Título: Empresas apelam a profissionais maduros
Autor: Souza,Pedro
Fonte: Gazeta Mercantil, 30/01/2009, Vida Executiva, p. D7

são paulo, 30 de Janeiro de 2009 - A tendência das contratações de jovens talentos para cargos de alta chefia pode estar perdendo força. Em praticamente todos os setores da economia, a preocupação com o cenário de desconfiança no mercado - reflexo da crise internacional - vem gerando um movimento de caça aos altos executivos. Os headhunters, nos últimos três meses, estão buscando profissionais mais maduros, experientes e que tenham passado por outras situações de oscilações econômicas. Segundo o sócio-proprietário da empresa de recrutamento de gestores de alto nível CTPartners, Arthur Vasconcellos, "os profissionais que têm mais maturidade, experiência, serenidade e coragem para tomar decisões complicadas, como demitir muitos funcionários de uma só vez, estão sendo demandados."

O equilíbrio emocional é um fator de peso nas novas contratações. Homens de negócios que passaram por situações de risco econômico como a 'crise da dívida', em 1982 (iniciada no México) ou as mais recentes crises asiática, em 1997, e russa, em 1998, que geraram desconfiança no mundo inteiro, têm mais habilidade para lidar com a pressão do cenário atual.

Vasconcellos ilustra essa mudança de planos das empresas com uma analogia do jovem que acabou de tirar carteira de motorista. "Imagine um rapaz sem muita experiência no volante, com 19 ou 20 anos, em uma estrada lisa, sem muitas curvas. Ele vai dirigir o veículo muito bem até chegar ao seu destino. Por outro lado, o jovem não se sairia tão bem em uma via acidentada, com buracos por todos os lados e muita neblina", afirma.

A experiência de vida profissional é levada em conta, mas o perfil da empresa e do executivo devem ser semelhantes para que não haja conflitos na gestão. O profissional que passou por cargos de diretoria em mais de duas empresas está sendo demandado, tendo em vista que possui a capacidade de se adaptar aos seus próximos postos.

Outro fator levado em conta pelas empresas é o currículo atualizado. Tem mais valor aquele profissional que está em constante busca por aperfeiçoamento. O diretor comercial da Alpen Executive Search, André Bocater, acrescenta que " a procura por qualificações, aperfeiçoamentos em várias áreas, cursos especializantes, palestras, seminários e um contato direto com outros profissionais com altos cargos são desejáveis."

Ele destaca que, em seus últimos trabalhos de headhunter, seus clientes preferiram os profissionais considerados pró-ativos. "Além de um histórico de trabalho bom e uma atual posição considerável, a pró-atividade dentro da empresa também é importante", afirma.

O impacto da crise

Nos últimos dois meses, em vez de ampliarem seus quadros - tendência comum até o início da crise, em setembro -, as empresas optaram por substituir os executivos por profissionais mais experientes. Até o estouro da crise, a maior oferta de vagas era apresentada por empresas recém-chegadas no País. O diretor da empresa de recrutamento de executivos Robert Half, Fernando Mantovani, lembra que antes da ampla divulgação da crise financeira, as contratações eram, na maioria, para novos cargos. "Para cada dez altas posições disponíveis nas empresas que trabalhamos, oito eram para novos cargos e duas para substituições. Hoje, há uma inversão nesse movimento e oito contratações são para substituições e duas para novos cargos", explica.

Outra tendência constatada pelos headhunters é a contratação de profissionais com capacidade de exercer várias funções e comandar outras áreas da empresa. Esses profissionais multitarefas geram um maior custo para as empresas, mas não se compara ao que seria gasto com dois ou três executivos, um para cada área.

Mantovani lembra uma situação recente de valorização de profissionais com mais experiência. "Há alguns meses, a procura era grande por profissionais com muita experiência, mas a oferta era de profissionais mais jovens, que queriam grandes salário, sem muita prática". Hoje, a demanda por gestores está menor e, automaticamente, surge uma oferta maior, com muitos profissionais melhor qualificados.

A sócia-diretora da empresa de gestão de capital humano Mariaca, Fernanda Campos, ressalta que, além de habilidades em várias áreas, o profissional requisitado nesses últimos dois meses deve ter outras qualidades. "Esses gestores que apresentam capacidade e competência multicultural e multifuncional são muito procurados. Apresentar liderança, motivação, pensamentos estratégicos, conhecimento geral dos processos da empresa e habilidade para negociação interna e externa completam o currículo do executivo. Essas características, normalmente, se encaixam às pessoas com mais idade, mais maduras profissionalmente", diz. Em sua opinião, não existe uma idade para ser considerado jovem, uma vez que vários profissionais com menos de 40 anos apresentam mais qualidades profissionais e emocionais do outros com mais idade.

Esse movimento de diretores e presidentes foi percebido com mais intensidade nos setores financeiro e industrial, nos quais muitas multinacionais atuam no País. Para Vasconcellos, o exterior sentiu e sentirá mais o impacto da crise, que, para ele, é apenas uma desaceleração da economia. "Eu não acredito em recuperação da economia internacional em três anos, como muitos dizem. Para mim, ao menos no Brasil, em seis meses as coisas melhorarão."

Mantovani aguarda um cenário nacional de melhores oportunidades para os altos executivos, baseado no crescimento do produto interno bruto. "O esperado é um aumento entre 2,3% e 2,7% do PIB para 2009. As empresas com as quais tenho contato trabalham com o limite de 1,8%. Mesmo considerando um crescimento menor, é um crescimento e isso gera mais oportunidades."

Mas se os mais experientes estão em alta no cenário atual, os headhunters admitem que também é necessário um contraponto nas empresas, com equipes mistas. "Uma equipe super ousada, empreendedora, caracteristicamente jovem, controlada por um diretor experiente, com maturidade e que já passou por situações de dificuldade econômica seria o ideal", conclui Fernanda.

(Gazeta Mercantil/Caderno D - Pág. 7)(Pedro Souza)