recuo de 38,8 pontos percentuais em relação ao mesmo período de 2007, quando houve crescimento de 59,7 pontos. As pequenas empresas tiveram queda de 42,3 p.p. e as médias, de 42 p.p.

Segundo o gerente de Pesquisas da CNI, Renato da Fonseca, as grandes empresas foram atingidas mais fortemente porque elas já vendem para os mercados externos. "É uma crise que veio de fora e atingiu mais as empresas que estão internacionalizadas", afirmou o gerente da CNI.

A pesquisa da confederação é feita trimestralmente com indústrias de 23 estados do País. Esta última foi realizada entre os dias 5 e 26 deste mês. Foram consultadas 1,4 mil empresas em todo o País, sendo 749 de pequeno portes, 444 de porte médio e 214 grandes empresas.

Dos 28 setores pesquisados, apenas três cresceram: bebidas, limpeza e perfumaria e vestuário. As empresas de bebidas tiveram crescimento de 69,2 p.p. As de limpeza e perfumaria aumentaram 60,5 p.p., enquanto as de vestuário ficaram com 52,8 pontos. O setor que mais encolheu foi o de veículos automotores, com 23,4 p.p. Borracha, couro e metalurgia básica apresentaram queda e ficaram com índices abaixo de 30 pontos.

O Uso da Capacidade Instalada (UCI) também apresentou desaceleração no último trimestre. Ele caiu para 74%. No mesmo período de 2007, o UCI crescia 80%. Isso representa uma queda de 6 pontos percentuais. Essa queda leva o uso da capacidade instalada ao mesmo nível do quarto trimestre de 2003.

Segundo a CNI, a redução desse indicador é comum a todos os portes de empresa pesquisados. As pequenas empresas registraram recuo de 5 p.p., as médias tiveram uma queda de 6 pontos, enquanto as grandes caíram 6 p.p. Em todas pesquisas com os grupos de empresas a comparação é feita em relação ao terceiro trimestre de 2007.

Emprego

Com a queda na produção, o emprego industrial também apresentou forte recuo. O índice de evolução do número de empregados ficou em 44 pontos, uma queda de 10 p.p. em relação ao mesmo período de 2007, quando ele estava em 54,4 p.p. O índice também é o menor desde o primeiro trimestre de 1999, o que interrompe o processo de crescimento do emprego industrial que durou nove trimestres consecutivos. Segundo Renato da Fonseca, o setor ainda poderá aumentar o número de demissões. "Vai ter uma queda e com isso a produção será menor e consequentemente vai ter uma redução no número de empregos", disse ele.

Apesar da queda na produção, o nível de estoque nas indústrias teve crescimento significativo. Segundo a CNI, esse aumento é indesejável porque o acúmulo de materiais nos pátios significa queda nas vendas. No último trimestre do ano passado o crescimento dos estoques foi de 53,5 p.p.

Todos os portes de empresa apresentaram aumento no estoque. As grandes empresas ficaram com o maior volume de estoques, de 56,2 p.p. As pequenas e médias tiveram, respectivamente, 50,5 p.p. e 52,9 p.p.

Esse acúmulo nos estoques fez com que o indicador de estoque efetivo-planejado alcançasse 56,4 pontos. É o valor mais alto de toda a série histórica desde 1999. As grandes empresas mais uma vez foram as que apresentaram o maior índice de estoque acumulado, com 60,2 p.p. Apenas quatro setores registraram índice de estoque efetivo-planejado acima dos 60 pontos: Metalurgia Básica, com 68,6 pontos; Veículos Automotores, com 64,9; Calçados, com 64,5; Máquinas e Materiais Elétricos, com 60,7, e Têxteis, com 60,3 pontos.

Pessimismo

Os empresários ficaram mais pessimistas em relação aos próximos seis meses deste ano. Eles acreditam que haverá queda na demanda, no número de empregados, na compra de matérias-primas e na exportação. O recuo mais acentuado será na compra de matérias-primas, com 38,9 pontos percentuais. Os industriais acreditam também que a demanda irá cair 39,7 pontos, que o número de empregados apresentará recuo de 40,5 p.p. e que a exportação poderá cair para 41,7 pontos.

A pior expectativa para a demanda é nos setores automotivo, de máquinas e equipamentos, metalurgia e máquinas e matérias elétricos. O índice não passou de 31 pontos para os empresários desses setores, que esperam queda na procura por seus produtos. No quesito número de empregados, o índice de expectativa aponta para uma redução no número de vagas. O índice recuou 9,3 pontos em relação a outubro de 2008 e chegou a 40,5 pontos. A pontuação também é a menor desde 1999.

Segundo a CNI, empresários de todos os setores da indústria esperam queda acentuada na demanda por seus produtos. "As perspectivas dos empresários para os próximos seis meses se tornaram amplamente desfavoráveis neste início de ano. Empresários de todos os portes de empresa e da grande maioria dos setores pesquisados esperam queda na demanda de seus produtos", diz a nota da CNI.

(Gazeta Mercantil/Caderno A - Pág. 6)(Ana Carolina Oliveira)