Título: Filme velho na briga de Palocci com Mantega
Autor: Martins, Victor
Fonte: Correio Braziliense, 19/03/2011, Economia, p. 22

O clima bélico que dominou o alto escalão do governo tendo como protagonistas os dois ministros mais poderosos, Antonio Palocci (Casa Civil) e Guido Mantega (Fazenda), azedou o humor da presidente Dilma Rousseff, que exigiu uma trégua entre os dois. Mas quem acompanha o dia a dia da administração pública garante que a disputa por espaço ainda dará muita dor de cabeça à chefe do Executivo. Os mais atentos ressaltam que a guerra está seguindo o mesmo roteiro que dominou o primeiro mandato do presidente Lula.

Alvo de constantes ataques do então ministro da Casa Civil, José Dirceu, Palocci, o todo-poderoso da área econômica, corria para os braços de Lula e pedia ao presidente que fizesse declarações públicas não só o apoiando pessoalmente, como avalizando as medidas adotadas pela Fazenda. Agora, ao se sentir ameaçado, é Mantega que busca o conforto de Dilma contra Palocci. O primeiro pedido de suporte, por sinal, foi atendido rapidamente. Anteontem, a presidente mandou recados à imprensa por meio de seus assessores de que está plenamente satisfeita com o trabalho do ministro da Fazenda, apesar das queixas anteriores de que Mantega ¿fica dando explicação para porteiro de prédio¿.

Tanto Mantega quanto o ministro da Casa Civil já se armaram para enfrentar a artilharia um contra o outro. Os aliados de cada lado têm vazado confidências de arrepiar, um sinal de que um aceno de paz está muito longe, a despeito dos apelos presidenciais. ¿Eles podem até aparecer em público sorrindo um para o outro, mas as divergências entre os dois estão cristalizadas. As reclamações mútuas são constantes¿, disse um assessor do Palácio do Planalto.

Além da ânsia por poder, a disputa reflete o embate entre duas correntes de pensamento dentro do governo: a dos ortodoxos, liderada por Palocci, e a dos desenvolvimentistas, capitaneada por Mantega. Diante das constantes declarações do ministro da Fazenda pregando uma alta menor dos juros, mesmo com a disparada da inflação, a turma de Palocci tratou de espalhar que Mantega estava em baixa na avaliação de Dilma e a qualquer momento cairia. Seria a primeira mudança no alto escalão do governo. Ciente da fritura, o ministro da Fazenda escalou seu pelotão de choque para desqualificar Palocci e atribuir a ele a onda de boatos. A pergunta mais frequente entre os que gravitam no entorno de Dilma é até quando ela aguentará tanta divergência, pois os custos para seu governo podem ser enormes.

Cenas de constrangimento As reuniões entre DilmaRousseff e seus ministros têm sido marcadas por cenas de constrangimento. O chefe da Casa Civil, Antonio Palocci, costuma fazer comentários ásperos em relação ao titular da Fazenda, Guido Mantega, quando os dois estão na mesma sala. Palocci gosta de enfatizar, mesmo na frente de Dilma, que não dá para marcar reuniões às sextas-feiras porque é constante Mantega usar o último dia útil da semana para despachar de São Paulo, onde vive a família, e não de Brasília. Em carta ao Correio, Palocci negou divergências com o colega.