Título: Bônus generosos, como nos bons tempos
Autor:
Fonte: Gazeta Mercantil, 30/01/2009, Internacional, p. A10

30 de Janeiro de 2009 - Sob quase todos os parâmetros, 2008 foi um desastre para Wall Street - isto é, exceto quando chegaram os bônus.

Apesar das perdas enormes, dos resgates financeiros de bilhões de dólares e da saída de alguns dos nomes mais proeminentes do setor, os empregados de companhias financeiras de Nova York, a agora encolhida capital mundial do capital, receberam estimados US$ 18,4 bilhões em bônus para o ano.

Esse foi o sexto maior ganho da história, de acordo com um relatório divulgado na quarta-feira pelo contador do estado de Nova York. Embora os desembolsos tenham diminuído se comparados aos dos últimos anos, os trabalhadores de Wall Street ainda levaram para casa mais ou menos o mesmo que levaram em 2004, quando o Dow Jones estava acima dos 10 mil pontos, a caminho do recorde.

Alguns dos funcionários dos bancos levaram milhões para casa no ano passado mesmo no momento em que seus empregadores perdiam bilhões. A estimativa do contador, um número muito observado na temporada anual de bônus - de dezembro a janeiro - baseia-se em arrecadações de imposto de renda pessoal. Exclui as opções de compra de ações como prêmio que poderiam empurrar as cifras para patamares muito mais elevados.

O contador do estado, Thomas P. DiNapoli, disse que não estava claro se os bancos haviam usado dinheiro do contribuinte para os bônus, possibilidade que parece ultrajante aos especialistas em governança corporativa, e sem dúvida a muitos americanos comuns. Ele pediu que a administração Obama examine a questão de perto.

"A questão da transparência é significativa é preciso haver controle para se saber se o dinheiro do contribuinte foi usado para o pagamento de bônus ou aviões corporativos ou dividendos ou qualquer outra coisa", disse DiNapoli em uma entrevista.

Os banqueiros e corretores de Nova York estão bem mais pobres do que estavam em 2006, quando acordos recordes, e os lucros recordes que geraram, marcaram o início de uma era de hiper-riqueza em Wall Street. Ao todo, os bônus caíram 44% no ano passado, em relação aos US$ 32,9 bilhões em 2007, a maior queda em termos de dólar da história.

Mas o tamanho desse colapso reflete em parte os patamares elevados para os quais os bônus dispararam durante o período em que o mercado esteve em alta.

Em muitos bancos, esses pagamentos foram baseados em lucros que se mostraram efêmeros. Por toda a indústria financeira, anos de ganhos desapareceram nas chamas da crise de crédito.

De acordo com DiNapoli, as unidades de corretagem das empresas financeiras de Nova York perderam mais de US$ 35 bilhões em 2008, o triplo de 2007. É provável que a dor não termine aí e Wall Street está apostando que administração de Obama se movimente com rapidez para comprar alguns dos ativos problemáticos a fim de encorajar os bancos, que relutam, a conceder empréstimos.

(Gazeta Mercantil/Caderno A - Pág. 10)(Ben White The New York Times)