Título: Inadimplência abala risco de recebíveis
Autor: Rosa,Silvia
Fonte: Gazeta Mercantil, 06/02/2009, Finanças, p. B3
São Paulo, 6 de Fevereiro de 2009 - A desaceleração do crescimento econômico na América Latina e a perspectiva de aumento dos índices de inadimplência com a queda da produção e crescimento do desemprego devem ter efeito pesado sobre a qualidade do risco de crédito das emissões na região.
O aumento da aversão ao risco por conta da crise financeira mundial deve provocar um declínio nas emissões de securitização na região em 2009, segundo avaliação da agência de classificação de risco Moody¿s.
Em 2008, as securitizações latino-americanas atingiram US$ 19,5 bilhões, 2% a mais que o registrado em 2007. "As incertezas em relação ao cenário econômico aumentaram, levando os investidores a se tornarem mais cautelosos em relação aos investimentos estruturados, se voltando para ativos mais tradicionais", diz Victoria Moreno, vice-presidente e analista-sênior da Moody¿s e responsável pelo relatório.Victoria destaca que a volatilidade no mercado de capitais aumentou desde outubro de 2008 e deve permanecer este ano, pelo menos durante o primeiro semestre, com os investidores observando as condições do mercado, podendo voltar no segundo semestre, com a melhora do cenário externo. "A falta de liquidez no mercado tem elevado as taxas das emissões, mas os investidores estão mais seletivos, priorizando mais a questão do risco do que o rendimento."
Com 38,4% do mercado latino-americano, o Brasil registrou um aumento de 3% nas emissões em 2008, que somaram US$ 11,1 bilhões. A Moody¿s espera que em 2009 o volume de emissões seja menor ou igual ao registrado em 2008. A agência prevê queda também nas emissões externas, que registraram recuo de 15% em 2008 em relação a 2007, somando US$ 2,79 bilhões. As transações de remessas brasileiras responderam por 81% desse total, somando US$ 2,29 bilhões, mais que o dobro do registrado em 2007, de US$ 1,1 bilhão.
O aumento da inadimplência no financiamento de veículos deve impactar as carteiras de FIDCs lastreadas nesses recebíveis. Os empréstimos dessa modalidade com atrasos superior a 90 dias alcançou o mais alto nível em dezembro de 2008 nos últimos oito anos, passando de 4,1% em novembro para 4,3%.
Na semana passada, a Fitch Ratings revisou o rating para as classificações nacionais de longo prazo de emissões de cotas lastreados em direitos creditórios de financiamento de veículos dos FIDCs do Panamericano Veículos I, cujas cotas-seniores foram rebaixadas de AA para AA- , e as cotas subordinadas caíram de BBB+ para BBB. A agência de classificação de risco ainda manteve em perspectiva negativa as cotas dos FIDCs emitidos pela Omni, Credibel e Banco BMG. "A reavaliação deve-se ao aumento da inadimplência verificada em algumas carteiras, que deverá resultar em níveis de perda superiores às bases históricas de desempenho e expectativas iniciais da Fitch quando da atribuição dos ratings a estas transações" , afirma Jayme Bartling, diretor-sênior de operações estruturadas da Fitch.
Ele destaca, no entanto, que antes mesmos de as perdas atingirem as cotas seniores, que são distribuídas aos investidores, os bancos têm recomprado os créditos inadimplentes da carteira do fundo, e susbtituindo por ativos com risco melhor. "A preocupação é: Será que o fundo conseguiria manter o desempenho caso não houvesse a recompra voluntária das carteiras?", questiona.
A perspectiva do aumento dos níveis de inadimplência nessas carteiras tem levado alguns bancos a aumentarem a participação das cotas subordinadas nos FIDCs - que pertencem ao cedente dos recebíveis e absorvem primeiro as perdas em caso de inadimplência - para manter o perfil de risco adequado do fundo.. A subordinação do FIDC Omni CDC Veículos III foi elevada de 20% para 25%; a do FIDC Omni CDC Veículos IV, de 15,3% para 20,3%; e a do FIDC Omni CDC Veículos V, de 19% para 24%.
O analista de operações estruturadas da Standard & Poor¿s, Jean-Pierre Cote Gil, vê com maior preocupação as carteiras de financiamento que trabalham com clientes de renda menor, ou valor de empréstimo maior que o do veículo adquirido, principalmente nas linhas para aquisição de carros usados, além daquelas voltadas para pequenas e médias empresas, que enfrentam maior dificuldade para obter crédito.
CRIs
O aumento dos níveis de inadimplência e deterioração do risco de crédito das também vem afetando a emissão de Cetificados de Recebíveis Imobiliários (CRI).
Na sexta-feira passada, a Fitch Ratings rebaixou as classificações nacionais de longo prazo das emissões de CRIs da WTorre Securitizadora de Créditos Imobiliários e da WTorre TSSP Securitizadora de Créditos Imobiliário.
Segundo relatório da Fitch, o rebaixamento se deve a recentes impactos na qualidade de crédito da Estok Comércio e Representações (Tok&Stok), a única fonte pagadora dos aluguéis que lastreiam ambos os CRIs, que deverá enfrentar uma potencial perda relacionada a operações contratadas com derivativos cambiais.
(Gazeta Mercantil/Finanças & Mercados - Pág. 3)(Silvia Rosa)