Título: Ford tem perda recorde mundial, mas lucra na América do Sul
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Fonte: Gazeta Mercantil, 30/01/2009, Empresas, p. C1
30 de Janeiro de 2009 - Mesmo com o mercado automotivo em crise no Brasil e na América do Sul, a região foi a única lucrativa para a Ford no último trimestre do ano passado. No período a Ford América do Sul relatou um lucro antes de impostos de US $ 105 milhões. O diretor de Assuntos Governamentais e Comunicação Coorporativa da Ford América do Sul, Rogelio Golfarb, disse que, apesar da região ter registrado queda de 75% em relação ao quarto trimestre de 2007, quando a Ford lucrou US $ 418 milhões, a região sofreu também o impacto da redução de vendas nos últimos meses de 2008.
"O ano de 2009 será preocupante. Ainda não sabemos como se comportará o mercado", disse o executivo. A receita da Ford na América do Sul no quanto trimestre foi de US $ 1,7 bilhões, ante US$ 2,4 bilhões apurados no mesmo período de 2007.
As medidas para estimular as vendas de veículos no Brasil, principal mercado da América do Sul, foram fundamentais para a lucratividade da montadora na região. "A redução do IPI (Imposto sobre a Produção Industrial) foi muito importante para o mercado brasileiro. Desde que a medida entrou em vigor, a indústria está conseguindo se recuperar. As vendas estão mais fortes", afirmou Golfarb.
Em janeiro, até a terceira semana, as vendas diárias atingiram o patamar de 9,2 mil veículos. Em dezembro do ano passado, eram vendidas cerca de 8,5 mil unidades por dia. "Agora temos que trabalhar com um novo mercado, bem mais retraído do que aquele dos últimos anos. Essa é a nova realidade", afirmou.
Sobrevivendo sem ajuda
No mundo a Ford Motor Co., a única entre as três grandes montadoras dos EUA que se absteve de pegar empréstimos do governo dos EUA, gastou US$ 5,5 bilhões em recursos em caixa no quarto trimestre e informou que vai recorrer a uma linha de crédito rotativo, depois de ter tido o pior desempenho anual de seus 105 anos de história.
O caixa do negócio automotivo da Ford caiu de US$ 18,9 bilhões, em 30 de setembro de 2008, para US$ 13,4 bilhões no final de dezembro, informou em um comunicado a empresa. "O que estamos observando são os recursos em caixa e o esgotamento desse dinheiro, acompanhando a situação para ver por quanto tempo a Ford pode sobreviver sem o dinheiro do governo", disse ontem Dennis Virag, presidente do Automotive Consulting Group, sediado em Ann Arbor, Michigan.
Prejuízo anual: US$ 14,6 bi
A Ford registrou um prejuízo em todo o ano de US$ 14,6 bilhões e um perda trimestral de US$ 5,9 bilhões. Excluindo itens que a empresa considera custos extraordinários e operações descontinuadas, o prejuízo trimestral foi de US$ 3,27 bilhões. O prejuízo líquido do ano anterior foi de US$ 2,81 bilhões.
As perdas da segunda maior montadora dos EUA ofuscaram o seu recorde de déficit anual anterior, de US$ 12,6 bilhões, registrado em 2006. A recessão reduziu o mercado norte-americano de automóveis ao patamar mais baixo em 16 anos. A General Motors . e a Chrysler pediram ajuda financeira ao governo dos EUA para se manter em operação.
A Ford informou que vai recorrer a sua linha de crédito, disponibilizando US$ 10,1 bilhões em dinheiro vivo no primeiro trimestre. A empresa disse também que o sindicato United Auto Workers concordou com o programa chamado "banco de empregos", em que os empregados são pagos mesmo quando não há trabalho, como já aconteceu com a GM e a Chrysler.
A receita trimestral da Ford desabou 36%, para US$ 29,2 bilhões, uma vez que as suas vendas de veículos nos Estados Unidos caíram 30%, acelerando o esgotamento dos recursos em caixa da empresa.
As vendas de automóveis diminuíram 18 % em 2008 e podem cair este ano ao nível mais baixo desde 1982, segundo previsões do setor.
A Ford disse que, com base em sua projeção de uma queda de 7,6% nas vendas nos EUA neste ano, em relação a 2008, para 12,2 milhões de veículos, a ajuda do governo não será necessária.
O presidente da empresa, William Clay Ford Jr., reiterou em 11 de janeiro que a montadora não pedirá empréstimos ao governo "a não ser que o mundo impluda ainda mais"
Depois de prejuízos anuais neste ano e que se estenderão até 2011, a empeesa deve voltar ao equilíbrio, com estimativas de lucro antes de impostos e excluindo itens especiais, prevê a Ford.(Gazeta Mercantil/Caderno C - Pág. 1)(Ana Paula Machado e Bloomberg News)