Título: Lula diz que o FMI deveria estimular desenvolvimento
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Fonte: Gazeta Mercantil, 22/09/2004, Opinião, p. A-4

Brasil, Japão, Índia e Alemanha reforçam o apoio mútuo na ONU. O presidente Luiz Inácio Lula da Silva pediu ontem ao Fundo Monetário Internacional (FMI) e às outras agências de fomento que se concentrem mais em estimular o desenvolvimento, ao invés da disciplina fiscal, para não agravar os problemas econômicos dos países pobres. "Creio que é o momento de dizer com toda a clareza que a retomada do desenvolvimento justo e sustentável requer uma mudança importante nos fluxos de financiamento dos organismos multilaterais", disse Lula ao participar da abertura da 59ª Assembléia Geral da Organização das Nações Unidas (ONU), em Nova York, nos Estados Unidos. Segundo ele, organismos como o FMI e o Banco Mundial "foram criados para encontrar soluções, mas às vezes, por excessiva rigidez, tornam-se parte do problema."

Lula também pregou uma reforma no Conselho de Segurança da ONU, formado hoje por 15 países. O Brasil pleiteia uma cadeira permanente no conselho. Hoje só têm esse status Estados Unidos, China, Rússia, Grã-Bretanha e França. "Qualquer reforma que se limite a uma nova roupagem para a atual estrutura, sem aumentar o número de membros permanentes é, com certeza, insuficiente", disse.

Além do Brasil, Japão, Índia e Alemanha também defendem o aumento do número de assentos permanentes no Conselho e o direito a um deles. Ontem os quatro países, que decidiram pelo apoio mútuo, divulgaram nota conjunta na qual defendem a reforma não só do Conselho de Segurança, mas "das Nações Unidas como um todo".

"Brasil, Alemanha, Índia e Japão, baseados no firma reconhecimento mútuo de que são candidatos legítimos a membros permanentes em um Conselho de Segurança ampliado, apóiam suas candidaturas de forma recíproca".

O Brasil também vem pressionando o FMI para que os investimentos em infra-estrutura sejam excluídos dos cálculos das metas fiscais. O fundo estuda a idéia. "O FMI deve credenciar-se para fornecer o aval e a liquidez necessários a investimentos produtivos, especialmente em infra-estrutura, saneamento e habitação, que permitirão, inclusive, recuperar a capacidade de pagamento das nações mais pobres", disse Lula.

Ação militar e terrorismo

Lula também ressaltou ontem que o terrorismo não pode ser combatido apenas com ações militares. "O necessário combate ao terrorismo não pode ser concebido apenas em termos militares. Precisamos desenvolver estratégias que combinem solidariedade e firmeza, mas com estrito respeito ao Direito Internacional", disse.

O presidente citou a falta de soluções para os conflitos no Oriente Médio e disse que o governo brasileiro não acredita "na interferência de assuntos internos de outros países, mas tampouco nos refugiamos na omissão e indiferença diante de problemas que afetam nosso vizinhos". Lula lembrou a ajuda do Brasil e de outras nações no processo de reconstrução do Haiti.

O presidente destacou ainda que a América Latina, apesar dos conhecidos problemas sociais e econômicos que sofre, está passando por um "período de amadurecimento democrático com uma vibrante sociedade civil". E pediu a união dos países sul-americanos.

Em seu discurso, o presidente mencionou as conquistas obtidas pelos países em desenvolvimento na última reunião da Organização Mundial do Comércio (OMC), com a redução dos subsídios impostos pelos países ricos aos seus produtos agrícolas. Lula disse que a ação dos países asiáticos, africanos e da América Latina, por meio do G-20, permitiu a manutenção da idéia de "liberalização do comércio com justiça social".