Título: De igual para igual
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Fonte: Correio Braziliense, 19/03/2011, Opinião, p. 24

Barack Obama cumprirá em sua passagem por Brasília, hoje, e pelo Rio de Janeiro, amanhã, o papel de garoto-propaganda dos empresários norte-americanos ávidos por desfrutar do mercado brasileiro em tempos de dólar desvalorizado. Gozando de grande simpatia entre a população do Brasil, Obama se valerá das semelhanças culturais e étnicas com os anfitriões. O primeiro presidente negro dos Estados Unidos, que passou a infância no Havaí, onde adquiriu o gosto pelo clima praiano, quer, sobretudo, garantir a participação de seu país no pré-sal e nas obras de preparação para a Copa do Mundo de 2014 e as Olimpíadas de 2016.

Mérito de Obama ter tomado a iniciativa de cumprir agenda no maior país da América Latina. Para Dilma Rousseff e os diplomatas, trata-se de uma reverência importante. Para o mercado, é indício claro de que, no momento, os EUA estão mais interessados em ampliar sua vantagem na balança comercial com o Brasil (US$ 8 bilhões de superavit) que o inverso. Na imprensa internacional, haja vista matéria recente na renomada revista britânica The Economist, fala-se apenas na agenda do democrata, e praticamente nada dos interesses brasileiros.

O pré-sal despertou desejos na maior economia do planeta desde o anúncio de sua existência. Em meados de 2009, Washington já havia enviado à Petrobras e ao Ministério de Minas e Energia um emissário, Jim Jones, assessor de Segurança Nacional, especialmente para tratar do tema e prospectar oportunidades. Embora tenha sido eleito defendendo a pauta das energias renováveis e limpas, o presidente americano tem consciência de que sua nação será, durante muito tempo, dependente do petróleo ¿ o país consome cerca de um quarto da produção mundial.

Nesse sentido, é conveniente apurar a possibilidade de ter um novo fornecedor. Outros exportadores, como Venezuela e Líbia, não têm o mesmo grau brasileiro de democracia e protagonizam constantes embates políticos com os norte-americanos. O que não está explícito é o tipo de contrapartida que o Planalto demandará de Obama. Alternativas não faltam: os visitantes ainda devem uma solução definitiva para o impasse sobre o algodão ¿ a OMC concedeu ao Brasil o direito de retaliação por conta de subsídios pagos aos produtores ¿, e o etanol nacional encontra barreiras aparentemente intransponíveis no mercado do norte.

Há, também, a opção de cobrar definições relativas à aspiração do Brasil a uma vaga permanente no Conselho de Segurança das Nações Unidas e ao fim da exigência de visto para entrada nos EUA. Os dois temas, no entanto, são tidos como menos aprazíveis à Casa Branca. As intenções do líder estadunidense em sua breve passagem por nossas terras estão sobre a mesa. Cabe a Dilma e equipe provar que, como sugeriu o chanceler Antonio Patriota, o país tem condições de conquistar uma relação de igual para igual.