Título: Partidos travam guerra pelo comando de comissões
Autor: Correia,Karla e Mazzini,Leandro
Fonte: Gazeta Mercantil, 06/02/2009, Brasil, p. A7

6 de Fevereiro de 2009 - Mal começaram as negociações de bastidores entre partidos e a Mesa Diretora da Câmara para lotear as comissões e o presidente da Casa, Michel Temer (PMDB-SP), atuou discretamente para debelar um incêndio às portas do gabinete da liderança do próprio ninho. A briga foi causada pelo mando da Comissão de Constituição e Justiça, a mais importante da Câmara - há dois anos nas mãos do grupo do deputado carioca Eduardo Cunha, aliado muito próximo de Temer.

Numa reunião tensa na liderança, a portas fechadas, na quarta-feira, o deputado Darcísio Perondi (RS), ao saber que Cunha mais uma vez queria indicar o sucessor, levantou a voz e criticou o domínio da bancada carioca na CCJ. Disse que era uma "vergonha" continuar assim. E foi seguido por outros.

Ontem, depois de panos quentes do comando do PMDB, tanto Cunha quanto Perondi se esquivaram do assunto, mas a interferência dos caciques na briga deu resultados. "Dificilmente a CCJ vai ficar com a bancada do Rio", comentou Eduardo Cunha.

Não foi decidido ainda quem herdará a CCJ. Mas O PMDB - que tem, por ser a maior bancada da Casa, direito a três comissões e à escolha da primeira presidência a ser definida - colocou a comissão de Minas e Energia entre suas prioridades.

Somando os recursos do PAC em exploração de petróleo e os investimentos no pré-sal, as duas comissões, na Câmara e no Senado, vão influenciar um setor que, em momento de crise, contará com R$ 263 bilhões adicionais em recursos até 2010. É prioridade do governo manter as duas comissões nas mãos do PT. Mas a comissão de Minas e Energia é foco de disputa entre PT, PMDB, PP e PSDB - que tem especial interesse em manter algum controle sobre os investimentos do governo no pré-sal.

Senado

O armistício instituído no Senado depois do fim da briga entre PDT e PR pela quarta secretaria da Mesa Diretora foi temporário. A próxima semana começa com dois duros embates mal resolvidos entre as legendas pela presidência de comissões permanentes.

Na disputa mais acirrada, os senadores da base governista Valdir Raupp (PMDB-RO) e Ideli Salvatti (PT-SC) se enfrentam pelo comando da poderosa Comissão de Infraestrutura, preciosa no momento em que o governo tenta injetar ânimo e recursos no Plano de Aceleração do Crescimento (PAC) - vitrine política mais importante da ministra da Casa Civil, Dilma Rousseff. O Palácio do Planalto articula para que Ideli ocupe a presidência da comissão e Raupp, a vice. Mas, ciente do poder de fogo amealhado com a conquista da presidência das duas Casas do Parlamento, o PMDB insiste em adicionar a comissão a seu quinhão do Senado Federal.

Cargo visto como de muito prestígio, a Comissão de Relações Exteriores da Casa é alvo de outra pendenga. Responsável pela nomeação de embaixadores e discussão de acordos internacionais nos quais o Brasil toma parte, a comissão é cobiçada pelo senador Fernando Collor (PTB-AL). E, também, pela bancada do PSDB, que pretende emplacar Eduardo Azeredo (MG) como seu presidente. Líder tucano no Senado, Arthur Virgílio (AM) afirma ter os votos do PT, DEM e PDT para apoiar seu candidato.

"Mas eles foram derrotados e agora o jogo é diferente", diz um senador petebista, fazendo referência ao apoio tucano dado à candidatura de Tião Viana (PT-AC).

A declaração dá o tom do que será a disputa.

(Gazeta Mercantil/Caderno A - Pág. 7)(Karla Correia e Leandro Mazzini)