Título: BC injetou US$ 61 bi para segurar câmbio
Autor: Aliski,Ayr
Fonte: Gazeta Mercantil, 10/02/2009, Finanças, p. B1

Brasília, 10 de Fevereiro de 2009 - As intervenções do Banco Central, na tentativa de "segurar" a alta do câmbio, já somaram US$ 61 bilhões desde setembro de 2008. Desse total, US$ 14,3 bilhões foram aplicados em vendas de dólares no mercado à vista, atingindo as reservas internacionais. Os US$ 46,7 bilhões restantes referem-se a operações que não geram impactos sobre as reservas: US$ 7,4 bilhões foram liberados ao mercado em leilões de dólares com obrigação de recompra; US$ 6 bilhões em leilões para dar crédito ao comércio exterior e mais US$ 33,3 bilhões em operações de swap cambial (que funciona como uma injeção temporária de dólares no mercado).

Os números foram apresentados ontem pelo presidente do Banco Central, Henrique Meirelles, em Brasília. No mercado interno, destacou, a estratégia para resolver o problema do enxugamento de crédito foi utilizar os depósitos compulsórios, ação que já liberou R$ 99,2 bilhões até o final do mês passado. Antes da chegada da crise, os compulsórios somavam R$ 259,4 bilhões. "O Brasil não precisou usar recursos públicos para injetar liquidez no mercado", disse ele.

Antes da crise, a oferta de crédito no mercado brasileiro era de US$ 757 bilhões. As linhas que mais sofreram restrições foram as de crédito doméstico com funding externo (US$ 47 bilhões) e a de crédito externo direto (US$ 90 bilhões). O crédito doméstico com recursos externos, que havia chegado a US$ 47 bilhões em junho de 2008, caiu para US$ 38,7 bilhões em dezembro.

Foi para suprir o enxugamento de crédito em moeda estrangeira que o BC lançou instrumentos com o uso das reservas. Ainda no ano passado foram lançados os empréstimos para financiar Adiantamentos de Contratos de Câmbio (ACCs). Com o mesmo objetivo, o BC começa a liberar no próximo dia 27 recursos das reservas para ajudar empresas brasileiras com dívidas no exterior, onde deve aplicar US$ 36 bilhões. A operação vai contar com a intermediação de bancos comerciais. "Na atual etapa, estamos substituindo crédito internacional. A segunda etapa é que, com a normalização, o preço do crédito caia."

Meirelles insistiu que a situação do crédito no País está voltando à normalidade. Ainda assim, os dados apresentados ontem mostraram um quadro de fracas operações. A média diária de contratações de ACCs foi de US$ 111 milhões no período entre 19 e 23 de janeiro. Na semana entre 15 e 19 de setembro, ou seja, data da quebra do Lehman Brothers, que marca a piora da crise financeira internacional, a média de ACCs foi de US$ 186 milhões. No mercado interno, as concessões do crédito livre de janeiro estão repetindo o período inicial da crise, em setembro. Considerando o índice 100 como referência para as concessões diárias em setembro, o início de janeiro registrou patamar de 101,1, conforme dados apresentados pelo presidente do BC.

Ficou claro que o atual momento é das instituições financeiras oficiais. Os bancos públicos aumentaram em 12,9% o saldo das operações de crédito entre setembro e dezembro, enquanto os bancos estrangeiros ampliaram em 4,5%, e os bancos privados nacionais, apenas 2,5%. "Os bancos públicos estão liderando a recuperação do crédito", disse.

Apesar das intervenções diretas no mercado de câmbio, o total das reservas fechou janeiro na marca de US$ 200,8 bilhões. Em agosto, antes do início da crise, as reservas eram de aproximadamente US$ 205 bilhões. As operações de empréstimo inclusive "engordam" as reservas, gerando remuneração adicional. Além disso, em agosto do ano passado o BC tinha posição de US$ 21,9 bilhões em swap reverso, o que conta como uma "posição comprada" de moeda estrangeira no mercado futuro. A apresentação de Meirelles foi realizada durante a abertura do IV Encontro de Lideranças realizado pelo Conselho Federal de Engenharia, Arquitetura e Agronomia (Confea) e Conselhos Regionais do setor (Crea). O presidente do BC destacou que falta pouco para o pacote de incentivo à construção civil ser anunciado. "Há medidas que já estão sendo estudadas especificamente para essa área", afirmou o presidente do BC. "Não podemos ser excessivamente defensivos", disse, argumentando que essa é uma atitude perigosa, podendo "exacerbar os problemas".(Gazeta Mercantil/Finanças & Mercados - Pág. 1)(Ayr Aliski)