Título: Redução da Selic ameaça resultado financeiro das empresas de seguros
Autor: Máximo,Luciano
Fonte: Gazeta Mercantil, 10/02/2009, Finanças, p. B2

São Paulo, 10 de Fevereiro de 2009 - Com interferência direta nos rumos da atividade econômica e, logo, nos padrões de consumo de produtos de seguros, a crise agora bate à porta dos departamentos financeiros das seguradoras brasileiras. A decisão do Comitê de Política Monetária (Copom) do Banco Central (BC) de baixar a taxa básica de juros em um ponto percentual, para 12,75% ao ano, e acenar com outros cortes ao longo de 2009 consuma a redução da rentabilidade de grande parte dos investimentos das reservas técnicas dessas empresas.

Sem a perspectiva de ganhos financeiros extraordinários por conta da flexibilização da Selic, que apenas há três anos oferecia retorno perto de 20% ao ano, os gestores de recursos das seguradoras estão adotando uma postura cada vez mais cautelosa e pressionando outras áreas para reduzir despesas e aumentar a produ-tividade com o objetivo de compensar eventuais perdas de receita financeira, já que títulos de renda fixa e papéis do governo remunerados pela taxa básica pouco a pouco perdem o apelo.

Outra forma de compensação é arriscar incursões, sempre no limite da legislação (de cerca de 20%), no mercado de capitais. Há ainda discussões embrionárias, incentivadas por bancos estrangeiros presentes no País, no sentido de obter permissão das autoridades reguladoras para que seguradoras comecem a realizar investimentos no exterior.

Na ponta dos dedos

Marcelo Picanço, diretor da área financeira da Porto Seguro, acredita que a redução do retorno financeiro em aplicações tradicionalmente escolhidas pelas seguradoras deverá incentivar movimentos mais arrojados. "Assim como ficamos acostumados à cultura dos cento e poucos por cento de retorno do CDI, a queda dos juros forçará o mercado a criar um novo comportamento", opina. Para o executivo, as aplicações em ações podem voltar à voga, apesar das incertezas da crise internacional. "É fato que tem mais risco pela volatilidade natural do mercado de capitais, porém no médio e longo prazos a média do resultado tenderá a ser maior. Acontece que em tempos de crise a gente olha muito o curtíssimo prazo, mas com a taxa de juros bem menor vamos encontrar empresas na vanguarda, mirando seus portfólios em ativos de maior risco", comenta Picanço.

Para fazer parte do time da vanguarda, diz o diretor da Porto, os profissionais terão que agir com cautela. "Como dizem na linguagem da Fórmula 1, os profissionais da área de investimentos das seguradoras terão que dirigir com as pontas dos dedos."

Ele admite que a Porto Seguro poderá ampliar a exposição de suas reservas às intempéries da bolsa de valores. "Em 2006, conseguimos 113% do CDI; 2007 foi 116%. Dificilmente vamos conseguir repetir isso com a Selic perdendo até três pontos no fim do ano. A Porto está mais conservadora do que já foi. Chegamos a ter 8% em ações, hoje estamos em 2%. Temos tendência de estar do lado arrojado, estamos avaliando e podemos aumentar o arrojo", conta Picanço, lembrando que no período pré-crise seguradoras estrangeiras chegaram a contabilizar 30%, 40% das reservas aplicadas no mercado financeiro.

Acacio Queiroz, presidente da Chubb, já traçou a estratégia para 2009. A empresa não vai arriscar; a diretriz é cortar despesas. "Para manter o retorno sobre os meus investimentos o que eu tenho que fazer é aumentar minha produtividade, reduzindo despesas administrativas", diz. O executivo argumenta também que uma saída para minimizar as perdas de receita financeira está no preço. "A outra ponta é aumento do preço; acontece que o mercado não tem espaço para isso agora, a não ser para riscos que mudaram de perfil por causa da crise financeira." O executivo cita o seguro D&O, que protege diretores de empresas que enfrentaram problemas, e o seguro de crédito, cuja principal cobertura é garantir calotes de fornecedores e clientes; o primeiro registrou reajuste de até 40% em 2008, enquanto os prêmios do segundo chegaram a dobrar para alguns setores.

Queiroz estima que a perda financeira por conta da redução da Selic será de cerca de 20%. "Se a Selic fechar o ano em 10,75%, como o mercado acredita, consequentemente vamos ter redução de cerca de 20% na receita financeira das empresas. Estamos falando de matemática linear, grande parte do lucro está calcaldo no resultado financeiro", complementa.

Já para o vice-presidente financeiro e jurídico da SulAmérica, Sérgio Borriello, o impacto será de cerca de 5%. "Nosso nível de liquidez é alto em função da retenção de reservas para o pagamento de sinistros futuros. Nossos investimentos hoje têm relação com índices inflacionários e ao próprio CDI."

(Gazeta Mercantil/Finanças & Mercados - Pág. 2)(Luciano Máximo)