Título: Aceleração do IPCA não altera projeção de queda da Selic
Autor: Saito,Ana Carolina
Fonte: Gazeta Mercantil, 09/02/2009, Brasil, p. A5

São Paulo, 9 de Fevereiro de 2009 - Após dois meses consecutivos de recuo, a inflação voltou a subir em janeiro, com sinais de repasses da alta do dólar em alguns produtos. No entanto, apesar de no mês passado ter superado a taxa de 0,28% de dezembro e as projeções do mercado, a alta de 0,48% do Índice de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA) não deve alterar a trajetória de inflação e a política de corte da taxa básica de juros ao longo do ano, diante do cenário de retração da atividade econômica.

Em 12 meses, o indicador acumula, até janeiro, alta de 5,84%, o que representa desaceleração ante 5,90% no ano passado. E a tendência, segundo projeções de economistas, é de que a taxa se aproxime do centro de meta estabelecida pelo governo, de 4,5%, em 2009.

Elevações de preços localizadas e sazonais pressionaram o IPCA de janeiro, embora todos os grupos, com exceção de vestuários, tenham apresentado altas mais expressivas. A principal contribuição partiu de alimentação e bebidas, que passou de uma alta de 0,36% para 0,75%, influenciada por fatores como safra e clima. Além disso, habitação também registrou aceleração de 0,28% para 0,49%, devido aos custos mais elevados com condomínio e aluguel. "A maior pressão é sazonal", diz o economista da LCA Consultores Fábio Romão.

As pressões devem continuar no primeiro trimestre. No período, a inflação acumulada deve ficar em 1,5%, em linha com o padrão histórico, diz Romão. No segundo trimestre, a previsão é que a taxa recue para 0,9%. Com altas de 1,1% e 1,2% nos dois trimestre seguintes, o IPCA encerraria o ano em 4,8%. "O indicador de janeiro veio acima das expectativas, mas não é motivo para fazer um carnaval", diz o economista, que mantém a aposta de corte de um ponto percentual na Selic em março.

Francis H. Kinder, da Rosenberg & Associados, também espera uma redução de um ponto nos juros. "Mesmo com dados um pouco piores de inflação, não há motivos de preocupação; são questões sazonais", diz. Para Kinder, a queda do nível de atividade deve pesar mais na decisão do Banco Central. A Rosenberg reduziu a previsão de expansão da economia em 2009, de 1,5% para 0,8%, após a divulgação da queda de 12% na produção industrial em dezembro. Nesse cenário, espera que o IPCA do ano fique no centro da meta.

O economista-chefe da Concórdia Corretora Elson Teles segue o mesmo raciocínio. "O BC vai cortar os juros porque a maior preocupação é mitigar os efeitos da crise sobre a atividade doméstica." Ele pondera, entretanto, que o dado de janeiro mostra que a "inflação não está morta". Segundo Teles, sem a redução do Imposto sobre Produtos Industrializados (IPI) na compra de automóveis, o IPCA encerraria janeiro com elevação de 0,60%. No mês passado, os preços de veículos novos caíram 3,15% e dos usados, 3,27%. "Quando terminar essa isenção (em março), deve haver pressão", afirma.

O economista alerta ainda para os repasses da alta do dólar, que já aparecem em alguns itens. Em janeiro, os eletrodomésticos ficaram 0,77% mais caros, após estabilidade em, dezembro (0,01%). TV e som, que registravam queda, apresentaram alta de 0,48%.

"O dólar pode ser um fator de pressão de preços. Em um primeiro momento, não houve repasses com a desaceleração da economia, mas isso pode mudar ao longo do ano", concorda analista da Guedes & Pinheiro, José Ricardo Bernardo. Para o economista, a alta pode desencorajar um novo corte de 1 ponto na Selic. "Tenho receio que haja um recuo do BC, embora acredite que temos ainda espaço para cortes mais agressivos. Há uma deterioração da atividade econômica. Minha expectativa é de um corte de 0,75%."

(Gazeta Mercantil/Caderno A - Pág. 5)(Ana Carolina Saito)